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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Miséria engravatada

Kruzes Kanhoto, 30.06.23

Os lamentos por causa da exiguidade do salário mínimo nacional têm o condão de me aborrecer. “Vamoláver”, então o SMN anda a aumentar bastante mais do que a remuneração mediana há não sei quantos anos e, ainda assim, continua a ser indigno?! A partir de que valor é que passará, nas sábias palavras da CGTP, a ser digno? O SMN numa economia como a portuguesa, por mais que o governo o aumente, continuará sempre a valer o mesmo. A sua acentuada subida dos últimos anos apenas serviu para desvalorizar o salário médio e, em lugar do efeito pretendido de melhorar a vida de quem ganha o SMN, para aumentar o número de pobres. Ou vulneráveis, como agora se diz no linguajar politicamente correcto da moda. Nunca como agora tanta gente recebeu apoios sociais para tudo, de toda a espécie e oriundos das mais diversas fontes. Se necessitar da caridade do Estado não é ser pobre, então há que rever o conceito de pobreza.

Ó Sol és a minha crença...

Ó Sol és a minha crença...

Kruzes Kanhoto, 29.06.23

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Espanha, que tal como nós sofre as agruras da canícula, proibiu o trabalho ao ar livre nos dias de calor extremo. Uma parvoíce que, espero, não seja replicada por cá. Se for terão muita gente a protestar contra a decisão. A começar pelos ambientalistas, que protestarão por a medida não se aplicar ao trabalho dentro de portas. Nesses dias, argumentarão, o uso intensivo de aparelhos de ar condicionado prejudicará ainda mais o ambiente. Depois os trabalhadores. Provavelmente não lhes agradará a ideia de ficar sem ordenado nem, ainda mais provável, sem os biscates que o chamado horário de Verão lhes permite fazer no pós-laboral. Finalmente todos nós. Parar o país durante dois ou três meses por ano terá um custo significativo que alguém terá de pagar. E nem é preciso ser dado a cenas de bruxaria para saber a quem vai ser apresentada a conta.

Como declaração de interesses… sei o que é trabalhar nessas condições. Passei três Verões a trabalhar alcatroamento de estradas, das oito da manhã às seis da tarde, no Alentejo e grande parte desse tempo no meio de nenhures, onde não haviam arvores ou qualquer outra coisa que fizesse sombra. E, apesar do calor que – pasme-se – já se fazia sentir à época, não derreti. Isto no tempo em que os jovens se queriam ter dinheiro para gastar no que lhes desse na realíssima gana não pediam aos papás. Até porque não adiantava, eles também não tinham.

Este é apenas mais um sinal da chegada ao poder das florezinhas de estufa. Gente que, como diria a minha avó, não sabe o que “custa amar a Deus”. Logo com pouca predisposição para o trabalho e a quem tudo serve de pretexto para não bulir uma palha. De Verão é o calor, de Inverno será o frio, depois o vento ou a geada. Já ir à praia nos dias em que a actividade laboral ao ar livre é proibida não constitui qualquer problema. O Sol, aí, não faz mal nenhum. Mas lixam-se, que nesses dias não há bolinhas… ah, pois é.

Se os manifestantes trabalhassem, o Costa gorvernasse e a Largarde deixasse a inflação em paz...

Kruzes Kanhoto, 28.06.23

Mais um dia de greves e manifestações da CGTP. É, entre outras coisas, o habitual desde o fim da geringonça. As reivindicações também são as do costume. Aumentos de ordenado e cenas assim. Tudo menos a redução de impostos. Essa parte não os aflige. Por mim, enquanto não incluírem a luta contra o assalto fiscal ao bolso de quem trabalha, não os consigo levar a sério. Têm apenas o meu desprezo.

A Lagarde, por sua vez, continua a achar o contrário. Para ela essa coisa de aumentar ordenados e dar apoios sociais apenas serve para aumentar a inflação. A continuar assim a coitada da senhora não tem outro remédio senão continuar a subir os juros. O que levará, quase de certeza, o PCP a mandar os seus prosélitos para as manifestações e fará com que o Costa continue a distribuir dinheiro generosamente.

Enquanto isso os portugueses continuarão a fazer a vidinha do costume, incapazes de adaptar o consumo à actual realidade. Ou seja a esturrar o que têm, mais o que não têm, naquilo em que sempre esturraram. A restauração mantêm-se em alta, os espaços de diversão continuam cheios, as férias na estranja não são para prescindir e os carrinhos de supermercado continuam atafulhados dos mesmos produtos de sempre. Ainda bem que assim é. Não precisam é de ser piegas, como dizia o outro.

