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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

É a democracia, estúpidos!

Kruzes Kanhoto, 31.05.25

Eleições, em democracia, nunca são um problema. Os resultados, por mais que nos desagradem, também não. Tudo é transitório e, na pior das hipóteses, os governos apenas duram quatro anos. Depois, se o povo não estiver satisfeito com a experiência, escolhe outros.

Cinquenta anos depois já devíamos estar habituados. Mas não. Há quem ainda não perceba que a democracia também funciona quando os outros ganham e não apenas quando os eleitores votam “como deve ser”. Ou seja, de acordo com as nossas escolhas. Não vale a pena chamar fascistas a vinte e não sei quantos por cento dos portugueses, guinchar “não passarão” ou proclamar que vem aí o fim dos tempos. Não adianta. O mundo vai continuar a girar, o sol a nascer no mesmo lugar, passará quem tiver de passar e a minoria ruidosa continuará cheia de azia se – muito legitimamente, como é óbvio – continuar indignada.

Recordo-me de há relativamente pouco tempo, no tempo da famigerada Geringonça, existir gente visivelmente entusiasmada com o rumo que o país estava a levar e garantiam a quem não concordava que o melhor era habituarmos à ideia da coisa ser para perdurar no tempo. Eram, apesar de terem perdido as eleições, a maioria parlamentar. Hoje constituem uma minoria sem qualquer relevância, mas, mesmo assim, mantêm a arrogância de sempre. Para eles são outros que estão errados. São os donos da razão. Os supra sumos da inteligência e os demais uns pobres diabos. Até gente com evidentes problemas cognitivos, fruto da consanguinidade resultante do casamento entre primos, faz proclamações inflamadas acerca dos perigosos avanços da direita. Coitados.

Por mim prefiro os que dizem, seja em que circunstância for, “Há governo?! Sou contra!”. Pelo menos são mais coerentes.

Artezinha da boa...

Kruzes Kanhoto, 27.05.25

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Também nesta fotografia, à semelhança da que ilustra o post anterior, podemos observar uma intervenção artística em meio urbano. Parece, até, obra do Bordalo II. Mas não será. Deve ser coisa de outro artista qualquer. Menos afamado, por certo. Por mim, que de artes pouco percebo, chamaria a esta criação “a aparência da desarrumação”. Os objectos, dispostos de forma aparentemente aleatória em torno de uma fonte, podem dar uma aparente ilusão de caos. Só que não. Tudo aquilo gira – na verdade estão quietos, mas isso para o caso não interessa nada – em torno do fontanário. Seco, tal como todos os “bazaréus” espalhados em seu redor. O autor tenta transmitir-nos a ideia de vazio, de indiferença e de aridez enquanto mescla com sucesso o antigo e o contemporâneo. A embalagem de cartão virada ao contrário pode levar o espectador menos atento a pensar que ficou ali por esquecimento. Pois que se desengane. Ela remete-nos para a transitoriedade da desarrumação e para a efemeridade da arrumação. Ou como quase sempre acontece nisto da cultura, para iludências que aparudem.

Arte...

Kruzes Kanhoto, 24.05.25

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Nesta foto, obtida no norte do país, podemos observar um amontoado de sacos de serapilheira, provavelmente cheios de terra, de onde nasceu toda aquela erva. Esta obra de arte – não se riam, estou em condições de garantir que é mesmo arte – pode ser apreciada ao vivo em frente ao edifício da Câmara Municipal lá do sitio. Diz quem percebe destas coisas da cultura, que se trata de uma intervenção artística que convida à reflexão sobre a identidade cultural da vila, a importância do vinho da região e a relação entre o ambiente natural e o espaço urbano. Talvez. Eu, gajo pouco dado às divagações alucinadas propostas pelos "Sempre em Festa"*, por mais que tentasse não consegui refletir acerca dos temas sugeridos. Só me apeteceu, confesso, arrancar as ervas.

