O furto e o usufruto
“Rouba, mas faz” é uma expressão brasileira que se refere ao político que, embora seja um reconhecido corrupto, é visto como uma espécie de benemérito. Com a diferença, embora isso pouco importe para a população, que ao contrário do bem-feitor tradicional não o faz com o seu dinheiro, mas recorrendo ao dinheiro público para fazer favores a quem lhe está próximo ou àqueles que o podem favorecer no futuro. Há muito disso. Nomeadamente naquelas actividades onde os dirigentes se mantêm nos lugares de decisão durante anos e anos a fio. Seja na política ou no futebol, que é onde se movimenta mais dinheiro de “ninguém”.
O que me faz “espécie” é que haja tanta gente a pensar assim. Os ladrões, quero acreditar, serão uma ínfima minoria e, ao que julgo saber, tirando as respectivas mães e avós, ninguém gosta deles. Menos ainda as vitimas dos roubos. Daí a minha manifesta dificuldade em perceber a adoração dos eleitores – no caso de uma autarquia ou clube de futebol – por quem os rouba. Por mais obras ou troféus que haja para exibir. Quando, para piorar a coerência das gentes que os idolatra, são os mesmos que se indignam por causa dos “Salgados” e “Berardos” desta vida. É que isto, embora possa não parecer, o dinheiro sai sempre do mesmo bolso. O nosso.