O barato sai caro. Nos ordenados também...
Diz que o número de aposentações na função pública terá aumentado, face ao período homologo do ano anterior, vinte sete por cento nos primeiros sete meses de 2020. Nada de surpreendente, convenhamos. A miserabilidade dos vencimentos dos funcionários públicos é gritante. Daí que a motivação de quem se pode aposentar - mesmo com todos os cortes - para continuar a trabalhar seja praticamente nula. Nomeadamente aqueles, como por exemplo um operário especializado, que ao fim de trinta e seis anos de trabalho ganham 740,26 euros brutos e levam para casa 673,09 líquidos. O salário mínimo, sensivelmente.
Não admira, por isso, que na função pública quem saiba fazer qualquer coisa opte, assim que pode, por se reformar. Um pedreiro, canalizador ou eletricista que antecipadamente se aposente ficará com uma pensão a rondar os 440 euros. Pouco e, ainda assim, com uma perda substancial de rendimentos. Mas que facilmente será compensada e até largamente ultrapassada se fizer meia dúzia de pequenos biscates. Com a inegável vantagem de aí o fisco não meter a unha.
Obviamente que, a longo prazo, este será mais um problema. Para todos. Ou, pelos menos, para a metade dos portugueses que pagam impostos. Dos muitos que se aposentam com estes valores, poucos terão no futuro recursos para viver uma velhice digna. Terão, naturalmente, de ser os contribuintes a resolver o problema. Que, ao contrário do que muitos possam pensar, existe, não será barato e alguém terá de pagar.