Nova PIDE
Parece que um cidadão - membro de uma Assembleia Municipal, embora para o caso essa condição pouco importe – foi notificado para pagar uma multa no valor de umas centenas de euros por, no seu discurso, juntar na mesma frase palavras como “ciganos, romenos e meliantes”, a que terá acrescentado expressões como “incomodar residentes” e “causar desacatos”. A sanção pecuniária terá sido aplicada por uma dessas novas organizações criadas para vigiar a linguagem, os comportamentos e as atitudes de pessoas e instituições. Uma nova PIDE, no fundo. O dito cidadão irá, certamente, recorrer à justiça de tão grave atentado à sua liberdade de expressão. Será, muito provavelmente, absolvido desta acusação. Ficam, no entanto, o incómodo, o aborrecimento e, principalmente, o procedimento pidesco de que foi alvo.
Andam há anos a impingir-nos o papão da extrema-direita, do regresso do fascismo e dos perigos que isso representa para democracia. Temeram, primeiro, a propagação destes ideais pela Europa e começam agora a recear a sua chegada a Portugal. O que, face a ocorrências desta natureza, não constituirá motivo para grande surpresa, diga-se. A PIDE não era propriamente uma organização apreciada pelos portugueses. Nem, tão-pouco, a bufaria é algo que suscite a nossa simpatia. Por mais justificações que procurem encontrar.