"Volta para a tua terra é ofensivo"? Depende...

Kruzes Kanhoto, 27.06.23

Uns quantos nómadas digitais queixaram-se das condições de vida no país, nomeadamente em Lisboa. Tudo demasiado caro, come-se mal e a população não nutre por eles especial simpatia são, entre outras, as principais queixas. A reacção não se fez esperar e foi a óbvia. Vão para a vossa terra, responderam nas redes sociais inúmeros portugueses. A óbvia, digo eu, porque para mim quem não está bem muda-se. No entanto a ausência de reacção das mais variadas “associações”, “observatórios”, “comissões” e intelectualidade variada, que habitualmente se abespinham sempre que essa coisa de regressar à terra de origem é sugerida a alguém, deixa-me perplexo. Será que estamos perante uma forma de intolerância valorizável? Quiçá uma xenofobia do bem, até. Ou a recomendação de voltar para a respectiva terra apenas é considerada ofensa – um crime, quase – em função da cor da pele ou da distância a que fica o país de origem? Se calhar, sim. O que é intolerável, convenhamos.

Abaixo o pequeno capital!

Kruzes Kanhoto, 25.06.23

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Mas querem, ao certo – mesmo ao incerto também serve – referendar o quê? Que qualquer cidadão, num momento de aborrecimento ou apenas porque sim, faça um cartaz e vá para a rua reivindicar o que lhe dê na realíssima gana não tem mal nenhum. Antes pelo contrário. È o exercício de um direito legitimo, por maior que seja a excentricidade da reivindicação. Eu é que sou curioso e gosto de saber o que propõem os meus concidadãos no sentido de melhorar a vida de todos. Manias.

No caso trata-se do cartaz de um movimento, supostamente apartidário, que pretende a realização de um referendo local em Lisboa. As perguntas a referendar ainda ninguém sabe quais serão - diz que estão em período de recolha de propostas – mas na página do movimento o alvo escolhido, identificado como principal responsável pela falta de habitação, é o alojamento local. Já quanto aos hotéis de grandes cadeias internacionais, que também ocupam prédios e isso, nem uma palavra. Cá para mim são fachos, ou direitolas. O que, hoje em dia, é a mesma coisa. Gente que prefere atacar quem ganha a vida e se esfola a trabalhar nesse sector e prefere deixar em paz o grande capital, só pode ser da direita mais reaccionária. E bafienta, já se me escapava. Não tarda, ainda estão a culpar os quase oitocentos mil imigrantes, que por cá aportaram, pela falta de casas acessíveis à bolsa dos portugueses. Ou, vá, a pretender referendar se devemos aceitar ou não a vinda de outros tantos que, ao que tudo indica, também irão precisar de casa para morar. Não me admirava, que dessa direita xenófoba espera-se tudo.

As beldroegas da crise

Kruzes Kanhoto, 23.06.23

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Lá pela agricultura da crise já é tempo de aparecerem as beldroegas. Há quem não goste e considere que são uma praga. Nada mais errado, embora nasçam espontaneamente. Fazem uma sopa fantástica e constituem um prato típico aqui do Alentejo, o que significa que é bom. E falo apenas no âmbito da comezaina porque, diz, a beldroega terá inúmeras propriedades que favorecem a saúde, nomeadamente da pele, ossos, olhos e sistemas imunológico e cardiovascular. Mas destas últimas cenas não sei nada. Talvez sim, talvez não. Confirmo é são mesmo boas e quem não as come não sabe o que perde. Estas têm a vantagem acrescida de serem completamente grátis. Para mim. Numa loja on-line estão a ser vendidas a sete euros o quilo e um prato delas, num dos restaurantes finórios cá da terra, deve ser igualmente carote. É a vida, a inflação, a ganância ou tudo junto.

Foge, se puderes...

Kruzes Kanhoto, 22.06.23

Segundo os especialistas da especialidade, a economia paralela rondará os trinta e cinco por cento do produto Interno Bruto. Por um lado parece-me uma boa noticia. Significa que o governo não consegue pôr a mão numa parte da riqueza produzida no país. O dinheiro, por mais que uns quantos pensem o contrário, não é do Estado. É de quem se esforça para o ganhar. O lado mau é apenas esse número não ser significativamente mais elevado. A carga fiscal assumiu proporções de tal ordem que isto só não dá para o torto por o governo ter conseguido criar uma clivagem entre os portugueses. A metade que não paga IRS devido às manigâncias da tabela, não percebe o crime – sim, crime, que roubar ainda é um acto criminoso - que está a ser cometido sobre a outra metade. Daí que, em consequência desta incompreensão e da completa burrice que em matéria financeira afecta grande parte da população, o governo tenha sempre margem politica para manter este esbulho.

