Direitos?! A sério que querem mesmo falar disso?
1 – Nunca, como agora, a Constituição foi tão citada. Nomeadamente aquela parte do “todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar”. Cambada de ignorantes, os portugueses. Se têm direito por que raio andam trinta ou quarenta anos a pagar uma casa? É o que dá não conhecer as leis, seus totós.
2 – Mas vamos por partes. O que é uma “habitação de dimensão adequada” para uma família comum? Daquelas com pai, mãe, filho, filha, cão e gato. Sem grande esforço parece-me licito concluir que terá de ser um alojamento com, pelo menos, três quartos e um pequeno logradouro para os patudinhos esticarem as suas patinhas peludas. Uma vivenda, portanto, pois também só assim se cumpriria aquela parte da privacidade e da intimidade. Sim, que não ouvir gaiatos aos berros, cães a ladrar e vizinhos a discutir afigura-se-me como um dos mais elementares direitos de qualquer um. No centro da cidade, que é isso que a malta reivindica, complementado por um serviço de limpeza prestado pelo Estado, de maneira a assegurar o direito às “condições de higiene”.
3 – Uma parte muito significativa dos proprietários de imóveis arrendados são reformados. Um número que, num futuro não muito distante, crescerá exponencialmente. Pessoas que fizeram sacrifícios para comprar as suas casas – ou as herdaram de quem também os fez – e que completam a pensão com o rendimento que obtém do arrendamento. Gente que não fez férias instagramáveis, que poucas sextas-feiras terá ido refeiçoar fora de casa e por quem os urbano-depressivos esquerdalhos, a quem a comunicação social dá voz, nutrem um profundo desprezo. Quase tão grande como aquele que o país real tem por eles.