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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Mais um corte nas reformas

Kruzes Kanhoto, 30.12.24

Ainda sou do tempo em que tivemos um governo cujo único intuito era matar os portugueses. Uns pela fome – sucediam-se as criancinhas a desmaiar, famintas, nas escolas e os velhinhos a sucumbir por falta de sustento – e outros à força de tanto trabalharem. Sem contar com outras artimanhas que, se me apetecer, aqui lembrarei um dia destes. A vontade de nos dizimar foi tanta que tiraram feriados, dias de férias, aumentaram o horário de trabalho e prolongaram o tempo necessário para chegar à reforma. Uns patifes do piorio, como ainda hoje alguns se recordarão.

A sorte é que depois vieram governos bonzinhos. Devolveram-nos tudo. Até – e principalmente, diria – aquela coisa de nos ludibriar com histórias da carochinha. Ou de encantar papalvos. Tem resultado. A malta acredita. Veja-se, por exemplo, o caso das reformas. Todos acreditam que se acabaram os cortes. A mim, que tenho a mania de olhar para estas coisas da política de um modo estritamente pragmático, parece-me que não é bem assim. Senão vejamos. Em 2013 podia reformar-me aos 65 anos. Hoje saiu a Portaria que fixa a idade da reforma em 66 anos e 9 meses para quem se reformar em 2026. Ou seja, quanto mais trabalho mais tempo me falta para a aposentação. Mas, claro, não há cá corte nenhum. Nada disso. Não é corte ao tempo em que estarei reformado. É apenas um aumento do tempo que tenho de trabalhar, dirão os que comem a palha toda que lhes põem na gamela. Que lhes faça bom proveito.

O povo é sereno...é só mais um desaguisado.

Kruzes Kanhoto, 28.12.24

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Adoro as piruetas linguísticas da comunicação social - e da opinião publicada em geral – quando se trata de reportar ou analisar os cada vez mais frequentes casos isolados que insistem em contrariar o discurso oficial acerca da segurança no país. O esforço para ocultar a origem étnica ou a nacionalidade dos criminosos é tal que, não raras vezes, aquilo se transforma num exercício extraordinariamente enriquecedor para o vocabulário de quem os ouve ou lê. Quase tão grande como aquele que, todos os dias a toda a hora, fazem para nos convencer que Portugal é um país do mais seguro que há e que qualquer ocorrência não passa de um caso esporádico sem nenhuma relevância. No caso de ontem, num centro comercial de Viseu, a retórica mencionava o desaguisado entre famílias desavindas. Uma mera altercação, dizia-se. Nada de especial, de resto. A chatice é essa coisa das redes sociais, que só desinformam e põem em risco a democracia. A parte da vitima ser mulher e de, entre outras coisas, poder estar em causa – ao que tem sido divulgado – o casamento forçado de uma menor, imposto por uma sociedade patriarcal e machista deve ser completamente irrelevante. Nada que justifique cravos vermelhos, beiças pintadas e manifestações de solidariedade por parte dos habitualmente solidários. Raio da arma logo tinha de estar na mão errada.

Maior a prenda do que a chaminé

Kruzes Kanhoto, 25.12.24

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Já todos tivemos, numa ou noutra situação, motivos para nos queixarmos da entrega de algum item que tenhamos comprado. Faz parte daquelas inevitabilidades a que não podemos escapar. Tal como a morte, os impostos ou Sporting mudar de treinador por alturas do Natal. Neste caso – ainda que pouco provável - pode ter sido o tipo da transportadora que, num inusitado gesto de boa vontade natalícia, deixou a encomenda no local onde o cliente lhe terá pedido. No entanto, estando a embalagem onde está, admito que a ocorrência se deva à pouca habilidade para o desempenho da função por parte de um Pai Natal estagiário que perdeu o objecto quando sobrevoou a área. Parece-me o mais verossímil. Até porque, como todos sabemos, seja qual for a circunstância a culpa é sempre do estagiário. Ou então - vá, também admito - ficou no telhado por não caber na chaminé.

Bandidagem de estimação

Kruzes Kanhoto, 21.12.24

A propósito das questões de segurança em geral e daquela cena do Martim Moniz em particular a extrema-esquerda, conceito no qual se inclui o actual PS, não está a dar um tiro no pé. Está, mais o que isso, a crivar-se toda de balas. A disparar contra si própria misseis daqueles do Putin, diria. Pior ainda – que a esquerda auto destruir-se não traria nenhum mal ao mundo - está a municiar o carregador das armas do Chega como nunca o tinha feito até aqui. E antes já fez muito, diga-se.

