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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Benfazejos

Kruzes Kanhoto, 29.11.22

Por todo o país multiplicam-se o apoios aos – e cito – mais desfavorecidos. O que não deixa de constituir um conceito que, para lá de outras coisas, se afigura absolutamente estúpido. Questiono-me se, desse ponto de vista, todos os demais serão favorecidos. Porquê e em quê é que nunca se esclarece. Pode não ser uma questão especialmente relevante, mas, já que felizmente me incluem no número dos bafejados pela sorte, gostava de saber a quem agradecer o favor.

Todos os dias são inventados novos subsídios e novas maneiras de distribuir dinheiro. Até parece uma competição para ver quem tem a ideia mais escabrosa. Vale tudo. Até dar dinheiro para comprar casa. Ou seja, premiar o risco. Quem comprou a pensar naquilo que efectivamente pode pagar, ponderando uma eventual subida dos juros, esse, que pague e não chateie. Bem feita. Ninguém o manda ser previdente. E, no entender desses benfazejos, um favorecido desta vida.

Ainda assim há, reconheço, espaço para ir mais longe nisso dos apoios. Não me parece justo que os desfavorecidos que compraram carro, férias ou renovaram a cozinha à conta de créditos bancários não se lhes aplique tão benemérita medida. Esses e outros, que dos cofres de onde sai este dinheiro há muito para entrar.

Os publicanos do asfalto

Kruzes Kanhoto, 28.11.22

Cerca de doze mil condutores terão sido multados, em poucos dias, por excesso de velocidade. Excluindo os próprios é, para a maioria,  algo muito apreciado. Bem feita, cumprissem a lei, a mim nunca me apanharão numa dessas, é um discurso que ouço com demasiada frequência e indisfarçável desagrado. Face às ratoeiras, quer a nível de sinalização quer do comportamento das autoridades, só por milagre se consegue escapar. 

Esta actuação das policias constitui um assalto ao bolso dos portugueses e não tem nada a ver com segurança. Se a preocupação fosse melhorar a segurança rodoviária e não apenas encher os cofres do Estado, os radares não estariam escondidos, como acontece quase sempre, em locais onde o perigo é praticamente nulo. Para não ir mais longe, socorro-me apenas do caso das estradas municipais onde agora lhes deu para fazer controlo de velocidade, enquanto ignoram o perigo que constituem os javalis. Os bichos são responsáveis por inúmeros acidentes, alguns que resultaram na morte dos condutores, contudo o controlo desta praga continua por fazer. Sendo, até, proibido o seu abate.

Por mim, que também tento não ser apanhado, procuro cumprir rigorosamente a sinalização que vou encontrando. Por mais ridícula que seja. Sim, limites de 70Km/hora, em rectas com boa visibilidade no IP2, é para lá de parvo. Hoje, fazer uma viagem de duzentos e oitenta quilómetros sempre por estradas nacionais demora quatro horas. Poupa-se nos impostos, mas esturra a paciência de qualquer um. Nomeadamente dos desgraçado que têm o azar de ir atrás de mim. Isto apesar de já ter instaladas umas quantas “apps” que me alertam para a presenças desses salteadores. Mas, mesmo assim, nunca fiando.

O pib não interessa nada!

Kruzes Kanhoto, 27.11.22

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Diz que em 2024 também a Roménia nos vai ultrapassar nessa coisa do PIB per capita, ou lá o que é. Nada com que valha a pena preocupar-nos, já me sossegaram. Aquilo é apenas um indicador sem credibilidade. Parece que, no caso presente, essa ultrapassagem não se deve a nenhum aumento de riqueza. Os romenos é que são menos – estão a perder população - e, portanto, o mesmo PIB a dividir por menos tem de, logicamente, dar mais a cada um. Como pouco percebo destas cenas da economia, sou levado a crer na razoabilidade da explicação. Até porque me foi dada por um reputado especialista na especialidade. É socialista, mas isso é só um pequeno pormenor a que nem dou grande importância. Se ele diz que isso do PIB por cabeça não tem nada a ver com riqueza, então é porque não tem e não se fala mais nisso. Além do mais deve ser uma ultrapassagem transitória. Como os nós, os portugueses, também somos cada vez menos, dentro de poucos anos estaremos à frente da Alemanha ou da França. 

Cuidado com a carteira!

