Quando a falta de empatia estraga a narrativa
Detesto algumas palavras que se banalizaram no vocabulário político nos últimos anos. “Narrativa” e “empatia” são duas delas. Ambas, curiosamente, popularizadas por dois antigos líderes do Partido Socialista. Deve ser por isso que lhes tenho aversão. Mas, seja como for, admito que nas últimas duas semanas tem havido muito disso. De empatia na narrativa. Ou narrativa com muita empatia. Que é o mesmo, mas dito ao contrário.
Quem não esteve para empatias foi aquela alegada cigana que interpelou o André Ventura numa terriola qualquer. “Não gosto de ti, meu maluco” podia ser o resumo da interpelação, não fosse ter-se seguido a revelação – bombástica, dada a imprevisibilidade da declaração – do estado civil da senhora. Ou deverei dizer menina? Bom, não interessa. O que interessa é que aos cinquenta e dois anos mal conservados, garante que é solteira. E é aqui que a narrativa tropeça. Tanto quanto se sabe todos os ciganos que “casam” entre si são, para efeitos legais, solteiros.
Independentemente da situação matrimonial da criatura, o encontro espontâneo e meramente fortuito entre a cidadã e político até parecia estar a cumprir os objectivos. Fossem eles os que fossem. Mas nisto cada um vai para seu lado e a alegada cigana, virando-se para as câmaras de televisão que captavam avidamente a cena, remata: “Aqui ninguém gosta dele. Votamos todos no PSD”. Bolas, pá. Porra, cum camandro. Logo agora que aquilo estava a correr tão bem é que o raio da mulher foi estragar a narrativa. Que falta de empatia, pá.