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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

E, já agora, um guizo, não vá ficar sem rede...

Kruzes Kanhoto, 15.10.20

Já escrevi noutras ocasiões que em situações de crise segue-se o líder sem levantar objeções ou questionar as suas decisões. O que houver para discutir, nomeadamente se as opções foram as adequadas ou não, vê-se depois. Havia de ser bonito, numa batalha, os soldados questionarem a estratégia do general.

É nisto que estamos. Numa batalha. E até aqui a maioria da população tem cumprido aquilo que os “generais” têm decidido. Mas convém que não abusem. Senão, como na guerra, as deserções multiplicam-se. Esta ideia de tornar obrigatória – ainda que em determinadas circunstâncias e apenas para certos grupos populacionais - uma aplicação para telemóvel, ultrapassa em muito as fronteiras do razoável. Não vou entrar em considerandos, como já por aí li, acerca do preço pouco acessível dos aparelhos que permitem o uso desses aplicativos. É do conhecimento comum que quanto mais baixo o rendimento, mais alto o nível tecnológico do telemóvel. Nem, tão pouco, justificar com a pouca intuição dos mais velhos para lidar com essas coisas. Que esses, para o que lhes convém, sabem tudo. Limito-me apenas a considerar que, em democracia, a sua aplicabilidade é praticamente impossível.

Esta ideia, para além do mais, suscita-me duas questões inquietantes. A primeira é desconfiar que a obrigatoriedade do uso desta “app” terá uma finalidade económica. Aquilo, cheio daqueles anúncios irritantes que costumam acompanhar este tipo de produto, é coisa para render uns milhões em receita publicitária. Capaz de dar para uma TAP, uma CP ou um Novo Banco, assim por alto. A segunda inquietação tem a ver com futuras finalidades de aplicações desta natureza. Olha se eles, por exemplo, se lembram de uma cena assim parecida para combater a escassa natalidade...

Um "perro maricon" seria ainda mais valorizável...

Kruzes Kanhoto, 25.08.20

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Leio que em Espanha um indivíduo, interceptado pela policia local em virtude de não usar máscara, terá começado a andar “de quatro” imitando um cão. Não evitou, ainda assim, a multa aplicável nestas circunstâncias.

A ocorrência está a ser noticiada, pela generalidade da imprensa, na secção de noticias insólitas, bizarras ou simplesmente parvas. O que se me afigura profundamente reprovável e suscita umas quantas questões inquietantes. O senhor tem o direito a identificar-se com aquilo que muito bem lhe apetecer. Se foi um ser canino, todos, policia e jornalistas incluídos, temos de aceitar a sua condição e não desatar a zombar das suas opções. E aqui reside a segunda inquietação. O que terá levado os presentes a considerar que a criatura em causa era um homem e não uma mulher? Ou um transexual? Ninguém, ao que é relatado, o que terá interrogado quanto a isso. Outra questão pertinente é o género do animal. Porquê um cão? Alguém lhe perguntou se ele – ou ela – se identificava com um cão e não com uma cadela? Ou, até, um canito transexual? Pelo sim pelo não, de maneira a evitar equívocos e tratar a coisa de forma inclusiva, a noticia podia resumir-se a isto: “Ser humane interceptade pele policix identifica-se como ume cachorre”. Todes percebíamos e não havia cá discriminações.

Solidarizem-se, porra!

Kruzes Kanhoto, 22.06.20

Passou pelos pingos da chuva uma proposta de criação de mais um imposto. Taxa Covid, propõem chamar-lhe e visará taxar os ricaços. Será, segundo a explicação avançada pelos seus proponentes, uma cena fofinha que abrangerá apenas quem tem muito graveto e que nada terá a ver com austeridade. Apenas solidariedade, esclarecem.

Não estivesse eu farto de ser solidário – ando a sê-lo para aí desde 2009 – e ainda era gajo para achar que se tratava de uma ideia simpática. Não soubesse eu que quem ganha pouco mais do que o salário mínimo já é considerado rico, talvez não me parecesse despropositada uma taxazinha qualquer que permitisse minorar o impacto da crise. Se desconhecesse a maneira como o Estado esbanja os recursos que nos saca, era capaz de acreditar que o produto do esbulho proposto não iria parar aos bolsos dos do costume. Fosse eu parvo de todo, talvez acreditasse que isso dos ricos pagarem a crise não acontece apenas no país das maravilhas.

Mas, confesso, essa cena da solidariedade agrada-me. É por isso que via com bons olhos um impostozinho qualquer sobre todos aqueles que se reformaram na casa dos cinquenta anos de idade – ou menos se tiverem sido políticos – e que levaram a reforma completa após trinta e seis anos – ou menos – de serviço. Era capaz de ser justo solidarizarem-se comigo que, após quarenta anos de trabalho, se me aposentar agora ficarei, de acordo com o simulador on-line da CGA, com  uma pensão de quatrocentos e trinta e oito euros e oitenta e um cêntimos. E é porque, parece, não pode ser menos.

