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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Brincar c'a tropa

Kruzes Kanhoto, 30.09.20

Não guardo boas recordações da tropa. Pelo contrário. Detestei cada dia que o Estado português me obrigou a prestar serviço militar. Tinha emprego, vencimento e durante dezasseis meses fui privado de fazer a minha vida normal sem que ninguém me indemnizasse, até hoje, por isso. Coisa que não aconteceu com as mulheres desse tempo que, curiosamente, não reivindicavam o direito de engrossar as fileiras militares. Só os homens passavam por este calvário. Nem elas nem os ciganos. Depois venham para cá falar de discriminação, ou o catano.

Este desabafo vem a propósito das recentes notícias sobre a linguagem inclusiva que as forças armadas pretendem implementar. Acho bem. Isto há que clarificar a questão do inimigo ou inimiga, do canhão ou da canhona, da bazuca ou do bazuco. Entretanto, chamar “Maria Amélia” ao pessoal que não sabe fazer os exercícios deve passar a ser uma coisa extremamente valorizável. Quase tanto – ou mais, na optica do BE e do PAN - como aquilo que diziam os graduados durante a recruta com o intuito de aborrecer os “maçaricos”. Garantiam eles que recruta está na escala da evolução humana dez pontos abaixo de polícia que, por sua vez, está vinte abaixo de cão.

Só falta, mas não tardará, um manual de boas maneiras e espírito de tolerância do combatente. Ou combatenta.

Diz o roto ao nu...

Kruzes Kanhoto, 28.09.20

Parece que estarão para breve umas normas quaisquer acerca de tatuagens e indumentárias que os policias portugueses poderão ostentar. Ao que leio, tatuagens de cariz partidário ou racista não serão permitidas. Coisa que está a indignar os agentes da autoridade. Não vejo, sinceramente, motivo para tanto. Nem, sequer, acredito que entre os policias haja gente capaz de desenhar uma foice e um martelo nas costas ou um Che-Guevara no braço. Era demasiado mau-gosto e refinada parvoíce.

O mesmo com a vestimenta. Não podem, parece, entrar e sair das esquadras de t-shirt, calções e chanatos. Que policia é uma profissão digna e as esquadras locais de respeito. Nada que se compare, por exemplo, à Assembleia da República, por onde qualquer marmanjo circula de saia. Daí, reitero, não vislumbrar motivo bastante para suscitar grandes preocupações aos agentes da autoridade. Nada os impedirá de entrar, ou evacuar a área, de saia rodada ou vestidinho de chita. Impedi-los seria discriminação ou, sei lá, coisa pior. Assim tipo, machismo, ou isso.

A cultura é uma arma...

Kruzes Kanhoto, 27.09.20

Cultura. Reconheço que não escrevo o suficiente acerca do tema. Penitencio-me por isso. Melhor do que penitenciar-me talvez seja, até, enveredar por uma carreira no sector. O pior é que não tenho jeito nenhum para as artes. Cantar, dançar ou representar não são actividades artísticas onde possa aspirar a ter o mínimo de sucesso. Ainda que, como sobejamente se vê por aí, não falte gente com o mesmo grau de inaptidão a ser “levado em ombros”.

Talvez escreva uma peça de teatro. Como o outro que escreveu aquilo da “Catarina ou a beleza de matar fascistas” e, em vez de ser processado por discurso de ódio, ainda lhe pagaram. Posso revelar em primeira mão e rigoroso exclusivo para os leitores do Kruzes que já tenho alguns títulos em mente. “Adolfo ou o encanto de exterminar judeus”, “António ou as maravilhas de torturar comunistas”, “Joseph ou a satisfação de chacinar democratas” e “André ou a espectacularidade de malhar nos ciganos” são apenas algumas ideias. Quanto à trama, logo se vê. Por enquanto mantenho aquela máxima. “Quando ouço falar em cultura só me apetece puxar da metralhadora”. Uma ou outra vez, confesso, no real sentido do termo.

Meliante bom é meliante filmado!

Kruzes Kanhoto, 26.09.20

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No actual contexto pouco me surpreende a recepção que um grupo de “jovens” – agora é assim que os meliantes são tratados pelos órgão de (des)informação - dispensou a uma patrulha da GNR num bairro de Cascais. O sentimento de impunidade é generalizado e sovar as autoridades é coisa mais ou menos normal e prática comummente aceite. Bater num cão é hoje muito mais grave do que chegar a roupa ao pelo a um policia. Pelo menos a nível de indignaçãozinha da populaça.

O que ainda me consegue espantar é aquela rapaziada que tentou sovar os GNR’s, ter filmado os desacatos e, no final, ameaçar entregar as imagens à televisão e ao tribunal. Achando, muito provavelmente, que retirariam daí alguma vantagem ou que o seu comportamento sairia legitimado e, em contrapartida, os agentes da autoridade feitos ao bife. Se calhar têm razão. E esse é o problema.

