Em Gaza, por exemplo, não têm estes problemas...
Há quem ainda não tenha digerido os resultados das últimas eleições. Três semanas depois já era tempo da azia ter passado. A mim, das muitas vezes que ganha o PS, abala-me mais depressa. Mesmo que continue a achar que quem optou por esse partido fez uma opção que não foi a melhor para o país e que a mesma é prejudicial para os interesses dos portugueses em geral. Mas, sejam quais forem os resultados eleitorais, há que respeitar a vontade do povo e quem não a respeita também não merece ser respeitado. Os eleitores escolhem quem querem e votam em que muito bem lhes apetece. Chama-se democracia, ou lá o que é.
Ocorre-me este arrazoado por causa de uma conversa – na verdade foi mais um monologo, porque a criatura pôs a “espingarda à cara" e ninguém a calava – que tive na semana passada na sala de espera de uma clínica. A boa da senhora – boa é uma força de expressão, obviamente – ainda estava possessa por o Chega ter vencido as eleições aqui no concelho. Perante uma audiência de mais de uma dúzia de pessoas chamou de tudo aos eleitores cá da terra. E nem quando eu – feito parvo, devia era estar calado como os demais – lhe tentei, alarvemente reconheço, lembrar que o sol continuaria a nascer no mesmo lugar e nós a receber o ordenado no mesmo dia a coisa melhorou. Acho até que piorou. A sorte, pelo menos a minha, é que entretanto fui chamado pela enfermeira.
Ou seja, o povo apenas está certo e as pessoas são inteligentes e merecedoras de respeito quando pensam da mesma maneira que nós. Caso contrário são umas bestas. Não tem mal nenhum que uns quantos pensem assim. Nem que o verbalizem. Afinal, há vozes que por mais alto que vociferem não chegam ao céu. Ou, como diria a minha avó a propósito daqueles que exibiam uma alegada superioridade moral em relação aos demais, “gaba-te cesto, que estás todo roto”.