É urgente financiar também a imprensa estrangeira...

Kruzes Kanhoto, 19.06.20

Os países que reabrem as suas fronteiras estão a deixar de fora os portugueses. Não nos querem lá. Por causa do vírus chinês que não há maneira de nos largar, alegam. Coisa que, compreensivelmente, está a causar enorme irritabilidade no governo e na sua imensa legião de apaniguados nas redes sociais. De facto não se compreende como é que no estrangeiro não sabem do enorme sucesso que Portugal tem tido no combate à Covid. Um caso de estudo, até, tal é a eficácia que temos demonstrado na aniquilação do bicho. É o que dá esses decisores lá da estranja não verem os telejornais dos canais tugas. Nem, ao menos, lerem o Público.

Mas, por outro lado, não se percebe a irritação governativa. Vendo bem estas restrições até vêm mesmo a calhar. Assim, se ninguém nos quer receber lá fora, mais portugueses ficam cá dentro a gastar os euros que esbanjariam noutras paragens.

Mais parva ainda é a ideia de retaliar. Ou seja, não deixar entrar em Portugal os residentes em países que não deixam entrar portugueses. Parva e estúpida, acrescente-se. Principalmente agora, que andam os estarolas todos – inclusive o estarola-mor - entretidos na caça ao turista...

Quem defende o desconfinamento é fascista? Bom, depende...

Kruzes Kanhoto, 07.06.20

Se há coisa que me deixa completamente fora de mim e com os níveis de irritabilidade capazes de estourem a escala de qualquer “irritometro” é alguém, fora da minha área profissional, colocar sistematicamente em causa o meu trabalho ou a maneira como o organizo. Daí que as medidas preconizadas pelos técnicos de saúde e implementadas pelos políticos no combate ao vírus chinês, não me tenham suscitado grandes reservas. Eles lá saberão. Foi para isso que estudaram, ocorreu-me na altura.

Hoje continuo a pensar assim. Algum bom motivo haverá para cafés, restaurantes, esplanadas e afins terem sido encerradas ou, como agora, abrirem com fortíssimas restrições. Mesmo que não aglomerem mais do que vinte ou trinta gatos pingados. Para não falar de gente mandada para casa durante semanas, só porque trabalhava num espaço onde se aglomerava uma multidão de mais duas ou três pessoas. Um perigo, parece. Percebo, também, que jogos de futebol ou de outra modalidade qualquer representem uma ameaça inusitada à saúde pública. Tal como ir à praia. Diz que se juntar muita gente na areia aquilo é do piorio. Acredito, igualmente, na perigosidade que seria para o bem estar – nomeadamente do boi – se fosse autorizada a realização de touradas.

É por tudo isso que percebo o incomodo por causa das aglomerações de gente autorizadas noutros países. Refiro-me, naturalmente, ao Brasil e aos EUA cujos presidentes devem, segundo alguns, ser acusados de crime contra a humanidade por rejeitarem a política de confinamento. Surpreende-me, até, que ainda não tenham convocado uma manifestação a exigir a condenação desses dois tratantes. Sim, que isto não se pode ser complacente com gente que promove, permite ou tolera ajuntamentos. Dizem os especialistas da especialidade e eu, obviamente, acredito.

Hipocondríacos seletivos

Kruzes Kanhoto, 15.05.20

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Acho piada aquela malta que faz cenas esquisitas com os bichos. Entenda-se - por cenas esquisitas – dormir com eles, dar-lhes beijos, partilhar comida e outras patetices modernas. Gente que, ao mesmo tempo, manifesta um pavor de morte – próximo da paranoia, diria – com o vírus chinês que anda por aí. O medo é tanto que, pasme-se, algumas dessas criaturas se acham no direito de ficar em casa, sem trabalhar, mas mantendo o direito ao ordenado. Nomeadamente funcionários públicos, que aos privados o patronato capitalista e explorador trata de acertar o passo a quem se dá a esses devaneios.

Mas, escrevia, há quem passe o tempo a desinfetar-se, só retire a máscara para comer e mude de passeio ao vislumbrar outro transeunte. Depois, se calhar, dorme com o bichano que passou o dia a escarafunchar no caixote do lixo. Que é, de certeza, um sitio onde vírus e outras cenas igualmente maléficas não entram.