* ”Sempre em Festa” é a forma carinhosa pela qual são conhecidos, entre o pessoal da área financeira das autarquias, os colegas que trabalham nas actividades culturais. Não sei quem foi o “padrinho”, mas ouvi-a pela primeira vez, já lá vão muito mais de trinta anos, a um brilhante economista e comunista da velha guarda que se arrepiava com estas coisas. 

Cada qual sabe dos seus precisos...

Kruzes Kanhoto, 22.05.25

De acordo com um estudo divulgado por estes dias, três em cada cinco portugueses não têm dinheiro para as necessidades básicas. Assim de repente, a primeira coisa que me ocorreu foi culpar as políticas socialistas dos últimos trinta anos. Mas, após um segundo olhar para as conclusões dos estudiosos, deu-me para desconfiar. Se calhar não é bem assim. Ou, como diria o camarada Raimundo, o problema não esse, concluindo que as necessidades básicas do povo têm que ser satisfeitas pelo Estado.

Por mim, reitero, desconfio destes estudos manhosos e, principalmente, das manhosices de quem os faz. A começar por essa coisa das “necessidades básicas”. O que constitui uma necessidade para uns, não constituirá para outros. Acredito que emborcar cervejas, meter cenas para a veia ou viajar para destinos exóticos possa ser uma necessidade do mais básico que há. Até para muitos falidos.

Depois o dinheiro. Ou a falta dele. Nunca existiu tanto dinheiro em depósitos a prazo e em certificados de aforro como agora. E isto não não estudos nem opinião, são dados mensuráveis. Ora estes métodos de poupança não são opção para gente rica. Esses investem noutras coisas. Ou, se calhar, põem-no ao largo. Logo, se calhar, não haverá assim tanta dificuldade em poupar, porque o dinheiro depositado nos bancos ou emprestado ao Estado tem de pertencer a alguém.

Que há pessoas a viver com dificuldade em matéria de graveto, há. Sempre houve e sempre haverá. Mas, felizmente e apesar das mal-feitorias que têm feito aos portugueses, não estamos tão mal como nos querem fazer crer. As pastelarias, os cafés, as manicuras, as lojas de tatuagens, as agências de viagens, os pontos de venda das raspadinhas não me deixam mentir.Esses e outros.

Uma chatice, essa coisa do povo votar...

Kruzes Kanhoto, 20.05.25

Não há nenhum animal que tropece duas vezes na mesma pedra. Ou melhor, há um. O homem. Ou a mulher, tanto faz. Este principio pode muito bem ser aplicado aos activistas disfarçados de humoristas e demais paineleiros televisivos, radiofónicos e dos restantes meios de difusão da opinião. Aquela gente não aprende. Andam há anos a fazer propaganda descarada, inclusivamente na comunicação social gerida pelo Estado, visando por todos os meios evitar que os eleitores votem no Chega. Ainda não perceberam que apenas conseguem produzir – como os resultados eleitorais têm demonstrado eleição após eleição – exactamente o efeito contrário. Até eu, casmurro que nem uma porta e que posso ser tudo menos influenciável, tive de deixar de ver o programa do RAP e mudar de canal quando alguns comentadores vomitavam as suas opiniões. É que, se continuasse a ouvir aquelas avantesmas, ainda corria o risco de me convencerem a votar no partido do Ventura.

Também entre os partidos é total a falta de noção acerca do sentimento generalizado entre a população. Usar a causa palestiniana ou pretender baixar o preço das casas, num país onde a esmagadora maioria das pessoas se está a marimbar para o que se passa em Gaza e mais de setenta por cento é proprietária de imóveis, só podia dar o resultado que deu ao BE. Ou, no caso do PCP, promover mais uma greve nos transportes mesmo em véspera de eleições afigura-se uma atitude pouco inteligente. Quanto ao PS o caso é ainda pior. Ou arrepiam o caminho em direcção à bloquização e voltam a ser o partido de “Mário Soares” ou o futuro não lhes reserva nada de bom. Mas isso é lá com eles. Por mim podem continuar assim.

