Mesmo não sendo devoto de nenhuma causa religiosa – a minha religião é o Benfica, e isso me envaidece – tenho a vaga sensação de, em algum lado, ter lido ou ouvido que a igreja católica estaria a atravessar uma grave crise de vocações. Tanto assim seria que, ao que até agora era a minha crença, os candidatos a percorrer os caminhos da fé e a dedicarem a vida a Cristo seriam em número quase insignificante. Ou seja, ninguém queria ir para padre.
Parece que, também nisto, não podia estar mais enganado. Afinal existirá uma legião imensa de gente que aquilo porque mais anseia é vestir a sotaina. Bastou um clérigo qualquer afirmar que os homossexuais não reúnem as condições necessárias para o acesso à profissão – de fé, no caso – e que, portanto, não serão admitidos no sacerdócio para, quase de imediato, serem mais do que muitos os que, de repente, descobriram a vocação. Isto, claro, a julgar pelas reacções exacerbadas que as palavras do senhor – o vigário, não o Outro – motivaram entre, quero acreditar, os putativos candidatos a seminaristas. Ou, então, são apenas os cães raivosos do politicamente correcto a mostrarem os dentes quando alguém lhes “vai ao cú”.
Mas, a bem dizer, a posição da igreja quanto a esta temática não se me afigura muito católica. Podiam, digo eu, aceitar os homossexuais. Pelo menos os não praticantes.