A intolerância dos tolerantes
Aprecio esta onda de tolerância a tudo e mais alguma coisa. Deliciam-me, também, todos os outros conceitos muito em moda que envolvem aceitar todo o tipo de comportamentos, ideais de vida, maneira de pensar e sei lá mais o quê. Dá gosto ver como, seja nas televisões ou redes sociais, as pessoas não hesitam em declarar que cada um vive como quer, fornica com quem lhe apetecer e, em suma, faz as opções que lhe der na realíssima gana.
Isto desde que, está bem de ver, se concorde com a ordem vigente. Quem ousar divergir do pensamento único em vigor está feito. Alguém que se atreva a considerar esquisito que uns fulanos apreciem ter coisas enfiadas no intestino está lixado. Ninguém manifestará tolerância perante a sua opinião. Ou, algo menos radical, quem se atrever a demonstrar alguma simpatia – ainda que pouca – pelo antigo primeiro ministro Passos Coelho, além de vexado, verá de imediato a sua opinião ridicularizada e dificilmente escapará a um julgamento sumário acerca das suas opções políticas.
Até mesmo naquelas coisas mais insignificantes há que estar alinhado com a doutrina do momento. A questão dos animais, por exemplo. Atrevam-se a discordar da paranoia reinante e depois admirem-se que algum amiguinho dos ditos lhes queira fazer a folha. Tudo isto – e o resto – em nome da tolerância.