“Aos olhos da inveja todo o sucesso é crime.”

O Correio da Manhã chama hoje para a primeira página a “fortuna” dos ministros. Conclui, presumo que com muito espanto e bastante horror, que os dezassete ministros acumulam no seu conjunto um património total de quase vinte e um milhões de euros. Toda esta riqueza, entre outras coisas, incluirá prédios, terrenos, automóveis, acções ou depósitos bancários. Se, como informa o dito pasquim, apenas três ministras acumulam quase doze milhões restam apenas pouco mais de nove milhões para os restantes catorze. O que dará, em média, pouco mais de seiscentos e sessenta e quatro mil euros por cada um. Realmente um escândalo, como a noticia parece pretender dar a entender e como a mesma é comentada nas redes sociais por uma multidão de invejosos. Gente que, certamente, preferia ser governada por indivíduos com a conta-ordenado no vermelho, vivessem num Tê zero na Rinchoa e se alimentasse à base de latas de atum compradas em promoção.
A falta de noção é mesmo tramada. Como se alguém com um património dessa dimensão pudesse, mesmo em Portugal, ser considerado rico. Tanto assim é que, ainda não há muitos anos a segurança social pagava RSI a uma família de feirantes que tinha um milhão e setecentos mil euros no banco. Ou – uma história mais antiga - a uma outra que ganhou uma maquia choruda no Totoloto, mas que ainda assim continuava a receber o RSI “por não ter liquidez”, como justificavam as entidades “competentes” nessa coisa de distribuir o dinheiro que nos custa a ganhar.
Se há sentimento que me aflige é a inveja. Nomeadamente quando a mesquinhez envolve os pertences ou o sucesso dos outros. Neste caso nem sequer parece haver muito para invejar. A esmagadora maioria dos invejosos que hoje invectivaram os membros do governo, esturrariam todo esse património enquanto o Diabo esfrega um olho. E quando o Belzebu esfregasse o segundo já estariam endividados.


