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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Da frase “não há dinheiro” qual a parte que não percebe?

Kruzes Kanhoto, 31.05.13

Esta pergunta, consta, terá sido feita várias vezes, diz que até em reuniões do conselho de ministros, por Victor Gaspar a um ou outro colega de governo quando estes resistiam aos cortes de verbas que o titular da pasta das finanças tentava impor aos seus ministérios. Esta expressão, a par da sua confissão de benfiquista deprimido, foram, assim que me lembre, as únicas ocasiões em que senti uma pequena dose de simpatia pela criatura. Mas, garanto, passou-me depressa. Mesmo sabendo que governar esta pocilga e ser adepto do Glorioso são duas condições muito penosas nos dias que passam. 
O orçamento rectificativo divulgado hoje contribui, ainda mais, para me fazer desconfiar dessa coisa da falta de dinheiro. Ou melhor. Para, também eu, evidenciar uma notória falta de clarividência para descortinar o significado dessa sequência de três palavras tão do agrado do benfiquista Gaspar. É que se a minha compreensão para trabalhar mais uma hora por dia, mesmo ganhando menos, ou para mais um aumento de impostos, apenas para assegurar o nível de benefícios de saúde que já existem, não era muito elevada, agora bateu todos os recordes negativos. 
E isto porque, mais uma vez e como sempre, a falta de dinheiro não é para todos. Para uns, nomeadamente em ano de eleições, vai-se sempre arranjando qualquer coisinha. Não tenho nada contra os autarcas - ou candidatos a isso  - do PSD. Desejo apenas que tenham, nestas e apenas nestas autárquicas, um resultado abaixo de miserável. Ao nível deste governo, portanto. 

Isto não pode parar?! Pois não, deve é cumprir o limite de velocidade.

Kruzes Kanhoto, 28.05.13
"Gaia não podeparar". É o que escreve no facebook, de forma entusiástica, ocandidato do PSD aquela autarquia. O mesmo que exortou os magrebinos,termo depreciativo que a bimbalhada usa para se referir aosportugueses que vivem a sul do Mondego, a curvarem-se perante avitória do clube de futebol do Porto no campeonato nacional dopontapé na bola. Obtida sem saber ler nem escrever e,inequivocamente, oferecida pelo adversário directo quando jáninguém esperava. Nem eles. Mas isso agora não interessa nada. Nemvem ao caso.
Estetipo de discurso nãoé novo. Pelo contrário. É coisarecorrente. Mesmo emtempo de crise, quando estamos todos fartos de saber –ainda que alguns se esforcem por ignorar - que não há dinheiro para pagartanto movimento e que estamos a pagar pelo excesso de velocidade. São muitos os que acham que “isto não pode parar”.Como acontece com ocavalheiro candidato. Mas só quando está em campanha lá pelonorte. Os ares do Magrebe fazem-no mudar radicalmente de opinião edefender exactamente o contrário. Deve ser porque é só no confortodo palácio magrebino que tem tempo de ler o relatório e contas daCâmara a que se candidata e concluir que dois anos inteiros dereceita mal chegam para pagar os quase duzentos e dezoito milhões de euros de divida da autarquia a que se propõe presidir.

O Benfica é como o ordenado...

Kruzes Kanhoto, 26.05.13

Com esta maniado politicamente correcto quase não se pode, hoje em dia, contar umaanedota, dizer uma piada ou mandar umas larachas sem correr o riscode ofender meio mundo. Nem, pior, de no retorno ser valentementeofendido, ameaçado ou – o mal menor - alvo da promessa deapresentação de queixa na justiça. A menos que a anedota, apiadola ou o dichote tenha como protagonista um alentejano. Aí acoisa passa a ser encarada como obra do mais fino recorte e o seuautor considerado possuidor de um refinado sentido de humor.
Livre-se alguémde se meter com paneleiros ou fufas. É, de imediato, consideradohomofóbico. Seja lá o que for que isso signifique. Com pretos ouciganos nem pensar. Será logo apelidado de racista. Piadas sobrereligião, excepto se for para implicar com padres e freiras, émelhor pensar duas vezes e olhar outras tantas para o lado não váalguém rebentar com o candidato a piadista. Ou, se sobreviver, nãose escapa da acusação de fomentar o ódio religioso. Restam aspiadolas sobre futebol. Mas, também nesse campo, é melhor não irpor aí. Despertam uma ira cega e irracional no adepto adversário,pouco compatível com o comportamento de uma pessoa civilizada.
Toda esta genteé incapaz de ter a mesma reacção dos alentejanos perante asanedotas que a toda a hora têm de aturar. Somos, como poucos,capazes de nos rirmos de nós próprios. Isto quando as piadasenvolvem apenas a nossa condição de nascidos no Alentejo, porque noresto somos iguais aos outros. É lamentável que seja sobrepolitica, religião, futebol ou outra coisa qualquer não consigamostodos reagir com o mesmo distanciamento e sentido de humor.
Termino com umapiada do Pinto da Costa. Um individuo que eu, enquanto benfiquistaferrenho, não suporto. Contudo, por mais que as suas indirectas mecustem a engolir, a verdade é que o homem às vezes tem piada. Aúltima do gajo é genial. Diz ele que “o Benfica é como oordenado. Vai-se tudo nos descontos.” Brilhante. Mesmo vindo deonde vem. Mas que, aposto, já deve ter indignado muitos milhões debenfiquistas.