Que o PCP, o BE e outros que tais defendam drogados, traficantes, criminosos e bandidagem em geral não me surpreende. Faz parte. Estranho seria se não o fizessem. Que o PS faça o mesmo é que é espantoso. Ou então não. De resto o anterior secretário geral daquele partido até ficou sem carteira e, como sabemos, a carteira é uma coisa que não se rouba à distância…

Admito que esta afeição socialista pela delinquência possa constituir uma estratégia política para fazer crescer o partido do Ventura ou outras forças por enquanto embrionárias. Esse eventual crescimento será sempre, suporão os estrategas da ideia, à custa do PSD e, lançado o papão do Chega, proporcionará a constituição de uma ampla frente de esquerda. Desde a fofinha e maluca até à extrema mais sanguinária. Provavelmente, a julgar pelas consequências onde o esquema já foi tentado, terão azar. E nós, que não temos culpa das maluqueiras dos outros, também.

Patriotismo tributário

Kruzes Kanhoto, 19.12.24

“Cantar o hino de mão no peito não é patriotismo. Patriotismo é pagar impostos”. É o que garante uma conhecida figura publica a quem pagam para dizer alarvidades. Presumo que o cavalheiro em causa seja um grande patriota. Não sei quanto ganha, mas a julgar pela quantidade de bebidas alcoólicas de que se fazia acompanhar, em certa ocasião que dei de trombas com ele numa superfície comercial cá da cidade, deve ser um grande patriota. Atendendo à carga fiscal que incide sobre o álcool, aquilo era mesmo muito patriotismo.

Além da notória indigência da baboseira, aquela afirmação é também reveladora do desprezo que estes alarves demonstram em relação aos pobres. Ou, ainda que não sejam necessariamente pobres, aos que não ganham o suficiente para pagar impostos. Esses, no entender daquela maralha, não são patriotas. A menos, se calhar, que cantem a “Grândola”.

Saudinha

Kruzes Kanhoto, 18.12.24

Hoje, por culpa da actualização das comparticipações, a ADSE voltou a ser noticia. Coisa que, como sempre, suscitou a eterna discussão acerca dos privilégios dos seus utentes e da alegada discriminação de que se sentem vitimas todos os outros. Cada um sabe de si. Por mim sei é que a maioria dos jovens que entram para a função pública, nomeadamente os que auferem um vencimento um pouco melhor, não se inscrevem nesse subsistema de saúde. Eles lá saberão porquê. Mesmo quem opta por se inscrever, tirará algum partido das consultas, próteses ou meios auxiliares de diagnóstico. No resto, caso tenha uma daquelas chatices mesmo chatas, ou tem dinheiro – e muito - para se “chegar à frente” ou terá de ir para o SNS como qualquer outro comum dos mortais que não foi ungido pela sorte de ser funcionário público. Não há, nessas circunstâncias, ADSE que lhe valha.

Outra vantagem muito apreciada deste sistema são os chamados convencionados. Por uma consulta de especialidade pagava-se, da última vez que recorri a uma, cinco ou seis euros. Ou sou eu que tenho azar ou não vale a pena. Numa, de oftalmologia, não demorei mais de cinco minutos. Tempo suficiente para fazer a graduação e o médico passar a receita. Noutra, perante a manifesta vontade do jovem médico me despachar, tratei de descrever exaustiva e repetidamente os meus sintomas, aproveitando inclusivamente para nomear outras maleitas passadas e questionar sobre ligações entre elas que até a mim pareciam absurdas. Foi com muito esforço que consegui permanecer no consultório dez minutos mal contados. Apenas, acho eu, porque o rapazola teve alguma consideração por eu ter idade para ser pai dele. Claro que, em ambos os casos, acabei por consultar outro clínico e, desde aí, consulta dessa natureza apenas se conhecer o médico ou me for recomendado por quem o conheça.

Protestem, porra!

Kruzes Kanhoto, 17.12.24

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Para a oposição, nomeadamente o actual secretário-geral do actual PS – não confundir com outros secretários-gerais nem com o PS de outros tempos – a saúde está uma miséria. Uma lástima, mesmo. Uma desgrácia, até. Deve estar. O homem saberá do que fala. Ou não tivesse, ele e o partido dele, estado no governo nos últimos oito anos. Para nós, alentejanos, não precisa de tanto paleio. Nós sabemos que recorrer aos hospitais é uma porra. Ainda bem que, de vez em quando, a informação televisiva evidencia algum rigor e transmite aquilo que todos constatamos. No caso que a saúde está uma porra.

