O elogio da loucura
Se há gente por quem tenho um enorme apreço e admiração é aquela malta que se entrega de alma e coração à política. Nomeadamente os que, coitados, se sacrificam anos a fio – largas dezenas, até – à causa pública. São os chamados dinossauros. Criaturas que estão tanto tempo à frente das instituições que, às tantas, o lugar já se confunde com a pessoa. Pior. Em muitas circunstâncias é a pessoa que se confunde com o lugar e, qual Salazar após a queda da cadeira, mesmo não mandando nada, continua a pensar que ainda manda alguma coisa. É o que dá, por medo ou outra coisa qualquer, ninguém ter coragem de lhe dizer que o seu tempo de dedicação à causa já pertence ao passado. Mas, confesso, até a estes eu admiro. Quase venero, digamos. A dedicação, o empenho, a magnanimidade com que servem a causa pública e tudo o que fizeram em prol das suas terras e dos seus concidadãos deixam-me prostrado perante a grandeza do seu carácter.
Lamentavelmente a infinita generosidade de que esta gente é dotada, nem sempre é reconhecida. Por vezes aparece quem sugira que se “amanharam” enquanto lá estiveram ou que “arranjaram uns esquemas manhosos para se continuarem a amanhar agora que já lá não estão”. Atoardas, está bem de ver. Quem tem um coração tão grande – maior do que a barriga, às vezes – nunca trilhará esses caminhos. Garanto eu e até sou capaz de o jurar pela saúde do meu gato.