Acho – e não é de agora, é desde há uns anos a esta parte – que o país ensandeceu. Ou antes, os portugueses ensandeceram. Que o país, coitado, não tem culpa de ser habitado por malucos. E o pior é que todos os dias alguém se encarrega de me dar razão nesta minha convicção. Dois exemplos, por hoje.
O primeiro tem a ver com o fim dos contratos de associação entre o Estado e os colégios privados. Na sequência da não renovação do contrato um desses estabelecimento de ensino fechou portas e mandou dezenas de funcionários para o desemprego. Pois que segundo algumas alminhas iluminadas, daquelas que até são contra isso do Estado subsidiar escolas privadas quando existe oferta pública, não o pode fazer. Portanto a dita escola não tem alunos, mas que nem pense em encerrar. Nem, muito menos, despedir os empregados. Se não é raciocínio de doido varrido não sei o que lhe chame.
O segundo é uma proposta de lei que, a ser aprovada, impedirá os senhorios de, contratualmente, proibirem os inquilinos de possuir animais domésticos nas casas que alugam. Já nem vou pronunciar-me acerca de cada um partilhar o mesmo espaço com um bicho. Deixo, igualmente, de lado o incomodo que um cão a ladrar ou a uivar causa aos outros habitantes do prédio que nada têm a ver com as taras do vizinho. Limito-me, apenas, a assinalar que em Portugal, após quarenta e dois anos de democracia, existe gente na Assembleia da República que não entende o conceito de propriedade privada, de negociação entre privados, de funcionamento do mercado e de livre contratação entre as partes. Estes, para além de malucos, são os mais perigosos.