Prioridade ao individuo
Diz que terá havido pancadaria da grossa num hospital do Porto. Uns quantos indivíduos, revoltados pela demora no atendimento a um familiar doentinho, terão sovado vários funcionários que estavam de serviço nas urgências do tal hospital. Mas, vá lá, a policia estava por perto e tratou de dispersar os tais indivíduos.
Ora, confesso, tudo nesta história me causa estranheza. A actuação das forças policiais, por exemplo. Cuidava eu que a sua obrigação era mais agregar do que dispersar. Assim, sei lá, tipo juntar os indivíduos agressores na esquadra e leva-los à justiça ou coisa parecida. Embora, no caso, estender um bastão a toda a extensão do lombo dos indivíduos também me parecesse adequado.
Admito que o pessoal que levou nas trombas as estivesse mesmo a pedir. Mas, há que reconhecer, bater naqueles profissionais e naquelas circunstâncias é próprio de um individuo dotado de um elevado grau de imbecilidade. Característica muito comum a pessoas vulgarmente designadas por individuo pela comunicação social, diga-se. Se estavam com pressa para ser atendidos, seguramente que só pioraram as coisas. Pois, de certeza, que este comportamento dos individuos só terá contribuído para que tivessem de esperar ainda mais.
Por fim – e também por último – a maneira como a ocorrência é relatada em tudo o que é comunicação social. Os agressores são, sistemática e reiteradamente, tratados como indivíduos. O que configura um tratamento discriminatório e quase tão reprovável como o praticado pelos, lá está, indivíduos. Eu próprio já assisti, em diversas ocasiões, à invasão das urgências hospitalares por indivíduos. Ora, assim sendo, escusavam os senhores jornalistas de estigmatizar os agressores. Por causa do mau comportamento de um individuo – ou mesmo de cem mil, vá – não devemos julgar como mal comportada toda uma comunidade de indivíduos. Às tantas ainda começo a achar que existe na classe jornaleira uma espécie de preconceito racista contra indivíduos. Tá mal, pá!