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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Pergunta irrelevante do dia

Kruzes Kanhoto, 18.06.22

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Desde as televisões às redes sociais multiplicam-se os especialistas na especialidade a comparar os salários mínimos de cada país da União Europeia com os preços dos bens nos respetivos países. Agora são os combustíveis, antes foi outra coisa qualquer e no futuro será o que calhar. O objetivo é, invariavelmente, demonstrar que ganhamos menos e pagamos mais. Provavelmente terão razão. 

Cada vez que vejo estas contas ocorre-me sempre um episódio relacionado com o pagamento do seguro do meu primeiro carro. Um Fiat 128 que valia menos do que a seguradora me cobrava por cada anuidade. Perante a minha irritação pela exorbitância que me era exigida, o gajo da companhia de seguros respondeu com uma inusitada insolência, dizendo: “Não é o seguro que é caro. O senhor é que não tem dinheiro para andar de carro”. Hoje, trinta e cinco anos depois, reconheço a razão do insolente funcionário. É o que pergunto quando vejo estas comparações. Com os combustíveis a este preço quem, ganhando o SMN em Portugal, pensa, sequer, em andar de carro?!

(Im)postos de irritação

Kruzes Kanhoto, 04.05.22

Longe de mim estar para aqui a defender a regulação de preços. Seja dos combustíveis, do pastel de nata ou do rissol de camarão. Até porque isso é muito bonito no principio mas todos sabemos como acaba. Ainda assim percebo a indignação dos consumidores, do governo e dos especialistas da especialidade por a descida do ISP, em lugar de se reflectir na algibeira dos automobilistas, ter ido parar ao cofre das gasolineiras. Também eu já me indignei por a redução da taxa de iva da restauração não ter tido repercussão no preço do bitoque e o diferencial do imposto ter ficado na posse dos taberneiros.

É por estas e por outras que, ao contrário da maioria, não alinho naquela tese enviesada da injustiça dos impostos indirectos. Alegam, em defesa da sua teoria, que este tipo de imposto é cego perante a pobreza ou a riqueza dos seus pagantes. Não concordo nada. Primeiro porque quem mais consome é, normalmente, mais rico e logo pagará mais e, em segundo lugar, quando, como neste caso, há redução da tributação ela vai sempre para o vendedor e apenas muito raramente e em pequena parte para o consumidor.

Justa seria a redução do saque fiscal que incide sobre os rendimentos. Nomeadamente o trabalho, a poupança e o investimento. Esse sim, ficaria no bolso das vítimas. Que, se assim o desejassem, podiam gastá-lo a comprar bens e serviços em que pagariam os tais impostos indirectos. Enquanto assim não for podem continuar a chorar lágrimas de crocodilo. Os tais capitalistas de quem ninguém gosta agradecem.

Mas afinal somos ou não amiguinhos do ambiente?

Kruzes Kanhoto, 21.10.21

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Não percebo tanto alarido à volta dos preços dos combustíveis. Nem, menos ainda, a admiração que a carestia dos ditos está a provocar. Tudo isto era de esperar. Pior – ou melhor, dependendo do ponto de vista – não vai ficar por aqui. Os combustíveis e tudo o resto. É que esta coisa de salvar o planeta custa dinheiro. Muito. E isto, reitero, é apenas o principio. Um destes dias o mesmo se passará com a alimentação. A taxação e as restrições à produção de alimentos alegadamente causadores de danos ao ambiente – que é como quem diz, aqueles que os pseudo-ambientalistas da treta não consomem – farão o resto.

Mas, escrevia eu, causa-me algum espanto a indignação que por aí ouço relativamente ao preço do gasóleo e da gasolina. A julgar pela minha vizinhança não deve fazer grande diferença. Poucos, para além de mim, são os que percorrem a pé os setecentos metros que nos separam do centro da cidade. Das duas uma. Ou ambas, vá. Ou não está assim tão cara ou aquilo é malta que gosta de pagar impostos. Podia acrescentar uma terceira, que seria não se preocuparem com o ambiente. Mas não. Até porque essa aplica-se mais a mim, o gajo que desdenha de ambientalistas e das causas ambientais.

E o planeta B?

Kruzes Kanhoto, 13.08.19

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Isto da greve dos motoristas que transportam combustíveis está a servir para muita coisa. Para dar maioria absoluta ao Costa garantem uns, levar à revisão da lei da greve suspeitam outros ou de ensaio para, em futuras ocasiões, aplicar o mesmo principio dos serviços mínimos e, assim, esvaziar os efeitos de qualquer paralisação laboral segundo mais uns quantos.

Até pode ser que todos tenham razão. Mas esta greve está, também, a pôr a nu toda a hipocrisia que por aí vai a propósito do ambiente. Parece que, assim de repente, a redução das emissões de gases, a diminuição do consumo de combustíveis fosseis e mais não sei o quê relacionado com o modo como usamos o automóvel, tudo isso de uma só vez, deixou de ter importância. Ninguém, perante a eminência de ficar sem aquilo que faz andar o popó, se lembrou das alterações climáticas e todos parecem ter esquecido que não temos um planeta B. Ou lá o que é. Depois querem ser levados a sério. Cá para mim, quando voltarem a aborrecer com essas tretas, vão de carrinho.