Reivindicar a intimidade...
Aquela snob armada ao pingarelho, que debitava alarvidades em catadupa na televisão paga com os nossos impostos, foi finalmente despedida da estação pública. Já não era sem tempo. Anda agora dedicada ao “activismo”. Diz que vai organizar uma manifestação para o próximo fim de semana — onde, ao que parece, ela e os três gatos pingados que aparecerem irão reivindicar coisas.
A primeira reivindicação, pelo menos numa das “convocatórias” (no meu tempo de manifestante chamava-se assim), é “uma casa para todos com espaço para ter intimidade e construir memórias”. Muito bonito. Sendo apenas uma casa, é difícil que caibam lá todos… mas presumo que, ainda que apertados e com a intimidade um bocadinho comprometida, memórias — disso não faltariam. Daquelas verdadeiramente, digamos, memoráveis.
Isto, claro, sou eu a divagar — que é, passe a gabarolice, uma das coisas que faço melhor. O que ela, na verdade, quer dizer é que cada português — ou vá, uma família, ou o que calhar — deve ter direito a uma casa onde possa dar uma queca descansado, sem a vizinha do lado dar por isso. Providenciada — a casa, entenda-se — pelo Estado, naturalmente.
Mas a dita manifestação não se fica por aqui. É muito mais “abrangente”. Também se insurge contra o milhão e meio de portugueses que ousaram votar num determinado partido e, veja-se a coincidência, contra a lei anti-burka. Ou seja, uns quantos — poucos, previsivelmente — milhares vão manifestar-se contra um problema (a burka) que segundo eles não existe, enquanto gritam que milhão e meio de pessoas estão erradas. Faz todo o sentido.
Como vou estar por perto, sou gajo para dar lá um saltinho. Já sinto saudades de me manifestar.