 

Discriminação no âmbito do confinamento

Kruzes Kanhoto, 10.05.20

A proposta de André Ventura de promover um confinamento especial para os ciganos é, convenhamos, uma palermice. O que não admira, vinda de onde vem. Já a resposta do futebolista cigano – que, se calhar, alguém deve ter escrito por ele – diz, foi muito bem dada. Diz, que eu não perco tempo com discursos de ódio, venham eles de onde vierem. O que julgo saber é que o jogador da bola em questão já terá tido, ao longo da vida, mais problemas com a policia do que o outro sujeito. Estão bem um para o outro, portanto.

Mas, ainda quanto a confinamentos, anda uma cena a moer-me o sentido relativamente a esta polémica. É que estou farto de ver gente indignada com a proposta – parva, reitero – de confinar os ciganos. Mas, assim de repente, tenho a impressão que ninguém se tem importado muito com o confinamento dos velhos que estão nos lares. Nem mesmo quando alguém sugeriu que todos os velhotes fossem confinados até ao final do ano, houve tamanho alarido. Se calhar isto, para além de andar tudo ligado, está também cheio de velhofobicos. Ou, como sugere o meu corrector ortográfico, de velhacos.

Decidam-se, porra!

Kruzes Kanhoto, 04.04.20

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Esta cena das máscaras e do seu uso ser ou não adequado no controlo e transmissão do vírus chinês, está a deixar-me confuso. Tão depressa as entidades oficiais garantem que aquilo não serve de grande coisa como, afinal, já dá uma ajuda. Parece-me que, se calhar, vão mudando de ideias consoante varia o stock. Mas, pelo sim pelo não, o melhor é decidirem-se de uma vez.

Questiono-me – de forma absolutamente parva, admito - se a máscara protege tanto como alguns defendem, por que será que os chineses, que fazem do seu uso um hábito, tiveram de optar pela quarentena e isolamento social? Não deviam, por usar esse apetrecho, estar muito mais protegidos do tal Corona? Estará, de certeza, a escapar-me algo de muito óbvio. O que, naturalmente, não admira dada a minha ignorância quanto a estes assuntos.

Vá lá que a quarentena, recolhimento, confinamento ou o que seja está a ser relativamente respeitada. Esperava muito pior. O que constato, nas esporádicas e inevitáveis saídas, é a mudança da paisagem urbana. Tirando um ou outro transeunte a passear um cão – real ou imaginário - a cidade está quase deserta, sem os habituais bandos de velhos, sem turistas e onde até o lixo está diferente. Espalhadas pelas ruas já não se veem raspadinhas. Foram substituídas pelas luvas. Muitas e por todo o lado.

#vamostodosficarmenosjavardos

Kruzes Kanhoto, 28.03.20

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Quem não tem cão caça com gato e, por estes dias, quem tem medo do vírus e as açambarcou em bom tempo, usa luvas. Quem tem medo, mas já não foi a tempo de açambarcar, desenrasca-se como pode. Não precisam é de ser javardos. Muito menos de deixá-las à porta dos outros. Da minha, no caso.

Podem ter o cuidado que quiserem. É uma cena muito valorizável que só lhes fica bem. Mas assim, com esta atitude, podem estar a contribuir para propagar a doença. Nomeadamente a um canito ou bichano mais curioso. Depois venham para cá com correntes e rezas...

Os papagaios voltaram...

Kruzes Kanhoto, 27.03.20

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Os especialistas da especialidade já andam por aí - por aqui e por todo o lado – a prever uma crise de proporções épicas. Nalguns casos os mesmos, curiosamente, que foram incapazes de desconfiar da aproximação da crise passada são agora de uma enorme perspicácia na visualização da crise futura. De proporções apocalípticas, reforço eu, se bem interpreto as suas sábias palavras.

Até pode ser que tenham razão. Mas, pelo sim pelo não, apetece-me desde já e para principio de conversa, mandá-los à merda. É que algumas dessas alimárias não se coíbem de - ainda sem saber se há crise nem, muito menos, saber a sua dimensão - mandar bitaites quanto à maneira da resolver. E, surpresa, a solução que preconizam é cortar vencimentos e despedir funcionários públicos. Isto, acrescentam, para que o Estado possa apoiar as empresas, injectar dinheiro na economia e essas cenas.

Será, certamente, o que mandam os livros por onde aprenderam. Embora, assim de repente, me pareça que essa solução iria tirar dinheiro à economia e acabaria por estourar definitivamente com o que resta dos serviços públicos. Não sei porquê mas desconfio que, outra vez, à boleia da crise e dos apoios governamentais que todos os dias – e bem - são anunciados, muito oportunista irá encher as algibeiras. A começar, se calhar, pelos papagaios, de todos os quadrantes, que não se cansam de arranjar ideias para a governação do país. Mesmo que, muitos deles, nem as próprias vidas saibam governar.