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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Maior a prenda do que a chaminé

Kruzes Kanhoto, 25.12.24

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Já todos tivemos, numa ou noutra situação, motivos para nos queixarmos da entrega de algum item que tenhamos comprado. Faz parte daquelas inevitabilidades a que não podemos escapar. Tal como a morte, os impostos ou Sporting mudar de treinador por alturas do Natal. Neste caso – ainda que pouco provável - pode ter sido o tipo da transportadora que, num inusitado gesto de boa vontade natalícia, deixou a encomenda no local onde o cliente lhe terá pedido. No entanto, estando a embalagem onde está, admito que a ocorrência se deva à pouca habilidade para o desempenho da função por parte de um Pai Natal estagiário que perdeu o objecto quando sobrevoou a área. Parece-me o mais verossímil. Até porque, como todos sabemos, seja qual for a circunstância a culpa é sempre do estagiário. Ou então - vá, também admito - ficou no telhado por não caber na chaminé.

Saudinha

Kruzes Kanhoto, 18.12.24

Hoje, por culpa da actualização das comparticipações, a ADSE voltou a ser noticia. Coisa que, como sempre, suscitou a eterna discussão acerca dos privilégios dos seus utentes e da alegada discriminação de que se sentem vitimas todos os outros. Cada um sabe de si. Por mim sei é que a maioria dos jovens que entram para a função pública, nomeadamente os que auferem um vencimento um pouco melhor, não se inscrevem nesse subsistema de saúde. Eles lá saberão porquê. Mesmo quem opta por se inscrever, tirará algum partido das consultas, próteses ou meios auxiliares de diagnóstico. No resto, caso tenha uma daquelas chatices mesmo chatas, ou tem dinheiro – e muito - para se “chegar à frente” ou terá de ir para o SNS como qualquer outro comum dos mortais que não foi ungido pela sorte de ser funcionário público. Não há, nessas circunstâncias, ADSE que lhe valha.

Outra vantagem muito apreciada deste sistema são os chamados convencionados. Por uma consulta de especialidade pagava-se, da última vez que recorri a uma, cinco ou seis euros. Ou sou eu que tenho azar ou não vale a pena. Numa, de oftalmologia, não demorei mais de cinco minutos. Tempo suficiente para fazer a graduação e o médico passar a receita. Noutra, perante a manifesta vontade do jovem médico me despachar, tratei de descrever exaustiva e repetidamente os meus sintomas, aproveitando inclusivamente para nomear outras maleitas passadas e questionar sobre ligações entre elas que até a mim pareciam absurdas. Foi com muito esforço que consegui permanecer no consultório dez minutos mal contados. Apenas, acho eu, porque o rapazola teve alguma consideração por eu ter idade para ser pai dele. Claro que, em ambos os casos, acabei por consultar outro clínico e, desde aí, consulta dessa natureza apenas se conhecer o médico ou me for recomendado por quem o conheça.

Ladroagem altruista

Kruzes Kanhoto, 20.11.24

Para muita gente todos os problemas se resolvem com impostos. Especialmente se o âmbito da tributação não os afectar. Desde que calhe a outros pagar o seu bem-estar, vivem num mundo – ou país, no caso – do mais perfeito que há. Daí que todos os anos, por altura da discussão do orçamento do Estado, surjam ideias até mais não para tornar tudo e mais alguma coisa inteiramente grátis e atribuir subsídios a tudo e a todos. A todos é como quem diz, aos potenciais eleitores que podem ficar felizes com a benesse generosamente atribuída com o dinheiro de outros tantos infelizes que a terão de pagar. Isto porque o Estado não gera riqueza, não tem recursos próprios e para ser generoso para com uns tem de saquear outros. O OE do próximo ano não vai fugir à regra. Esperem-lhe pela pancada. Ao que se anuncia, para além de todas as que já foram magnanimamente distribuídas pelo governo, o bodo aos pobres irá continuar a bom ritmo. Mas, há que reconhecer, é disto que o povo gosta. Depois não se queixem da inoperacionalidade de quase tudo o que são serviços públicos nem dos impostos, taxas, taxinhas e outros tributos que têm de pagar. Só por respirar, quase.

Sujidadezinha da boa...

