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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

O estado a que isto chegou

Kruzes Kanhoto, 18.02.25

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Pouco me incomoda que as minhas opiniões não sejam populares ou difiram daquilo que é geralmente aceite. Não será por isso que as vou mudar. Até porque a realidade, em muitas circunstâncias, acaba por confirmar que estou certo. Noutras não, mas isso faz parte da vida.

Andei durante anos, aqui pelos blogs e noutros locais, a lamentar a desgraça que os fundos comunitários constituíam para o país. O conceito de gastar dinheiro naquilo que calhasse, para obter financiamento da União Europeia, estava instituído e não havia ninguém que não considerasse um negócio excelente esturrar cem para ir “sacar” oitenta a Bruxelas. Nem que fosse para construir um parque de campismo, onde não consta que algum turista tivesse armado barraca, ou uns repuxos manhosos que, dado o incomodo que causavam, nem uma semana estiveram ligados.

Nos dias de hoje penso o mesmo do estado social. É a nossa desgraça colectiva do presente e do futuro. Esta moda de dar tudo a uma parte da sociedade à custa da outra está, para além de criar fraturas sociais, a levar-nos à falência financeira e, também, social. O problema da habitação é disso um exemplo. Casos como o daquela inquilina que não paga renda há dois anos, vive do RSI e a quem a justiça não permite despejar por causa do cão explicam de forma tão simples que até uma criança de seis anos percebe por que razão muita gente prefere ter os imóveis fechados a colocá-los no mercado de arrendamento. E nem precisa de um desenho. A chatice, para a desgraçada da criança, é que vai ter muito que desenhar quando, no futuro, tiver de explicar aos pais e restante família a razão porque o tal estado social teve de ser extinto ou, com sorte, reduzido à insignificância.

Estimular o sitio errado nunca resulta...

Kruzes Kanhoto, 27.01.25

Nisto da habitação o PCP tem alguma razão. Se existem setecentas mil casas devolutas no país não há necessidade nenhuma de construir mais. Até porque, muito provavelmente, existirão outras tantas em ruínas que não entrarão para estas contas. O que nos trouxe até aqui está mais que identificado. E, entre todas as causas, não estão a especulação, o mercado, a propriedade privada, a liberdade de cada um dispor como muito bem entende daquilo que é sua propriedade e tudo o mais que os comunistas odeiam. As causas são outras. Uma delas – quase diria a principal, mas não sendo especialista na especialidade não me atrevo a tanto – é aquela ideia peregrina, que ocorre a todos os governos desde que me lembro, de promover apoios à procura em vez de o fazer ao lado da oferta. Num mercado escasso como este o resultado só podia ser o que está à vista.

No âmbito da oferta, nos últimos anos, houve apenas uma tímida diminuição da carga fiscal sobre as rendas. Ainda assim longe de reverter o que foi o aumento exponencial da taxa liberatória sobre o arrendamento. Hoje é de 25%, ou seja um trimestre de rendas por ano são para o Estado, enquanto em 2010, por exemplo, essa taxa situava-se nos 15%. Se a isso juntarmos os custos de contexto – o salário mínimo duplicou e os materiais nem se fala – e acrescentarmos a impunidade de que gozam os inquilinos incumpridores temos razões mais do que suficientes para muita gente preferir ter as casas vazias. Por demagogia, populismo ou o que mais calhar ninguém tem coragem de mexer a sério nestes aspectos. Não ia cair bem junto do eleitorado que é, por norma, invejoso...Então depois não se queixem.

Casas de batota

Kruzes Kanhoto, 05.12.24

Para além dos incontáveis boys, as juventudes partidárias já deram grandes lideres aos respectivos partidos e, mesmo sem chegar a cargos de especial importância, muitos políticos que se distinguem da mediocridade vigente. Outros nem por isso.

