Fome, fomeca, larica ou já marchava qualquer coisinha...
Kruzes Kanhoto, 30.11.12
Aemissão da manhã da rádio Antena Um tem estado a ser dedicada àpobreza, ao empobrecimento e, de uma forma geral, a dar voz asituações de algum dramatismo que envolvem as novas condições devida dos portugueses. Foram muitos os relatos de quem perdeu quasetudo – a casa, o emprego e a qualidade de vida anteriormentedesfrutada – e que agora é colocado perante alternativas com que,de forma alguma, esperava vir a deparar-se. Ou, pior ainda, a faltadelas.
Verdadeque cada situação será sempre diferente e que cada individuo lá“sabe as linhas com que se cose”. Há no entanto alguns relatosque me deixam de pé atrás. É o caso descrito por um desempregado,alegadamente a receber mil e cem euros de subsidio de desemprego, comdois filhos que também não trabalham – provavelmente estudam –recebendo a esposa seiscentos e cinquenta euros provenientes de umemprego num call-center. Cerca de mil e oitocentos euros seriam,segundo o próprio, o rendimento total da família. Um valor que,acrescentava, insignificante e que em breve o faria regressar paracasa da mãe pois, garantia, estaria a passar fome. Finalizou a suahistória afiançando que com aquele montante era impossível dar decomer a quatro pessoas e que o seu desespero ainda era capaz de olevar a alguma loucura.
Nadana actual situação me surpreende. Não sou bruxo, adivinho, nemtenho qualquer tipo de poderes que me permitam antecipar o futuro.Contudo, nada do que se está a passar era difícil de prever.Estava, aliás, mesmo a ver-se que era no que ia dar. Como quem tivera paciência de ler o que aqui escrevo desde 2005 poderá atestar. Oque ainda me vai aborrecendo são historietas como a que acimareferi. O homem viverá, não duvido, uma situação lixada e quepoucos invejarão. No entanto, convenhamos, mil e oitocentos euros éum montante de que muitíssimos portugueses, ainda que empregados, não dispõem mensalmentepara viver. E não passam fome, pagam a renda ou a prestação dacasa, os estudos dos filhos e alguns, pasme-se, até vão de férias.Se calhar, mas isto cada um sabe de si, o senhor terá sido dos queandou a viver com as possibilidades que tinha e que agora insiste emviver da mesma maneira com as possibilidades que não tem. Isso é lácom ele. Não precisa é de vir chatear com o seu “problema”.