Kruzes Kanhoto, 07.07.24

Quando era gaiato gostava, tal como a restante gaiatagem, de chapinhar nas poças de água. Para além de molhados ficávamos com a fatiota salpicada de lama. Coisa que colocava as respectivas mães à beira de um ataque de nervos, face à escassez de indumentárias alternativas e que, não raras vezes, levava a que nos chegassem a roupa ao pêlo como forma de castigo e de dissuasão desta prática.

As crianças de hoje, acho eu, não se dedicam as estas actividades. Ou poucas terão, sequer, oportunidade para tal. Em contrapartida os adultos até pagam para se sujarem. A infantilização da sociedade leva a estas idiotices. Por mim, estou como dizia a minha avó, cada um diverte-se como quer e pode. Mesmo aquelas velhas que, no tempo em que eram novas, malhavam os filhos quando apareciam a casa com a roupa suja por divertirem a pular na lama e que agora acham o máximo ficarem, elas próprias, todas borradas por pozinhos coloridos. Ou outras não tão velhas que igualmente apreciam essas “corridas coloridas”, mas que se indignam muito com o pó provocado pelo vizinho que precisa de cortar uns azulejos para as obras que tem em casa.

Continuar a ser criança aos vinte, quarenta ou setenta anos é uma forma de vida muito legitima. Que muitas autarquias do país, com o dinheiro dos contribuintes, proporcionem aos seus eleitores essa oportunidade, também. Não tem mal nenhum. É para o lado que durmo melhor. E eu durmo igualmente bem para todos os outros. Mas também é legitimo que ache estas cenas uma realíssima parvoíce. Tenho, legitimamente, esse direito.

Habitação: Um negócio sem risco... para o Estado.

Kruzes Kanhoto, 07.02.24

Nisto da habitação não há soluções fáceis. Se houvesse, há muito que tinham sido encontradas em países onde o problema é idêntico e a capacidade para resolver situações difíceis é muito maior. Daí que, para disfarçar, a oposição de hoje culpe os governantes actuais e demais partidos que os têm sustentado no poder, e estes atribuam a responsabilidade a quem os antecedeu. Mesmo que uns já lá estejam há oito anos – vai para nove – e os outros de lá tenham saído há igual período.

Há quem insista pretender em baixar o preço das casas por decreto, seja na venda ou no arrendamento. Esqueçam lá isso. Não resulta. Se outra razão não houver, setenta por cento da população ser proprietária de imóveis parece-me constituir motivo mais do que suficiente para augurar um futuro pouco risonho a quem tente concretizar tamanho disparate. Os teóricos da intervenção do Estado nos bens dos outros, que experimentem fazer obras de recuperação num imóvel de que sejam donos. De outra maneira nunca entenderão. É que isto é muito fácil falar dos preços especulativos das rendas, mas ninguém se lembra do custo não menos especulativo da mão-de-obra, dos materiais, das taxinhas, dos projectos e de um sem número de despesas que envolvem uma obra. Como se isso não fosse suficiente, no final, ainda aparece o Estado. Torna-se sócio no negócio, ao "abotoar-se" com quase um terço do rendimento gerado, sem que para além de atrapalhar tenha feito algo de útil ou investido um cêntimo.

Beneficiar o infrator

Kruzes Kanhoto, 25.01.24

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Por que carga de água é que a posse – ou a tutoria, vá – de animais de estimação dá direito a benefícios fiscais?! Nomeadamente no IRS. Além de alimentação dos bichos, se adquirida através de associações protectoras da bicharada, beneficiar de isenção de iva. Deve ser para depois fazerem – os donos, que a canzoada não tem culpa – javardices destas à porta dos outros. Que, lamentavelmente, ficam sempre impunes. Numa altura em que – e bem - se quantificam as despesas que decorreriam do aumento das pensões, da redução dos impostos sobre o trabalho e de outras medidas destinadas às pessoas ignoram-se todos os custos derivados da alucinação colectiva pelos animais de estimação. O que é pena. Pois se alguém um dia fizer as contas aos “investimentos” das autarquias em parques caninos, taxas de registo e licenciamento não pagas, benefícios fiscais e custos ambientais associados à inusitada proliferação desta bicheza nos centros urbanos terá uma desagradável surpresa.

Se calhar sou só eu que reparo nestas coisas, mas é impressão minha ou são apenas os cidadãos “brancos” que são afectados por esta maluqueira da adoração pelos animais? É que nunca vi um negro ou um asiático a passear um cão…

Ide mas é pinar, ou isso.