 

IRS - Quando os argumentos descem ao nível da pré-primária...

Kruzes Kanhoto, 25.09.20

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Acabo esta série de posts que tiveram como tema a proposta da Iniciativa Liberal no sentido de ser implementada uma taxa única de IRS, com as reacções que esta ideia suscitou. Duas, basicamente. Ambas bastante básicas, diga-se. “Não, porque assim os ricos pagariam menos”, uma delas e “não, porque quem não paga não é beneficiado”, a outra. Elucidativo. Um argumentário bastante revelador. Nem vale a pena dizer do quê. Mas que nos devia deixar em alerta sobre o carácter de quem o usa. O desprezo a que votam a metade dos portugueses que pagam IRS diz muito acerca de quem nos dirige e dos badamecos gravitam à sua volta.

Um dia destes voltarei ao assunto. Por agora, que o fim do ano começa a aproximar-se, vou fazer planeamento fiscal. O meu. Que isto, sem taxa plana, há que fazer tudo para pagar a taxa mínima.

“O IRS é o imposto que mais contribui para a eliminação da desigualdade salarial”

Kruzes Kanhoto, 24.09.20

Uma afirmação lapidar, esta. Dita assim até parece ser uma coisa muito virtuosa. Nomeadamente para alguns tolinhos, iletrados, demagogos diversos e gente com o cuzinho cheio de boa vida, como remataria a minha avó.

Vejamos o contributo - no âmbito da função pública - desse imposto virtuoso para eliminação das desigualdades salariais. Nomeadamente ao igualar o vencimento de quem ganha um pouco mais do que o SMN. Uns ricaços, na perspetiva comunoide dos moluscos esquerdistas para quem apenas importa o discurso populista e demagógico do aumento do salário mínimo que esquece todos os demais.

Carreira Vencimento TSU IRS ADSE V. Liquido
Técnico Superior 1 205,08 € 132,56 € 174,74 € 42,18 € 855,61 €
Assistente técnico 693,13 € 76,24 € 29,11 € 24,26 € 563,51 €
Assistente Operacional 645,00 € 70,95 € 0,00 € 22,58 € 551,48 €
SMN 635,00 € 69,85 € 0,00 € 0,00 € 565,15 €

 

Digamos, perante estes números, que o objectivo é praticamente atingido. Em termos líquidos um assistente técnico – o administrativo de um centro de saúde, por exemplo – aufere mais doze euros do que a senhora da limpeza. Que, por sua vez, recebe menos trezentos euros do que a técnica trata das análises. Ainda assim, se calhar, uma diferença demasiado grande do ponto de vista dos que acham que devemos ser todos pobres.

Há, em conclusão, que rejeitar liminarmente a ideia de uma taxa plana – igual para todos - e ponderar o aumento do IRS. Mais dinheiro no bolso de quem trabalha pode levá-los por maus caminhos. Melhorar de vida, nomeadamente. E depois, como ouvi dizer em inúmeras ocasiões a alguns “camaradas”, aburguesam-se e já não votam na gente. Uma chatice, de facto.

IRS - Se a inveja fosse dedutível...

Kruzes Kanhoto, 23.09.20

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Para muita gente cinquenta euros ao fim do mês a mais no ordenado não são nada. Setecentos, no final do ano, também não. Mesmo que estejamos a falar de vencimentos abaixo ou a rondar os mil euros. São, curiosamente ou talvez não, os mesmos que rasgam as vestes sempre que recordam a austeridade, as patifarias do Passos Coelho, o roubo dos salários e que se afirmam convictos defensores dos trabalhadores. E do povo, como diz o outro.

Não me surpreende este pensamento. Tal como não me espanta a incapacidade de muitos outros em perceberem que sim, efectivamente a generalidade dos trabalhadores por conta de outrem ficariam a ganhar com a taxa plana de irs. Talvez vendo a imagem que que acompanha o post percebam. Os valores referem-se à tabela de retenção na fonte de “casado – dois titulares – sem dependentes”. É esta apenas por ser a que se me aplica, mas ser outra qualquer. O resultado não teria diferenças substanciais.

Sendo um imposto anual, o resultado final não é, obviamente, a soma das catorze retenções. Há que ter em conta toda uma panóplia de deduções e abatimentos. Nomeadamente de despesas de saúde, educação ou exigência de factura que poderão ter alguma influência no apuramento. O que constitui um dos principais argumentos dos que são contra a taxa única. Válido e muito pertinente, diga-se. Só é pena que se esqueçam de acrescentar que, ao arrepio das suas alegadas preocupações, essa benesse é quase irrelevante nos rendimentos mais baixos. Mas, no fundo, nada disso lhes importa. Desde que dez ou vinte ricaços não deixem de pagar umas centenas de milhares de euros, querem lá eles saber se centenas de milhões de portugueses ficam ou não com mais dinheiro disponível. A isso chama-se inveja. Ou parvoíce, sei lá.