Todes muite burres

Kruzes Kanhoto, 15.12.24

Segundo um estudo recentemente divulgado uma quantidade suficientemente alarmante de portugueses não sabe interpretar um texto simples e é incapaz de realizar operações básicas de cálculo. Nada de surpreendente, a bem-dizer. Podia por-me para aqui a divagar acerca da relação entre essa incapacidade e as escolhas eleitorais, mas nem vou por aí. Basta ver, no caso das gerações mais velhas, o que escrevem no Facebook. Aquilo é todo um compêndio de burrice. Quer nos disparates que escrevem, quer nas interpretações que fazem dos disparates dos outros.

Quanto aos mais novos, a culpa pelos resultados catastróficos que obtém nestes domínios só pode ser da extrema-direita, da sociedade capitalista, do patriarcado, da discriminação em geral e da ausência de uma política de ensino insuficientemente inclusiva. Há que substituir a antiga e bafienta disciplina de matemática pelo ensino das “Ciências matemáticas socio-emocionais com perspetiva de género” e alterar, obviamente, os seus conteúdos académicos. Por exemplo, dois mais dois passariam a ser quatre. Ou o que calhar. Assim todes acertam e todes ficam felizes. E burres.

Lápis arco-íris

Kruzes Kanhoto, 11.12.24

Começo a ter receio de andar por aqui a escrever coisas. Tudo o que se escreve a propósito das pessoas e das ideias de esquerda ou acerca das novas paranoias – e são cada vez mais, aparecem todos os dias e todas mais estranhas do que as anteriores – é ofensivo, discriminatório e instiga ao ódio. O simples facto de considerar estranhas as maluqueiras da moda é capaz de ser enquadrável nisso do discurso de ódio. Pior, considerar que são cenas de malucos provavelmente também é.

Não sei como que era publicar textos no tempo da censura. Por essa altura limitava-me a escrever umas redações na escola. Mas, suspeito, não devia ser mais limitativo do que é hoje. Não se podia fazer critica política – aí, por enquanto, ainda não é comparável – mas em tudo o resto não existiam as restrições de hoje. Nenhum, reitero, nenhum professor me recomendou que não escrevesse piadolas a envolver coxos, marrecos, ciganos, pretos, gatos estropiados, criaturas com gostos desviantes ou sobre o que mais calhasse surgir na minha mente já então delirante em matéria de escrita. Ao contrário do que, desconfio, acontecerá com os alunos que hoje frequentam a escola pública.

Sempre se fizeram piadas e outros dichotes de mau gosto. Os visados, em muitas circunstâncias, recorreram à justiça e viram os autores das supostas ofensas serem condenados. Bem nuns casos, noutros nem tanto. É a vida. O que não existia era o condicionamento disfarçado da opinião que leva à auto-censura e, em última instância, à limitação da liberdade de expressão. Coisa do piorio, como e muito bem se garantia noutros tempos. Foi para acabar com isso, tanto quanto me lembro, que se fez o 25 de Abril. O tal que é para sempre, dizem. Ou para quando convém.

 

Juros à Lagardère

Kruzes Kanhoto, 09.12.24

Uma das frases que mais me apraz ler ou ouvir é que isto ou aquilo vai colocar mais dinheiro no bolso das pessoas. É uma cena fixe, essa de aumentar o pecúlio do cidadão. Tenho, no entanto, muita dificuldade em perceber como é que alguns desses anúncios se concretizam e a maçaroca chega à minha algibeira. Deve ser problema meu. Por exemplo, esta coisa da descida dos juros por parte do BCE. Apesar dos especialistas da especialidade garantirem que o corte nas taxas faz com que as pessoas tenham mais dinheiro disponível ao fim do mês, não estou a ver como é que isso se traduz em realidade para a esmagadora maioria das pessoas. Beneficiará no curto prazo, quando muito, quem possui crédito à habitação com taxas variáveis. Ou seja, provavelmente menos de vinte por cento da população. No longo prazo e se a tendência se mantiver, pelo facto dos encargos com a divida diminuírem, pode libertar recursos públicos para despesas sociais ou assim. Mas nem isso é garantido e, caso aconteça, também não é seguro que beneficie muita gente.

Dito isto e perante os dados do Banco de Portugal, que evidenciam sucessivos recordes do montante investido pelas famílias em depósitos a prazo e certificados de aforro, parece-me que restarão poucas duvidas acerca da maneira como a queda dos juros afectará o bolso da maioria dos portugueses. Mas isso não interessa nada. Seria uma chatice a verdade estragar uma boa história.

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