Isto a propósito de um debate entre os actuais candidatos à liderança da Juventude Socialista. A jovem candidata propõe-se – não ela, evidentemente, mas levar a que o partido se comprometa com a medida - construir seiscentas mil casas nos próximos dez anos. Esta ciclópica iniciativa, diz visivelmente impressionada com a genialidade da sua ideia, será financiada com as receitas dos impostos sobre os casinos e o jogo online. A chatice é que, a preços de agora, os custos de construção por habitação rondarão os 100 mil euros e a receita do tal imposto não vai além de 278 milhões por ano. Ou seja, em dez anos teríamos um investimento de 60 mil milhões financiado por por 2,7 milhões. É fazer a conta. Mas, assim de repente, parece-me que nem com a raspadinha lá vai.

Perante isto acredito que a moçoila terá um futuro político extremamente promissor. Não só dentro do PS, mas inclusivamente na política nacional. Com propostas destas, sustentadas em bases tão sólidas, estaremos em presença de uma potencial líder socialista. Ou, no mínimo, ministra da habitação. Daqui por uns dez anos. Ainda a tempo de entregar a última casa das tais seiscentas mil que os batoteiros vão pagar.

Percepções e outras sensações

Kruzes Kanhoto, 03.12.24

Essa coisa das percepções, sensações e outros sentimentos correlativos têm muito que se lhe diga. São boas para analisar uns temas e péssimos para  outros. É conforme o jeito que dá a cada qual. No caso da segurança – ou da falta dela, no caso – estamos perante uma falsa perecepção de insegurança. O povo é sereno e não se passa nada, garantem os média, a esquerda em geral e os humoristas do regime em particular. Tudo, claro, corroborado por todos aqueles que não frequentam serviços públicos nem precisam de circular para fora das zonas chiques dos grandes centros urbanos.

Já no caso da habitação, foi criada a percepção que a falta de casas a preços acessíveis à maioria das pessoas é culpa dos fundos imobiliários,  dos estrangeiros endinheirados e dos especuladores. Do grande capital, em suma. Esta ideia é repetida até à exaustão pela comunicação social, pelos partidos de esquerda, movimentos e colectivos de defesa do que calhar e papagaios em geral.

Contudo, de acordo com um estudo de uma consultora especializada na área do imobiliário divulgado hoje pela Rádio Renascença, tudo isso não passa de uma falsa percepção. Refere o dito estudo que “83% das casas vendidas são usadas, o que significa que o mercado continua a ser dominado pelas vendas entre particulares” e, “86% das casas foram compradas por famílias, o que, uma vez mais, contraria aquela ideia de ambição especulativa dos investidores que compram casa em Portugal”. Conclui ainda que “apenas 6% das casas vendidas foram compradas por estrangeiros, o que significa que são os portugueses a dinamizar o mercado”.

Por mim, que tendo a considerar que quem percebe da tenda é o tendeiro, acredito nestas conclusões. As causas das dificuldades no acesso a habitação a preços acessíveis terão mais a ver com a elevada procura, a escassez da oferta, o facto de os portugueses pretenderem rentabilizar o seu património e, principalmente, os custos absolutamente absurdos de construção e recuperação de um edifício ou a incerteza decorrente do cabal cumprimento de um contrato de arrendamento. O resto são sensações. Ou parvoíces, vai dar ao mesmo.

O problema de ontem é a solução de hoje

Kruzes Kanhoto, 16.10.24

Uma das vantagens de um gajo ser velho – se calhar a única – é que se lembra de muita coisa. Eu, por exemplo, ainda sou do tempo em que muitíssima gente reclamava do excesso de construção. Barafustavam contra os interesses imobiliários e autárquicos que estariam, a par de outros esquemas alegadamente manhosos, a levar a que se construissem prédios de forma desenfreada e muito para além das necessidades do país. Que, segundo eles, já então teria habitação suficiente para albergar vinte ou trinta milhões de pessoas. Volvidos vinte anos – as mesmas criaturas, em muitos casos – voltam a mandar bitaites acerca do sector. Desta vez, imaginem lá, o problema é a falta de habitação. Os interesses instalados, ou sejam todos menos eles, são responsáveis por não haver casas para ninguém. Uma vergonha a que urge pôr cobro. Construa-se, aconselham, porque afinal os prédios onde cabia toda a gente já não chegam. Não se cansam de estar errados, eles. O único tema onde lhes dou razão, quando noutra ocasião os leio ou ouço sobre outros assuntos, é nisso de criticarem o Ventura por estar sempre a mudar de opinião.

