Autárquicas 2021
Surpreendentes, os resultados das autárquicas. Isto porque contrariaram, no que diz respeito a alguns municípios de maior dimensão, as sondagens e as opiniões de todos os opinadores de serviço. Prova que opinião pública e opinião publicada só muito raramente coincidem. E se Lisboa foi a surpresa maior, as perdas do PCP – que muitos insistem em incluir no lote dos resultados pouco expectáveis – não me parece que mereçam o mais pequeno espanto. A estranheza, a existir, será apenas por, apesar de tudo, os comunistas ainda exercerem o poder em quase uma vintena de autarquias.
Nestas eleições intervieram, directa ou indirectamente, um inusitado número de dinossauros do poder local. Intriga-me esta indómita vontade de exercer o poder. Nomeadamente aqueles que ou já tem idade para ter juízo, ou gozam de uma saúde física e financeira que lhes permite viverem a vida sem os aborrecimentos do exercício de um cargo que, em muitas circunstâncias, dá mais chatices do que outra coisa. Gente que governou anos a fio – dezenas, às vezes – e que, por uma qualquer razão que foge à minha compreensão, insiste em perpetuar-se no poder. Desconheço o que os move mas, seguramente, não será apenas a nobre missão de bem servir o povo. Deve ser, se calhar, a vontade de morrer presidente. Como a que parece assistir ao agora eleito presidente de um município vizinho que, aos setenta e seis anos e após uma extensa carreira política, voltou a ocupar a cadeira do poder. Por cá, há quem garanta ser provável que alguém, num futuro próximo, lhe siga o exemplo. Talvez. Mas se isso acontecer, a vergonha – ou falta dela – não será só dele. Será, principalmente, nossa.