IRS - É a ignorância que os faz felizes

Kruzes Kanhoto, 22.09.20

Tal como se esperava, a proposta da Iniciativa Liberal visando a criação de uma taxa única de irs não “incendiou” as redes sociais. Um fogaréu aqui ou ali e nada mais do que isso. Ainda se fosse um cão esquelético que urgisse salvar…

A ignorância generalizada relativamente a este assunto não me surpreende. Mas diverte-me. As pessoas não sabem fazer contas nem, a esmagadora maioria, tem sequer a mais pálida ideia do que se está a falar. Mesmo aquelas que, por força dos cargos que ocupam, tinham a obrigação de possuir um conhecimento, ainda que mínimo, daquilo que está em causa. Um bom exemplo foi o debate entre os representantes da Iniciativa Liberal e do Bloco de Esquerda, uma noite destas na SIC Noticias, sobre a taxa única de IRS. Foi algo assim:

(IL) - “Todos os portugueses vão pagar menos”

(BE) - “Isso é mentira, pois quem não paga nada não paga menos”

(IL) - ?!?!?!? (siderado perante a idiotice do argumento)

(BE) - “as pessoas não sabem que não pagam…”

A argumentação do esquerdista radical que sustenta o governo passou depois para as comparações. Para ele o grande beneficiado será um CEO qualquer que ganha dois milhões por ano que verá, de acordo com a proposta da IL, a factura do IRS reduzida de oitocentos mil para “apenas” trezentos mil euros. Já um trabalhador que aufere oitocentos euros mensais terá, segundo os cálculos do extremista, uma redução mensal de cinquenta euros. Curiosa esta maneira de fazer as contas. Ao ano para um e ao mês para outro. Podia ter acrescentado que no segundo caso era quase mais um mês de ordenado. Ou, mas isso já era pedir demasiada honestidade intelectual, quantos trabalhadores ganham por mês oitocentos euros – ou menos – e quantos CEO’s ganham por ano dois milhões – ou mais. E, já que estava com as mãos na massa, podia também ter dito por que raio sustenta no poder um governo que pratica esse tipo de discrepância salarial em entidades sob a sua responsabilidade.

Impostos?! Isso não interessa nada.

Kruzes Kanhoto, 21.09.20

O IRS é um assunto que desinteressa profundamente à maioria dos portugueses. Não admira. Metade não pagam e uma grande parte dos outros não quer saber. Têm outras preocupações. Coisas sérias e importantes como fascismo, racismo, Ventura, Trump, Bolsonaro, extrema-direita, o que cada um faz com o rabo, as diatribes do Vieira ou seja lá o que for que a comunicação social resolva promover como assunto do dia. Isso sim, é que é de preocupar. Agora cá impostos...que perda de tempo.

Pois a mim, que tenho um prazer imenso em ser do contra, é o que mais importa. E aborrece, principalmente. Não gosto nada de olhar para o meu recibo de vencimento e constatar que os valor dos “descontos” representam cerca de cinquenta por cento da coluna do “vencimento liquido”. Ou seja, em termos práticos, em cada mês trabalho vinte dias para mim e dez para o Estado. Isto deixando de lado que do “liquido” que escorre para a minha conta ainda vai verter uma parte significativa para IVA, ISP, IMI, IUC, mais todas aquelas taxas e taxinhas das facturas da luz e da água ou incluidas no preço de muitos outros bens.

Este é um tema que não me traz leitores. Pouco me interessa. Vou escrever sobre ele toda a semana. É que aquela frase que ouvi ontem pronunciada por um dirigente – deputado, ou lá o que é – do Bloco de Esquerda, não me sai da cabeça. “O IRS é o imposto que mais contribui para a eliminação da desigualdade salarial”. Pudera. Até o meu gato imaginário, o Bigodes, sabe porquê.

Só ralações

Kruzes Kanhoto, 20.09.20

A agenda da comunicação social é notável. Demonstra que quem está nas redacções conhece o país como a pele das suas costas, que era uma expressão muito usada pela minha avó para evitar chamar ignorante a alguém. Desde ontem que a morte de uma juíza velhota lá do States não sai da ordem do dia dos telejornais. Realmente os portugueses só querem mesmo é saber se a criatura vai ser substituída antes ou depois das eleições para presidente da América. Por mim falo, estou raladinho de todo com isso. Tanto que esta noite quase não preguei olho, a matutar no assunto. E não sou só eu. Hoje na rua não se falava noutra coisa. Na padaria, as duas pessoas que a lotação permite tinham ideias antagónicas. Uma achava que sim, era de substituir já – que isto é como na bola, acrescentava – e a outra indignava-se com essa possibilidade – mais uma patifaria do Trump, esse malandro. Também quando registei o Placard do dia, esse era o assunto dominante. Alguns até faziam apostas sobre o caso.

Entretanto, cá pelo país, vão acontecendo coisas para além do covid. Acho eu.

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