Kruzes Kanhoto, 24.10.23

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Malucas. O meu bairro está cheio de malucas. Não sei que outro nome dê às gajas – sim, que esta maluqueira pelos animais afecta principalmente as gajas – que alimentam os gatos vadios que por aqui vão aparecendo. Não tenho nada contra que aquelas fulanas matem a fome ao bicho. Podiam – e deviam – era fazer isso no recôndito do seu lar. Aí não incomodavam ninguém nem eu lhes chamava nomes. Alimentá-los na rua leva a que os bichanos vagueiem pelas imediações e, como lhes fica mesmo à mão, vão tratar de aliviar a tripa ao meu quintal. O que é uma coisa que me aborrece. Não gosto, estou farto de recolher merda de gato e,  principalmente, não tenho de aturar as consequências dos comportamentos desviantes daquelas senhoras. Podiam, já que pelos vistos lhes sobra tempo, fazer outras cenas menos incomodativas. Ir dar pinotes para a academia sénior, ou isso.

De ir às lágrimas...

Kruzes Kanhoto, 19.08.23

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1 – Pois tem. O cultivo da cebola e de tudo o resto. Desde que deixou de ser necessário trabalhar para angariar o sustento e o Estado passou a garantir a subsistência de toda a gente, cultivar seja o que fôr deixou de ser uma actividade interessante do ponto de vista económico. Pelo menos enquanto metade dos portugueses conseguirem alimentar a outra metade.

2 – A discussão sobre os impostos, nomeadamente o IRS, não suscita o interesse da opinião pública. Grande parte não paga e entre os pagantes a maioria não percebe patavina do assunto. Há também os idiotas úteis. Aqueles que garantem que reduzir os impostos colocaria em causa o estado social. Um argumento tão estúpido e risível que até eles desmontam quando repetem vezes sem conta que Passos Coelho foi o autor da maior subida de impostos de todo o sempre e, também, o carrasco do estado social.

3 – Há, ainda, os que reiteradamente enchem a boca com os “mais vulneráveis” que pouco, ou nada, beneficiam de uma redução do IRS. Para esses já nem tenho paciência. Quando, por causa do esbulho fiscal, a esmagadora maioria dos jovens qualificados emigrarem, a economia paralela cresça desmesuradamente e mais gente ponha o dinheiro ao largo talvez percebam que os seus queridos “vulneráveis” sempre ganham alguma coisa se os que contribuem para manter a sua vidinha de vulnerável pagarem  menos.

Então quem mais há-de pagar a ADSE?!

Kruzes Kanhoto, 11.07.23

“É injusto que sejam apenas os beneficiários a suportar a ADSE”, proclama um conhecido economista ligado ao PCP, muito apreciado entre a camaradagem e, julgo, com um cargo qualquer naquele Instituto. Sou beneficiário da ADSE e em muitas ocasiões aqui e noutros sítios me insurgi contra discursos que, para além de uma inveja completamente despropositada, apenas revelam desconhecimento do que é hoje e como funciona aquele organismo. Mas opiniões destas não têm defesa possível. Obviamente que faz todo o sentido que sejam os utilizadores a suportar aquilo. O que não faz sentido nenhum é existirem muitos beneficiários isentos de contribuição. Igualmente inconcebível é a impossibilidade do valor descontado no vencimento ser deduzido no IRS, à semelhança do que acontece com os seguros de saúde. E, por mais que alguns não percebam, é isso que é a ADSE. Um seguro de saúde, caro e fraquinho.

Mulheres de armas

Kruzes Kanhoto, 21.06.23

Sou do tempo em que eram raras as mulheres em cargos governativos. Tão poucas que havia quem jurasse por todos os santinhos – nomeadamente Marx, Lenine e outros – que se as mulheres mandassem no mundo existiriam muito menos guerras. Para os mais optimistas – ou feministas, dependendo do ponto de vista – quiçá até acabassem as querelas a envolver meios bélicos e a paz reinasse no mundo. Nunca, como agora, existiram tantas mulheres no poder. Bastantes, por acaso ou não, no cargo de ministras da Defesa. As guerras, no entanto, são mais que muitas. Será apenas coincidência, que não sou gajo muito dado a teorias da conspiração. A única teoria que cai por terra é a dos visionários cheios de certezas quanto ao pacifismo feminino e à capacidade das mulheres em resolver as divergências através do diálogo.