Uma manifestação muito engraçada...

Kruzes Kanhoto, 29.09.24

Admiro a facilidade com que os manifestantes que ontem desfilaram por algumas cidades propõem medidas que, do seu ponto de vista, solucionariam o problema da habitação. Para muitos deles, se calhar, o primeiro passo seria mudar de visual – tomar banho e vestir uma roupinha adequada, nomeadamente – e deixar de dizer bacoradas em público. Com aquele aspecto e aquele discurso de delinquente duvido que alguém lhes arrende uma casa. Deviam, também, ponderar guardar as bandeiras da Palestina e LGBTurbo mais não sei o quê para outras manifestações. Desconfio que poucos estarão dispostos a arrendar uma casa a simpatizantes de terroristas.

Há, depois, outras questões que passam ao lado de toda esta gente que reivindica casas com fartura, rendas baixas e de preferência no centro das cidades. Como, por exemplo, a imigração. Nos últimos anos entraram quase dois milhões de pessoas no país que, parece óbvio, precisam, também elas, de uma casa para morar. Gente esta que, na sua imensa maioria, não se importa de partilhar habitação. Qualquer um entenderá – a menos que seja burro ou equerdalho, passe a redundância - que mais procura conduzirá inevitavelmente ao aumento dos preços.

Outra coisa que esta malta desconhece, quando se queixa dos prédios devolutos e degradados que podiam estar no mercado, são os custos e o calvário burocrático que envolvem a sua recuperação. São, ambos, um estimulo a que qualquer proprietário com um mínimo de juízo opte por não os recuperar. Mas, se for maluco o suficiente para o fazer terá de ter paciência para esperar dez ou mais anos só para ter o retorno do investimento. Isto se, ao fim desse tempo, o imóvel não precisar outra vez de obras. Para não falar do que entretanto vai ter de repartir com o Estado. Aquele sócio oportunista que fica com o produto dos trabalho dos outros e só aparece para estorvar, sacar e esbanjar.

Ca(u)sas estimulantes

Kruzes Kanhoto, 03.09.24

Surpreende-se a comunicação social por as medidas do governo – deste e do anterior, pouco importa – para apoio à compra de casa pelos jovens terem provocado um aumento do preço da habitação. Olha que surpresa. É mesmo daquelas coisas que ninguém estava à espera que acontecesse. Nunca, jamais, em tempo algum tal consequência seria imaginável por alguém de bom senso, pois não? Agora a sério. Toda a gente sabe que, por norma, tudo o que é devidamente estimulado tende a aumentar. E, no caso da procura, qualquer estimulo que provoque o seu crescimento tem a inevitável consequência de originar também o aumento do preço do produto procurado. Se calhar, digo eu que gosto muito de dizer coisas, seria melhor adoptar outras soluções igualmente estimulantes, mas, desta vez, para enrijar a oferta. Tipo murchar a fiscalidade e a burocracia que incidem sobre a construção. Ou, vejam lá do que eu me fui lembrar, retirar aos talibans da cultura o poder de chumbar a recuperação de edifícios degradados nos centros das cidades. São uns empatas. Não reconstroem nem deixam reconstruir.

Nunca funcionou, mas...desta vez é que vai funcionar!

Kruzes Kanhoto, 19.08.24

Um jornal de hoje reproduz em titulo a afirmação “É preciso construir mais habitação pública para o Estado controlar a habitação”. De uma penada parecem ser aqui identificados duas questões. A implícita, que haverá um problema de habitação, e a segunda que existirá uma situação especulativa a envolver o sector. Como isso não me afecta, se calhar é porque não há problema nenhum. Mas, admitindo que haja, a solução preconizada é mais do que parva. É que essa ideia, como maneira de resolver os problemas da habitação, apenas resultou uma vez e num único país. Quando e onde? Nunca e em lugar nenhum, é a data e o local dessa alegada intervenção miraculosa. Quando foi tentada deu os resultados que todos, durante dezenas de anos, pudemos constatar.