Kruzes Kanhoto, 21.11.22

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Dado que o governo inscreveu no orçamento do Estado uma previsão de receita proveniente das multas de trânsito absolutamente astronómica, cabe agora às forças policiais fazer com que a cobrança atinja o objectivo orçamental traçado pela tutela. Vale tudo. Colocam os radares nos locais mais inusitados. Já não lhes chegam as auto-estradas, os itinerários principais ou complementares ou, vá, as estradas nacionais. O desespero para multar é de tal ordem que vão à caça para onde a presa menos espera. Nem as estradas municipais escapam à sanha destes bravos angariadores de receita. Briosos agentes de cobrança da Fazenda Pública, diria. Talvez consigam um louvor, que isto de arriscar a vida a colocar radares atrás de um qualquer sinal limitador de velocidade, não é para qualquer um. 

Para quem não conhece, o radar referido na imagem acima foi colocado numa estrada com pouco trânsito onde, apesar do bom piso, a velocidade máxima permitida em toda a sua extensão é, no máximo, de 60Km/hora com troços em que o limite não vai além de 30 e 40Km/hora. Até parece de propósito...ou, então, é para facilitar o “trabalhinho”.

Afinal (quase) todos gostaram do "enorme aumento de impostos"

Kruzes Kanhoto, 20.11.22

Nunca hei-de entender a estranha relação que os portugueses têm com os impostos. Deve ser problema meu, admito. Mas lá que é uma coisa esquisita, isso é. Por um lado adoram eximir-se ao seu pagamento, mas, por outro, reclamam daqueles que lhes conseguem escapar. Quando, na sequência da intervenção da troika - pedida por Sócrates para salvar o país da falência provocada pela governação do Partido Socialista – foi necessário fazer “enorme aumento de impostos”, toda a gente reclamou. E bem, diga-se. Agora, se alguém se atreve a sugerir a necessidade de uma redução dos mesmos impostos – até nem precisa de ser enorme – é, no mínimo, acusado de ser um perigoso liberal que quer ver destruído o SNS, a escola pública ou o que mais calhar. Só falta aos defensores da elevadíssima carga fiscal acrescentarem que “o Passos é que tinha razão”…

Também esta cena do clima lhes está a afectar a moleirinha. Quase rejubilam por na COP-27 se ter chegado a acordo para a criação de um Fundo qualquer que irá, alegadamente, ajudar os países mais pobres a minorar esta problemática. Não sei se eles sabem quem é que vai pagar. Talvez saibam. Mas, das duas uma, ou não se importam ou acham que conseguem escapar ao seu pagamento. Numa ou noutra circunstância encontrarão sempre um culpado. Qualquer um serve. Menos eles.

Micro especuladores

Kruzes Kanhoto, 19.11.22

Parece que essa ideia tonta de taxar os lucros extraordinários do sector alimentar em 33% sempre vai avançar. Mas só para as grandes e médias empresas de distribuição. As micro e pequenas ficam de fora. Significa isto que a especulação pode ser uma coisa boa ou má, logo punida ou não fiscalmente, consoante a dimensão económica do especulador. Como se isso, para o bolso do consumidor, fizesse alguma diferença. Não é, como já escrevi noutras ocasiões, que me pareça mal tributar os lucros decorrentes da especulação. Mas, no caso, duvido da eficácia da medida, por um lado e, por outro, da sua justiça.

No âmbito da eficácia, desconfio que a cobrança resultante desta taxa será meramente residual. Os grandes grupos da distribuição sabem-na toda no que ao planeamento fiscal diz respeito e só se estiverem distraídos, coisa em que poucos acreditarão, é que serão apanhados na curva. Depois a questão da justiça. Para mim, que a uns pago e a outros dou o dinheiro, não me interessa nada quem é o especulador. Se é para pagar, que paguem todos. Se o gajo das alfaces, só porque sim, aumenta de uma semana para a outra o produto em 25%, então, nessa lógica do lucro extraordinário, também devia ser taxado. Ou, pior ainda, a mulher dos ovos. Sim, porque não me vão querer convencer que o custo de produção dos ovos do campo subiu trinta ou quarenta por cento nos últimos meses. Que eu saiba os “restos”, ervas e pequenos bicharocos que as galinhas encontram no campo continuam ao mesmo preço de sempre.

Jornalixo

Kruzes Kanhoto, 17.11.22

A reportagem da SIC sobre as alegadas actividades racistas nas redes sociais, por parte de cidadãos que por acaso são policias, pode ou não constituir um frete daquela estação de televisão em beneficio de uma qualquer causa da moda. Mas, se alcançou o objectivo junto da opinião publicada, foi um monumental tiro no pé junto da opinião pública. Aí o resultado conseguido foi exactamente o contrário do pretendido.

Deixo de lado a questão do alegado racismo. Nem vale a pena. Quando o jornalista enaltece os “jovens” e outros indivíduos “racializados” pelo facto de serem isso mesmo - “racializados” – está tudo dito acerca da moralidade que aquela gente tem para falar de comportamentos discriminatórios ou linguagem de ódio.

