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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Xenofobia do bem

Kruzes Kanhoto, 17.06.23

Acho piada ao embevecimento demonstrado pela imprensa do regime relativamente ao surto migratório oriundo da Ásia que estará, ao que dizem, a repovoar o Alentejo e torná-lo mais multicultural do que nunca. Circunstâncias que, antevêem, proporcionarão um futuro idílico à região.

Sendo a desertificação humana e o envelhecimento da população o principal problema do Alentejo, a vinda de estrangeiros será sempre positiva. No entanto a mesma imprensa de Lisboa e outros “fazedores” de opinião que por aí pululam, sempre tão empenhados em promover a diversidade, o multiculturalismo e mais uns quantos conceitos manhosos que gostam de inventar não demonstram o mesmo entusiasmo quando os estrangeiros provêem de outras origens mais tradicionais, chamemos-lhe assim. Espanhóis que compram as terras improdutivas, chineses, franceses, britânicos, russos ou brasileiros endinheirados que estão a comprar casas e a mudar-se ou passar parte significativa do ano por estas bandas são, frequentemente, apontados por aquela malta da capital como potenciais descaracterizadores da região alentejana. Gente para quem o turbante é muito mais valorizável do que o sombrero. Complexos de inferioridade mal resolvidos, é o que é.

Comidos de cebolada

Kruzes Kanhoto, 11.03.23

1 - O apoio de Portugal à resistência ucraniana terá custado, até agora, quarenta e quatro euros a cada português. Há quem refile e privilegie o discurso hipócrita da paz e mais o diabo a quatro. Leia-se, para abreviar, rendição da Ucrânia. É o preço a pagar pela liberdade. Bem menor, ainda assim, do que aquilo que já pagámos pela especulação que daí resultou.

2 – O aumento do preço dos bens alimentares tem suscitado ataques à grande distribuição, acusando as grandes superfícies de ganhos exagerados e de margens de lucro exorbitantes. Com razão, provavelmente. Ao mesmo tempo ilibam-se os produtores e pequenos comerciantes de eventuais responsabilidades nesta carestia. Pois. Como se a ganância fosse exclusiva da malta que usa gravata. O gajo das alfaces é um excelente exemplo. Ou o das cebolas. As da agricultura da crise, por exemplo, são da colheita passada e se as fosse vender hoje no mercado cá da terra a dois euros e vinte o quilo, não seria certamente um especulador. Apenas mais uma vitima do grande capital.

3 – Para Manuela Ferreira Leite o Alentejo é uma região “morta e sem vida”. Não diria tanto. Está, ainda, ligado à máquina. À máquina do Estado, no caso. A pouca população que resta é praticamente toda dependente do Estado. Directamente – é tudo reformado, empregado da Câmara ou vive de apoios sociais – ou indirectamente, porque trabalha em instituições ou empresas que sobrevivem graças aos primeiros e/ou subsídios do Estado. Lamentavelmente a senhora em causa, que até foi deputada eleita pelo distrito de Évora,  nada fez para alterar isso. Nem isso, nem outra coisa. Que me lembre nunca a vi por cá. 

O Taremi é alentejano?

Kruzes Kanhoto, 13.09.22

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Há quem diga que o país perdeu o sentido de humor. De certa forma concordo. Não se podem fazer piadolas – nem, sequer, um simples dichoteacerca do aspecto físico, da desorientação sexual, da cor da pele, da origem étnica e do que mais calhar de ninguém. Só de alentejanos. Desses podem dizer-se as mais deprimentes graçolas. Ninguém se importa e quase todos acham graça. Menos eu. E - nem peço desculpa pela falta de modéstia – até sou um gajo com um sentido de humor de fazer inveja a muita gente. Não tenho é paciência nenhuma para imbecis como o senhor Jaime Coutinho, mediador de seguros e comentador de futebol no Facebook nas horas vagas. Profundo desconhecedor do país, também. Um tipo que deve conhecer tão bem o Alentejo como eu conheço Pataias. Podia, como bom alentejano, responder-lhe com uma piadola jocosa acerca disso de passarmos o tempo deitados. Mas não o faço. Até porque não sei se o senhor é casado ou se ainda tem mãe.

Gente que nem f*** nem sai de cima...