Por último, outra metáfora a envolver a bicharada. Poucos gostamos de lobos. Menos ainda de tê-los por perto. No entanto todos compreendemos que são fundamentais ao equilíbrio do eco-sistema. Nomeadamente no controlo das espécies que, pela sua multiplicação descontrolada, representam uma ameaça. Como, por exemplo, os javalis. 

Quem vier atrás que pague a dívida

Kruzes Kanhoto, 18.05.25

As maiores Câmaras do país estarão, ao que tem sido noticiado, cada vez mais endividadas. As outras, salvo uma ou outra excepção, deverão estar a seguir o mesmo caminho. Ou seja, os autarcas portugueses não aprenderam nada com a tragédia que culminou em dois mil e onze com a intervenção da troika a pedido do governo do partido socialista.

Se, então, o comportamento de quem governava as autarquias era criticável, desta vez é muito pior. Naquela época parte significativa da divida acumulada era resultante de empreitadas de obras públicas. A maior parte de utilidade duvidosa – estádios do euro 2004, centros culturais e outros delírios megalómanos – mas, pelo menos, havia algo tangível. Hoje, desconfio embora admita que possa estar equivocado, a responsabilidade pela dificuldade em manter as contas equilibradas dever-se-á às despesas em futilidades, vaidades pessoais e às políticas absolutamente desvairadas no âmbito da gestão de pessoal e de subsidiação de tudo o que pode garantir votos. Até porque este comportamento pouco parcimonioso na gestão do dinheiro dos contribuintes goza, estranhamente, de um forte apoio popular. É o que eleitos e eleitores têm tendência a pensar. Se calhar, tal como o passado já mostrou, é apenas uma percepção.

Reconheço que os números, quando torturados, dizem aquilo que nós quisermos. Os credores, aqueles que ficam meses ou anos à espera de receber “o deles”, costumam dizer sempre o mesmo. E, por norma, não é bonito de ouvir.

Apedeutas alarves

Kruzes Kanhoto, 17.05.25

A ofensa da moda – nas redes sociais, pois ao vivo e a cores a coisa fia mais fino - é chamar acéfalo a qualquer um a propósito de tudo e, principalmente, de nada. Basta um scroll apressado e lá estão eles, empunhando o teclado como espada, prontos a defender a honra da sua opinião — quase sempre copiada de um meme mal traduzido — com a subtileza de um rinoceronte numa loja de cristais.

Estes novos paladinos da razão têm um insulto favorito: “acéfalo”. É a sua palavra mágica. A Excalibur do ignorante militante. Usam-na com uma frequência tal que, por momentos, somos levados a pensar que o termo perdeu todo o seu significado original. Coisa que, se calhar, desconhecem. Aliás, é de crer que muitos deles julgam que "acéfalo" é uma espécie de detergente ou suplemento alimentar.

Com uma ortografia claudicante e uma sintaxe que faria corar um tradutor automático, lá estão eles, a despejar sentenças com a solenidade de um juiz, mas com a profundidade analítica de um piropo atirado de cima de um andaime por um qualquer trolha em dia de pouca inspiração. Não discutem, sentenciam. Não dialogam, decretam. E se alguém ousa discordar, o veredicto é fulminante: “acéfalo”.

São as maravilhas da era digital. Gente que mal domina o próprio idioma, mas se sente intelectualmente autorizada a distribuir certificados de inteligência. Pessoas que mal conseguem conjugar um verbo, mas que se sentem investidas da autoridade moral de chamar ignorante ao mundo inteiro. São  semianalfabetos com delírios de Sócrates. O filósofo, não o outro, embora as semelhanças sejam irónicas.

Esses cruzados da opinião alheia não querem diálogo, querem catequese. Quem não comunga da sua fé política, desportiva ou do que mais calhar está automaticamente excomungado da inteligência, por decreto de alguém que escreve “noço” e confunde “haver” com “a ver”. E assim seguimos, navegando num mar de sapiência de rodapé, onde cada analfabeto funcional é também um pequeno inquisidor das ideias. Porque, no fim de contas, pensar dá trabalho e repetir insultos dá muito mais likes.