Noutra vertente da coisa, pelo país inteiro são muitas as autarquias que “investem” na construção de habitações de cariz social. Apesar dos preços praticados ultrapassarem o ridículo – cinco ou dez euros, não raramente – e de, nesses bairros, os moradores ostentarem sinais exteriores de riqueza incompatíveis com o estatuto de “vulnerável”, “carenciado” ou outro qualquer em voga os valores das renda em divida atingem montantes inimagináveis para a esmagadora maioria dos opinadores. Se calhar, num exercício de cidadania e de escrutínio acerca da forma como se esturram os impostos dos portugueses, ficava-lhes bem indagaram a respectiva Câmara Municipal acerca destas coisas antes de mandarem postas de pescada.

Obviamente que quando se reivindica “habitação pública” não se está apenas a pensar nos alegados pobres. Pretende-se, também, que sejam incluídos aqueles que se convencionou chamar classe média. Que são, diga-se, tão caloteiros como os outros. Mas isso pouca importa a essa malta. Haverá sempre mais um imposto ou uma taxa para pagar esses desvarios.

Para quê comprar se posso okupar?!

Kruzes Kanhoto, 09.04.24

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O imobiliário foi um tema que sempre me interessou. Tenho mesmo a pretensão de achar que podia, se a vida tivesse levado esse caminho, ter sido um profissional do sector. Assim um pedreiro, ou isso. Gabarolice à parte, tenho até um certo jeito para a arte.

Por isso – ou apenas porque sim – subscrevo newsletser’s de diversas empresas do ramo. Numa das últimas eram apresentadas vários imóveis para venda que constituíam verdadeiras pechinchas, desmontando assim a ideia segundo a qual comprar casa é uma impossibilidade para quem tem o azar de não ser milionário. Estava, no caso, a ser comercializado um apartamento T2, com 73 m2, no centro de uma capital de distrito, pela interessante quantia de vinte cinco mil euros. Pela fotografia que promovia o imóvel – reproduzida em cima – pode ver-se que a vizinhança gosta de conviver na rua e que existe na zona uma quantidade significativa de furgões brancos. Propriedade dos moradores, certamente. Há, contudo, um pequeno senão. Uma coisinha de nada. O apartamento está ocupado ilegalmente. E, mas isso sou eu a especular, se algum dia alguém o conseguir desocupar, estará todo partido. É nesta parte que me lembro sempre da outra fulana. Aquela que recomenda que não “lhes dês descanso”, referindo-se, presumo eu, a esses patifes especuladores que fazem, com a sua ganância, com que a malta tenha problemas em arranjar uma casa barata e, por consequência, fique impossibilitada de ter uma “vida boa”. Essas palavras de ordem são aqui seguidas em todo o seu maravilhoso esplendor. Por um lado, descanso é - a julgar pelo preço que estão a pedir - o que os donos do apartamento não têm tido. Por outro, os okupas estão certamente a levar uma vida boa. Ou seja, um magnifico exemplo do que o Bloco de Esquerda pretende para o país. As melhoras a quem votou neles.

Fascistas de Abril

Kruzes Kanhoto, 06.04.24

 

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Está finalmente identificada a origem da crise da habitação. É o fascismo. Foi o Livre, esse partido de um homem só, que descobriu. E não se riam, que divino líder daquilo tem toda a razão. Durante o regime fascista – pronunciar “fascista” com a “boca cheia de favas” e em tom enraivecido – os senhorios estavam impedidos de aumentar as rendas para, pelo menos por aí, não provocar conflitualidade social. Mais ou menos o mesmo que sugerem agora o Livre e restante malta que enaltece os valores de Abril para resolver o problema. Ou seja, não têm a mais parva ideia de como a coisa se resolve e, vai daí, culpam o “fascismo”. Há sempre uns quantos parvos que acreditam.