Kruzes Kanhoto, 13.09.21

No Alentejo não se pode fazer nada sem que isso suscite a indignação dos patetas de Lisboa. Ou de outros. Agora até uns bacocos de uns alemães se insurgem contra explorações agrícolas do sudoeste alentejano. Como se não chegassem os que se irritam com a culturas intensivas, a criação de gado, o turismo no Alqueva, a caça, a pesca desportiva, os painéis solares e mais sei lá o quê. Para esta gente o Alentejo devia ser um deserto, sem nada nem ninguém. Apesar da voz destas alimárias ser cada vez mais escutada, não terão essa sorte. A vida é feita de ciclos. Uns melhores, outros piores. Acredito que o pior do ciclo mau desta região já tenha ficado para trás e que no futuro, com tudo isto que os urbano depressivos odeiam e muito mais, o Alentejo deixará de ser o parente pobre do país. E, principalmente, nunca será a reserva de “índios” que tanto anseiam por ter ao pé da porta. Num fundo são uns tristes. Daqueles que nem f**** nem saiem de cima, como diria o meu avô.

O deserto à nossa porta

Kruzes Kanhoto, 03.08.21

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Os dados revelados pelos últimos censos são aterradores e deviam ter feito disparar todos os alarmes. Embora, afinal, não constituam mais do que a confirmação daquilo que já todos sabíamos. Uma vastíssima região do país está a definhar, a morrer e a transformar-se num imenso deserto e poucos se importam com isso. O que interessa às pretensas elites é discutir não-problemas como o racismo, atribuir privilégios às novas minorias de malucos, garantir que os animais têm tantos direitos como as pessoas ou criar novas causas cada vez mais desvairadas. O resto não interessa. Muito menos as pessoas que insistem em ficar nestes territórios, para onde “eles” se deslocam em massa aos fins de semana, e que quanto menos cá estiverem menos os incomodam.

Nisto da diminuição acentuada da população não culpo só os políticos. Nem os nacionais, nem os locais. Estes últimos, então, fazem o que podem para fixar população. Criam emprego que se fartam. No Alentejo, nomeadamente, quase toda a gente trabalha – está empregada, vá, que trabalho é outra coisa - na Câmara da respectiva localidade. Assim quando algum empresário, dos poucos que ainda restam, pretende recrutar trabalhadores tem de recorrer a mão de obra estrangeira e, consequentemente, trazer gente para o concelho. Parece uma boa estratégia. Por um lado fixa-se o eleitorado e por outro luta-se contra a desertificação. Pelo menos na primeira vertente tem dado resultado.

Parvoíce profunda

Kruzes Kanhoto, 17.06.21

Pior do que um lisboeta armado ao pingarelho, a achar que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem, só um alentejano armado em lisboeta armado ao pingarelho a comungar da opinião do citado alfacinha. O que não falta é gente dessa. Daquela a quem basta atravessar o Tejo para desatar a depreciar tudo o que deixou para trás. Enfurece-me, isso. Um dia destes, por um acaso daqueles que apenas o zapping proporciona, deparei-me com um apresentador de televisão alentejano  a situar a sua aldeia no Alentejo profundo. Outro conceito que, para além de não perceber, me deixa para lá de possesso. O homem, sem ofensa, é parvo. A localidade em causa, Vila Boim, fica colada à EN4, um dos principais acessos à fronteira, tem a A6 quase à porta, fica a uma dúzia de quilómetros de Elvas e a cerca de vinte de Badajoz. Uma cidade com mais de cento e cinquenta mil habitantes, o que a tornaria uma das principais cidades do país se ficasse deste lado da raia. Mas isso tudo saberá a criatura. Daí que chamar “Alentejo profundo” à região onde cresceu só pode ser parvoíce ou estupidez. Ou, o mais certo, ambas. E daquelas bem profundas.

O Alentejo não tem direito ao desenvolvimento?

Kruzes Kanhoto, 24.04.21

Desde há uns anos a esta parte ouço e leio gente extremamente aborrecida com a nova agricultura que se pratica no Alentejo. Tudo, garantem, está mal. Desde a paisagem em mudança até a uma espécie de tragédia ambiental que não se cansam de profetizar. De caminho lamentam a invasão de migrantes – eles podem lamentar, já eu se o fizer sou racista – que, alegadamente, serão explorados por patrões sem escrúpulos e senhorios gananciosos.

Tenho manifesta dificuldade em perceber o que pretende este pagode ou, sequer, a alternativa que sugerem. Se é que sugerem alguma. Provavelmente desejarão que fique tudo na mesma. Como sempre esteve. Seco, desértico e entregue aos bichos. Preferirão, com certeza, um Alentejo sem pessoas e improdutivo. Por mim prefiro o caminho que está a ser seguido. De preferência percorrido em passo mais acelerado, que já nos chegam as décadas de atraso. Venham mais “culturas intensivas”, venham mais migrantes, venham mais turistas e aqueles que não se sentem cá bem “desamparem a loja”.