PS - O Benfica perdeu mais um troféu. Mas hoje o problema não foram os descontos. Foi a sobretaxa.

Inevitabilidades

Kruzes Kanhoto, 25.05.13

A propósito dopost anterior, questiona-me o único visitante que o comentou – o “Jony” -  se eu “ia”. Concluindo de imediato que “ia masera o tanas”. Referindo-se, presumo, à minha apetência paraaceitar um desses trabalhos que não há quem queira fazer. Isto seestivesse no lugar dos desempregados que não aceitam trabalhar naagricultura.
Ainda que achepreferível ganhar pouco e trabalhar muito a não ganhar nada e nadafazer, digo-lhe que, assim de repente, nem desconfio se “ia” ouficava. Isto apesar de viver numa região onde até há pouco tempo –para aí uns quarenta anos, o que praticamente foi ontem – aspessoas se deslocavam, sazonalmente, para trabalhar fora da sua zonade residência quando por cá não havia trabalho. Recordo-me defamílias inteiras – meus vizinhos, à época – que iam durantesemanas para o Ribatejo fazer a apanha do tomate. Ou em sentidoinverso, mas disso lembrar-se-à o meu pai, os beirões que vinhampara o Alentejo na altura de ceifar as searas.
Isto para dizerque esta realidade que pensávamos ultrapassada não constitui, pelomenos para muitos de nós, uma grande novidade. Convivemos com ela e,quase de certeza, vamos voltar a encontrá-la por aí um destes dias.Se fico satisfeito com esse reencontro? Obviamente que não. E quemme lê com regularidade fará a justiça de o reconhecer. Agora que éuma inevitabilidade para que nos devemos preparar, disso nem vale apena ter dúvidas.

Não há trabalhadores?! Experimentem pedir colaboradores, pode ser que resulte.

Kruzes Kanhoto, 24.05.13

Nos tempos quecorrem a noticia da falta de mão de obra para trabalhar só podeconstituir uma espécie de piada. De mau gosto, no caso. Neminteressa saber onde é o trabalho ou no que consiste. Quando odesemprego atinge os níveis dramáticos que se conhecem, parecepouco razoável que um empregador tenha de recorrer a estrangeirospara ver satisfeitas as suas necessidades laborais.
Trabalhar nocampo não é fácil. Ganha-se mal – miseravelmente, reconheço –mas, ainda assim, será seguramente menos mau do que não ter empregonem dinheiro para sobreviver. Que, também reconheço facilmente, éo máximo que se pode fazer com os ordenados que se praticam naagricultura e noutro sectores pouco exigentes em matéria dequalificações. Embora isso, vendo o que oferecem aos licenciados,seja muito relativo.
Estamos,nalguma parte do sistema, a cometer um erro qualquer. Identificá-loestá, naturalmente, fora da minha órbita de conhecimento. Acabar comtodo o tipo de apoios sociais, para obrigar quem deles beneficia aaceitar qualquer tipo de trabalho, não será a solução. Fazê-loseria criminoso. Mas, quando existem desempregados a “dar com umpau” a mendigar empregos aos presidentes das câmaras e, mesmo aolado, um empregador não consegue arranjar quem queira trabalhar,também não me parece um coisa muito séria. Por muito que issocuste a uma elite bem pensante e que, como dizia o Jerónimo, sabe“lá o que é vida”.

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