É a democracia, estúpidos!
Eleições, em democracia, nunca são um problema. Os resultados, por mais que nos desagradem, também não. Tudo é transitório e, na pior das hipóteses, os governos apenas duram quatro anos. Depois, se o povo não estiver satisfeito com a experiência, escolhe outros.
Cinquenta anos depois já devíamos estar habituados. Mas não. Há quem ainda não perceba que a democracia também funciona quando os outros ganham e não apenas quando os eleitores votam “como deve ser”. Ou seja, de acordo com as nossas escolhas. Não vale a pena chamar fascistas a vinte e não sei quantos por cento dos portugueses, guinchar “não passarão” ou proclamar que vem aí o fim dos tempos. Não adianta. O mundo vai continuar a girar, o sol a nascer no mesmo lugar, passará quem tiver de passar e a minoria ruidosa continuará cheia de azia se – muito legitimamente, como é óbvio – continuar indignada.
Recordo-me de há relativamente pouco tempo, no tempo da famigerada Geringonça, existir gente visivelmente entusiasmada com o rumo que o país estava a levar e garantiam a quem não concordava que o melhor era habituarmos à ideia da coisa ser para perdurar no tempo. Eram, apesar de terem perdido as eleições, a maioria parlamentar. Hoje constituem uma minoria sem qualquer relevância, mas, mesmo assim, mantêm a arrogância de sempre. Para eles são outros que estão errados. São os donos da razão. Os supra sumos da inteligência e os demais uns pobres diabos. Até gente com evidentes problemas cognitivos, fruto da consanguinidade resultante do casamento entre primos, faz proclamações inflamadas acerca dos perigosos avanços da direita. Coitados.
Por mim prefiro os que dizem, seja em que circunstância for, “Há governo?! Sou contra!”. Pelo menos são mais coerentes.