Papas e tolos

Kruzes Kanhoto, 12.05.25

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O público dos canais generalistas, nomeadamente o da manhã, não será particularmente exigente. Digo eu, que para além de gostar de dizer coisas – a maioria das quais para não levar a sério – raramente tenho ocasião de desfrutar dos momentos televisivos de inusitada idiotice que a programação televisiva daquele horário nos proporciona. É o que dá um gajo, ao contrário de outros que se andam para aí a lamuriar, ter de trabalhar muito para além da idade a que esses lamurientos se retiraram do mercado de trabalho.

Ainda assim, enquanto beberrico o meu cafezinho do meio da manhã, lá vou assistindo a uns minutos daquilo. Velhas aos pinotes, criaturas a confecionar o almoço e outros temas de inaudita relevância como unhas encravadas, má-língua e mexericos diversos, problemas relacionados com as partes pudibundas ou outras questões de elevada pertinência vão animando a malta. O que é bom. Se estiverem contentinhos é menos provável que aborreçam os demais.

Dado o ruído de fundo, não ouvi a dissertação acerca do assunto abordado na conversa que a imagem ilustra. Não devo ter perdido grande coisa. Até porque isto já foi tudo muito mais católico e mesmo os que ainda são católicos já não são o que foram.

Acham pouco? Aguardem até ver a vossa...

Kruzes Kanhoto, 10.05.25

Velhota indignada: - Tenho uma reforma de trezentos e oitenta euros…

Luís Montenegro: - É o reflexo da sua carreira contributiva!

Esquerda em geral, comentadores e outros idiotas: - Que falta de empatia, de vergonha e de respeito!

A sério?! Mas o que queriam que o homem dissesse à senhora? Bem ou mal, a pensão que cada um recebe corresponde a uma parte daquilo que era o vencimento sobre o qual descontou. E, no futuro, essa parcela tenderá a ser cada vez menor. Por mim estou mais do que ciente que, quando me aposentar, a minha pensão irá padecer do mesmo mal. Ficará bastante longe do vencimento que tenho hoje e sobre o qual o Estado me confisca uma parte bastante significativa. Mas, disso, ainda não ouvi a esquerda em geral, comentadores e outros idiotas falar de falta de empatia, de vergonha e de respeito. Nem uma indignaçãozinha, ainda que ligeira, isso lhes suscita. Dizem até, que eu bem os ouço, que a culpa é da demografia e só vou ter reforma porque os imigrantes vieram tratar de ma pagar. É mesmo isso, que eu sei. Conheço uma que passa os dias sentada à porta de casa, a apanhar sol aos cascos, que já deve estar cansada de tanto contribuir.

Dar colinho ao passarão

Kruzes Kanhoto, 09.05.25

A esquerda está a ser levada ao colo pela comunicação social. Se não vencer as eleições será apenas por uma questão de inépcia dos seus lideres. Que, diga-se, não se cansam de dar tiros nos pés. São uns atrás dos outros. Mesmo que os jornalistas não os macem com perguntas difíceis, eles tratam de apontar directamente aos seus próprios cascos e puxar o gatilho sem dó nem piedade. PNS foi ontem, a propósito da greve dos comboios, um exímio praticante dessa arte. Aquilo, a bem dizer, mais pareceu uma bazucada. Colocar-se contra as centenas de milhares de pessoas – pobres, com baixos salários e que se não trabalharem não recebem ordenado – que dependem daquele meio de transporte, não é de gente inteligente. Nem decente. Para concluir o momento de desnorte, referindo-se à necessidade de rever a lei da greve, soltou um vigoroso “não passarão!”, palavra de ordem muito apreciada pelo esquerdume. Só faltou o punho erguido. Mas, de alguma forma, tinha razão. Não passaram, não passam e provavelmente continuarão a não passar. Os comboios, claro. Os socialistas e todos os que anseiam por uma frente popular que conduza o país ao caminho para o socialismo e à miséria - passe o pleonasmo – esses, passarão à vontade. Pelo menos no que depender dos jornais, rádios e televisões. Não admira que, quase todos, estejam na falência.

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