Não é um país. É um esgoto a céu aberto.
Sócrates, Berardo, Salgado e Rui Pinto terão, alegadamente, praticado actos alegadamente pouco conformes com a lei. O que leva, então, os portugueses a olhar para cada um destes figurões de maneira diferente? Mistérios. Daqueles que dão razão aos que acham que este país vale um escarro. Ou um peido. Nem isso, talvez.
O antigo primeiro-ministro é, para muitos, um patifório da pior espécie. Para os sectores mais à direita, nomeadamente. Para os restantes o sentimento varia entre a esperança que a acusação seja uma enorme mentira e a certeza de que a genialidade do homem continuará imaculada.
Salgado e Berardo, para a generalidade das criaturas, não passam de uns escroques. Excepto, no caso do segundo, em Estremoz. Aqui a abertura de um museu concedeu-lhe o estatuto de divindade. Acerca da qual os autóctones não devem blasfemar, não vá a sempre atenta guarda pretoriana recordar-lhes que não interessam as alegadas manigâncias desde que se faça alguma coisa. Conceito muito apreciado por cá, diga-se.
O pirata informático, esse, é para a tugalhada o décimo terceiro Deus do Olimpo. Será até, a fazer fé nos cartilheiros e avençados do regime, contratado pelo Estado para fazer investigação, com direito a casa, cadastro limpo e, se calhar, mais umas quantas mordomias. O argumento que o ladrão de dados informáticos proporcionou a descoberta de muitos outros crimes é coisa de tolinhos. Se admitirmos que um crime legitima outro, estamos a abrir uma porta que nos conduzirá por caminhos muito sinuosos.
Perante isto aguardo com ansiedade a nomeação de Ricardo Salgado para conselheiro do Banco de Portugal, de Joe Berardo para a administração da Caixa Geral de Depósitos e de José Sócrates para o Conselho Superior da Magistratura. Experiência não lhes falta.