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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

A perua como forma de reconhecimento

Kruzes Kanhoto, 07.11.17

Ainda sou do tempo em que, para cair nas boas graças de alguém ou como forma de reconhecimento, as pessoas ofereciam géneros de diversa ordem a quem lhes tinham feito alguma espécie de favor ou àqueles de quem esperavam obter algum tipo de favorecimento. Fosse a um médico, político, professor ou, até, um amanuense qualquer.

Como foi o caso, já lá devem ir uns bons trinta anos, de umas quantas senhoras que, gratas por o presidente da Câmara lhes ter arranjado emprego, decidiram ofertar uma perua ao filantropo autarca de então. O pior é que o bicho, pouco disposto a ser o actor principal da cerimónia de agradecimento, resolveu fugir. Claro que as tentativas de captura da ave transformaram a pacatez da praça principal da cidade num pandemónio e divertiram quem assistia ao espalhafato.

Para além da risota que provocou, a fuga da perua teve a inequívoca vantagem de tornar a oferenda do domínio público. Foi assim a modos que um acto de “transparência” involuntária. Embora isso, para a época, nem fosse necessário dada a naturalidade com que estas coisas eram aceites. Hoje não será assim. O que, de certa forma, é uma pena. Porque as “prendas” foram substituídas pela subserviência e isso é, manifestamente, pior. Muito pior.