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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

País divertido

Kruzes Kanhoto, 20.02.10
A maioria dos portugueses admite que somos um país de brincadeira. Embora, quanto a mim, isso não seja necessariamente mau nem constitua um defeito que nos envergonhe. Pode, se bem explorado, constituir um motivo para nos animar e elevar a nossa auto-estima enquanto povo. Claro que a ideia de sermos um país de brincadeira reunirá algum consenso entre os adeptos dos partidos da oposição, mas encontrará forte resistência dentro do grupo de seguidores do partido que governa. Para quem não passará de mais uma opinião bota-abaixista (as expressões que estes apaniguados inventam!) de quem não reconhece a genialidade de quem nos dirige. Estejam eles sentados na cadeira da presidência do conselho de ministros ou à mesa de um qualquer conselho de administração de uma qualquer empresa pública.
Vejamos por exemplo o caso da justiça. É, concorde-se ou não, uma verdadeira animação. Primeiro porque ninguém a leva a sério e, segundo, porque não se cansa de nos divertir. Mesmo deixando de lado os casos mais anedóticos que envolvem figurões sobejamente conhecidos é possível encontrar situações assaz hilariantes que nos fazem rir até às lágrimas e que, quase de certeza, entrarão para o anedotário nacional.
Nos últimos dias constituíram noticia três casos verdadeiramente sintomáticos. Num deles dois ladroezecos ocuparam o precioso tempo de três juízes e sabe-se lá quantos funcionários por terem roubado amêndoas avaliadas em dois euros. Crime hediondo, diga-se, porque isso de roubar guloseimas pode acarretar consequências imprevisíveis para a saúde dos meliantes que, mais tarde, sobrecarregariam o serviço nacional de saúde. Por isso o melhor é condená-los já antes que peçam um cheque dentista.
Também o gatuno azarado que ficou entalado num buraco quando pretendia assaltar um supermercado terá colocado o dono do estabelecimento em tribunal. Alega ter sido agredido pelo proprietário durante o tempo em que permaneceu naquela situação incómoda e exige uma indemnização pelos danos sofridos. É verdade que o gajo estava mesmo a pedi-las mas, como se sabe, a justiça é cega. Tal como o olho traseiro. E esse constitui o principal problema do agora queixoso que, dada a posição em que se encontrava aquando das alegadas agressões, não viu quem o malhou.
Finalmente o caso do “jovem” – é assim que agora se deve dizer quando nos referimos a delinquentes – que no ano passado espalhou o terror pelas ruas de Lagos ao volante de um camião que “desviou” de um estaleiro. Apesar de, na sequência da sua atitude tresloucada, ter ocorrido um atropelamento mortal, não terá ficado provada a relação entre os dois acontecimentos. Isto porque alguém se lembrou – ele há gente capaz de tudo – de saltar para a cabine do camião para impedir o dito jovem de continuar a sua marcha e esse facto poderá ter sido determinante para a infeliz ocorrência. Provavelmente o herói de Lagos, como ficou conhecido na altura, terá ainda de justificar porque teve a tão parva ideia de importunar o ocasional, mas nem por isso menos pacífico, condutor de um veículo pesado a circular desgovernado no meio de uma cidade.
Ora digam lá que não são estas coisas que fazem de Portugal um país divertido e que a todo o momento nos dá motivos para rir. Podíamos viver sem elas, lá isso podíamos, mas seria uma tristeza.

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