Agricultura da crise
Enquanto apreciador da liberdade e da democracia, tabelar os preços de tudo o que não seja monopólio não se me afigura boa ideia. Nem mesmo quando estamos, como agora, a ser vitimas da mais desenfreada especulação. E esqueçam lá essa retórica demagógica das “grandes empresas”, do “grande capital” e de mais umas quantas patetices vindas, na maior parte das ocasiões, de génios auto-proclamados que pouco mais sabem da vida do que resulta da leitura do que a outros apeteceu escrever.
Nada justifica, entre outros exemplos que podia citar, o aumento do preço dos bens que os mercadores da nossa praça praticam sábado após sábado. Não pretendo, obviamente, que o governo fixe o preço da alface, da batata ou do grelo. O que me aborrece são as justificações de quem vende e as “soluções” de quem compra. Prefiro que me digam como o outro, “enquanto pagarem a gente vai subindo”. Ora nem mais.
Por mim, que por enquanto tenho essa possibilidade, prefiro a agricultura da crise a qualquer outra forma de protesto. Até porque, neste caso, os custos de produção não crescem de uma semana para a outra. As cenouras ou as alfaces não padeceram de nenhuma espiral inflacionista desde a sua sementeira, nem tal se espera que aconteça com os alhos ou as cebolas acabadinhas de plantar.