Um dos argumentos muito em uso é que este tipo de agricultura não cria postos de trabalho. Para além da evidente contradição, quando lamentam o recurso a mão de obra estrangeira, há que ter em conta a riqueza indirecta que tudo isto gera. A começar nas casas que voltam a ser habitadas por estes trabalhadores e a acabar nos profissionais do activismo, que têm aqui um apreciável nicho de mercado. Que habilmente já estão a explorar, diga-se.

Fachos, comunas, xuxas e outra ladroagem

Kruzes Kanhoto, 26.01.21

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E continuam. Deve ser coisa para durar mais uns dias, ainda. Não há cão nem gato que não vá para o Facebook desancar nos alentejanos – uma minoria, apesar de tudo – que votaram no Ventura. Como se a escolha eleitoral  dos outros deixe de ser legitima apenas por não ir de encontro ao nosso pensamento. Mas isso nem é o que me incomoda mais. A bem dizer nem me incomoda nada. No fundo até me diverte. Gosto de os ver assim. Chateados. Aborrecidos por uns quantos – poucos, reitero – alentejanos terem optado por votar num demagogo, em lugar de terem escolhido Marisa Matias, João Ferreira ou Ana Gomes todos eles admiradores confessos de ditadores e criminosos. Sim, porque, tanto quanto sei, para os dois primeiros Cuba, a Venezuela ou criaturas como Lula da Silva constituirão uma espécie de faróis. Ou de sol na terra, sei lá. Já Ana Gomes é pública e confessa fã de criminosos que roubam o correio e limpam a conta bancária a quem lhes apetece. Mas isto, para estes novos moralistas, não interessa nada. É gente de outro nível. Daquela que, certamente, não se importará de levar porrada, de passar fome ou de ser roubada. Desde que seja por alguém da sua laia, claro.

Descobriram agora a democracia, coitadinhos...

Kruzes Kanhoto, 25.01.21

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Parece que constitui hoje uma espécie de obrigação moral mostrar quanto estamos indignados pela votação obtida por André Ventura no Alentejo. Indignação que, curiosamente ou talvez não, nunca existiu quando um partido estalinista tinha por aqui maiorias arrebatadoras. Ao contrário do que ontem aconteceu com a extrema direita que, para além de Estremoz com 23,32%, obteve os melhores resultados em Elvas (28,76%), Moura (31,41%) e Monforte (31,41%). Votação que, diga-se, a ocorrer em legislativas provavelmente não seria suficiente para eleger deputados.

A este propósito li os maiores impropérios dirigidos aos eleitores alentejanos. Das duas uma. Quem os escreve ou é daqueles negacionistas como os do covid ou é alguém profundamente ignorante que desconhece em absoluto a realidade que se vive por estas paragens. Nem, se calhar, saberá o que têm em comum todos esses concelhos. Também não sou eu que vou gastar os meus dedos a explicar-lhes. Afinal lavar a cabeça a burros sempre foi e continuará a ser gastador de sabão. Continuem a fingir que não vêem o elefante na sala, que não há nenhum problema com “grupos de pessoas” ou, como escreve hoje um colunista do Observador, a preocuparem-se com os fascistas quando o problema são as avestruzes. Depois queixem-se.

Ignorantes das causas fofinhas

Kruzes Kanhoto, 09.01.21

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Combater o Chega e o Ventura parece constituir uma espécie de desígnio nacional. Não me parece mal. Cada um combate o que quiser e defende as causas que muito bem lhe aprouver. O mesmo não digo da comunicação social. Esta apenas deve informar e deixar isso das causas e dos desígnios para a sociedade.

O que lamento neste combate é a ignorância, ou a má-fé noutros casos, da esmagadora maioria dos combatentes. Toda esta gente ainda não percebeu que não adianta desmascarar as trafulhices que André Ventura tenha, alegadamente, feito ou possa vir a fazer. Podem dizer o que quiserem, passar as reportagens que entenderem ou relatar as passagens mais escabrosas da vida da criatura. Não adianta. Pelo contrário, mais força lhe dão.

Esta gente não percebe o fenómeno. Nem, pior, o quer perceber. Insiste, antes, em dizer que não existe ou, a existir, não tem relevância nenhuma. Para o entender talvez tenham de vir ao Alentejo. Mas não aquele das revistas, dos restaurantes da moda, adegas, praias fluviais ou dos montes com piscina onde se encerram dias a fio. É preciso falar com as pessoas. As que vão aos supermercados, hospitais ou correios. Podem, até, começar por aquelas que toda a vida votaram no PCP. Vão, de certeza, aprender muito.