Os impostos que daqui resultariam, no dizer dos especialistas especialmente especializados nesta especialidade, dariam para o Estado fazer coisas. Muitas, garantem. Apesar de não ter especialização em nenhuma espécie de especialidade, não acredito que desse para muita coisa. Daria, quanto muito, para as mesmas. Até porque não estou a ver como é que conseguem demonstrar que, dentro da legalidade fiscal, estas actividades gerariam a mesma riqueza. Provavelmente sem elas o Estado teria de gastar muitíssimo mais em apoios sociais e outras esmolas que tais. O que, parece óbvio, ainda tornaria as contas públicas mais insustentáveis.

Por fim uma questão para qual não vejo resposta. Se quem trabalha sem receber ordenado, apenas a troco de cama, mesa e roupa lavada é escravo, alguém que fica sem trinta, quarenta ou cinquenta por cento do seu salário e, da parte restante, ainda tem de pagar esses itens, é o quê? Meio-escravo? Fica dúvida.

Mulheres de armas

Kruzes Kanhoto, 21.06.23

Sou do tempo em que eram raras as mulheres em cargos governativos. Tão poucas que havia quem jurasse por todos os santinhos – nomeadamente Marx, Lenine e outros – que se as mulheres mandassem no mundo existiriam muito menos guerras. Para os mais optimistas – ou feministas, dependendo do ponto de vista – quiçá até acabassem as querelas a envolver meios bélicos e a paz reinasse no mundo. Nunca, como agora, existiram tantas mulheres no poder. Bastantes, por acaso ou não, no cargo de ministras da Defesa. As guerras, no entanto, são mais que muitas. Será apenas coincidência, que não sou gajo muito dado a teorias da conspiração. A única teoria que cai por terra é a dos visionários cheios de certezas quanto ao pacifismo feminino e à capacidade das mulheres em resolver as divergências através do diálogo.

Nacionalizem o Sol, pá!

Kruzes Kanhoto, 20.06.23

Há uns anos instalar um painel solar para produção de electricidade pareceu-me uma boa ideia. Produzir a própria energia – uma parte, pelo menos – contribuir para proteger o ambiente e, principalmente, reduzir a conta da luz eram os motivos que se propagandeavam para levar o pagode a optar pela energia solar. Até porque o Sol quando nasce é para todos e, excepção aos dias nublados, a poupança que o astro-rei proporciona também.

Mas isto, como tudo na vida, para uns ganharem outros terão de perder. E nisto, como no resto, o Estado nunca fica perdedor. Vai daí inventou as taxas, taxinhas, tarifas e tarifinhas que pagamos na conta da luz. O desgraçado do painel que tenho no telhado, apesar do calor que habitualmente se faz sentir por estas bandas, não consegue produzir energia que compense o saque fiscal que mensalmente me chega a casa disfarçado de factura. Desgraçadamente ainda não existe tecnologia que também produza impostos. E se houvesse inventariam um imposto qualquer para lhe aplicar.

O conceito da noticia aplicado à facada

Kruzes Kanhoto, 19.06.23

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Mai’nada, que essa cena do rigor informativo, de esclarecer cabalmente o leitor, o ouvinte ou o telespectador nunca foi grande ideia. Nem coisa apreciada por ditaduras, diga-se. Até porque, está provado cientificamente, o excesso de informação não é nada bom e é, até, capaz de suscitar problemas de vária ordem. Não confundir, obviamente, estas práticas com actividades censórias. Isto é tudo para o nosso bem.

Lamentavelmente esta maneira adequada de reportar os acontecimentos nem sempre é respeitada. Ainda no outro dia uns agitadores quaisquer armados em jornalistas – inflitrados da extrema-direita, quase de certeza – levaram o dia a esclarecerem exaustivamente que o tipo que atacou crianças com uma faca, num parque em França, é cristão. Assim de repente não estou a ver porque, ao contrário do habitual, não terão respeitado as recomendações emanadas superiormente. Se calhar tem a ver com aquilo que, parece, se aprende nas escolas de jornalismo acerca do conceito de notícia. Só é notícia quando é o homem a morder o cão…

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