Prefiro salientar a simpatia com que foi apresentado um alegado caloteiro e a forma como, na parte em que falaram dos ciganos de Beja se referiram a uma comunidade de novecentas pessoas onde apenas dois trabalham. Não sei quem é que educou nem que valores foram transmitidos às criaturas que exercem funções na área do jornalismo. Sei é essa não é a educação nem esses são os valores felizmente ainda vigentes maioritariamente na nossa sociedade. A maior parte das pessoas não tem muito apreço por quem não trabalha – os que comem o pão de alguém, como dizia o Aleixo – nem especial simpatia pelo vizinho que não paga as quotas do condomínio.

Rede?! Qual rede?!

Kruzes Kanhoto, 15.11.22

“António Costa alimentou rede clientelar que existe nos municípios”, diz hoje a capa de um jornal. Assim, sem mais nem menos. Desconfio da noticia. Primeiro porque me parece demasiado descaramento admitir convictamente a existência de uma rede clientelar nos municípios e, segundo, mas tão descarado quanto o anterior, que António Costa a tenha alimentado.

Tudo “fake news”, quase de certeza. Os municípios não alimentam clientelas. Muito menos em rede. Basta cada um dos cinco leitores do Kruzes pensar no seu próprio município e rapidamente concluirá que, na sua terra, não existe nem nunca existiu nada disso. Pode é admitir, quando muito, que esporadicamente lá para o norte ocorrerá um outro caso. Nunca confirmado, apesar de tudo. Também quanto à alimentação que António Costa terá feito a esta rede inexistente, a noticia parece manifestamente exagerada. Com uma pança daquelas, o mais provável é o alimento – a existir, sublinho -  ter ficado todo para ele.

Embora nada tenha a ver com o assunto, ocorreu-me agora que a maioria dos autarcas, ex-autarcas e outros que não sendo autarcas fazem parte do “métier” tem uma estranha tendência para ostentar uma zona abdominal bastante saliente. Alguns até terão sérias dificuldade em lobrigar a biqueira dos sapatos. Deve ser coincidência. Ou da alimentação.

Os activistas do clima que vão mas é semear batatas!

Kruzes Kanhoto, 12.11.22

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Por alturas do PREC havia manifestações todos os dias. Com gente ao magotes, todas elas. Ajuntamentos por tudo e por nada, também.  Em relação a todos, independentemente da causa ou dos protagonistas, tive um antepassado que invariavelmente sentenciava, com evidente desprezo e muitos decibéis acima do razoável, um categórico “vão mas é semear batatas!”

Foi o que me ocorreu hoje quando vi um grupo de gente mal apessoada e de aspecto pouco recomendável a tentar invadir – ou ocupar, nem sei ao certo – a sede da Ordem dos Contabilistas. Pareceu-me apropriado. Se calhar, caso se dedicassem a essa actividade agrícola que o meu antepassado sempre sugeria, estariam a fazer muito mais pelo clima do que a entrar num prédio onde, parece, estaria um ministro que eles não apreciam por aí além. Mas isso de semear batatas não será, presumo, coisa que lhes suscite especial interesse. Faz calos nas mãos e dores nas costas. Até porque podem sempre manda-las vir, já devidamente fritas e embaladas, por um estafeta que se desloque numa mota movida a combustível fóssil.

E reduzir o financiamento das autarquias com gastos excessivos, não?!

Kruzes Kanhoto, 10.11.22

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A imaginação dos autarcas, no que a esturrar dinheiro diz respeito, não conhece limites. E nem falo dos legais, que esses não são a minha “praia”, prefiro focar-me nos outros. Naqueles limites que desafiam a imaginação mais delirante e naquelas ideias que me deixam com inveja de não ter sido eu a tê-las primeiro.

Tirando um autarca – ou um maluco, vá – não estou, assim de repente, a ver quem se ia lembrar de derreter mais de cento e oitenta mil euros a contratar uma empresa para prestar “serviços de criação artística de uma exposição diferenciada, capaz de traduzir os sentimentos e emoções vividas durante os tempos da ditadura em contraponto com a alegria desmedida e euforia transbordante vivida durante e no pós 25 de Abril”. A exigência, reconheço, é enorme. Tão grande como a loucura e a falta de tacto da criatura a quem ocorreu a ideia. Se a empresa em causa conseguir realizar um serviço de acordo com o pretendido, será merecedora de cada euro que os contribuintes os autarcas vão pagar. Ou então, não. O trabalhinho é para uma Câmara comunista e, como todos sabemos, essa malta entusiasma-se facilmente com os temas propostos.

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