Percepções e outras sensações
Essa coisa das percepções, sensações e outros sentimentos correlativos têm muito que se lhe diga. São boas para analisar uns temas e péssimos para outros. É conforme o jeito que dá a cada qual. No caso da segurança – ou da falta dela, no caso – estamos perante uma falsa perecepção de insegurança. O povo é sereno e não se passa nada, garantem os média, a esquerda em geral e os humoristas do regime em particular. Tudo, claro, corroborado por todos aqueles que não frequentam serviços públicos nem precisam de circular para fora das zonas chiques dos grandes centros urbanos.
Já no caso da habitação, foi criada a percepção que a falta de casas a preços acessíveis à maioria das pessoas é culpa dos fundos imobiliários, dos estrangeiros endinheirados e dos especuladores. Do grande capital, em suma. Esta ideia é repetida até à exaustão pela comunicação social, pelos partidos de esquerda, movimentos e colectivos de defesa do que calhar e papagaios em geral.
Contudo, de acordo com um estudo de uma consultora especializada na área do imobiliário divulgado hoje pela Rádio Renascença, tudo isso não passa de uma falsa percepção. Refere o dito estudo que “83% das casas vendidas são usadas, o que significa que o mercado continua a ser dominado pelas vendas entre particulares” e, “86% das casas foram compradas por famílias, o que, uma vez mais, contraria aquela ideia de ambição especulativa dos investidores que compram casa em Portugal”. Conclui ainda que “apenas 6% das casas vendidas foram compradas por estrangeiros, o que significa que são os portugueses a dinamizar o mercado”.
Por mim, que tendo a considerar que quem percebe da tenda é o tendeiro, acredito nestas conclusões. As causas das dificuldades no acesso a habitação a preços acessíveis terão mais a ver com a elevada procura, a escassez da oferta, o facto de os portugueses pretenderem rentabilizar o seu património e, principalmente, os custos absolutamente absurdos de construção e recuperação de um edifício ou a incerteza decorrente do cabal cumprimento de um contrato de arrendamento. O resto são sensações. Ou parvoíces, vai dar ao mesmo.