A perua como forma de reconhecimento
Ainda sou do tempo em que, para cair nas boas graças de alguém ou como forma de reconhecimento, as pessoas ofereciam géneros de diversa ordem a quem lhes tinham feito alguma espécie de favor ou àqueles de quem esperavam obter algum tipo de favorecimento. Fosse a um médico, político, professor ou, até, um amanuense qualquer.
Como foi o caso, já lá devem ir uns bons trinta anos, de umas quantas senhoras que, gratas por o presidente da Câmara lhes ter arranjado emprego, decidiram ofertar uma perua ao filantropo autarca de então. O pior é que o bicho, pouco disposto a ser o actor principal da cerimónia de agradecimento, resolveu fugir. Claro que as tentativas de captura da ave transformaram a pacatez da praça principal da cidade num pandemónio e divertiram quem assistia ao espalhafato.
Para além da risota que provocou, a fuga da perua teve a inequívoca vantagem de tornar a oferenda do domínio público. Foi assim a modos que um acto de “transparência” involuntária. Embora isso, para a época, nem fosse necessário dada a naturalidade com que estas coisas eram aceites. Hoje não será assim. O que, de certa forma, é uma pena. Porque as “prendas” foram substituídas pela subserviência e isso é, manifestamente, pior. Muito pior.