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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Ainda vou ter de replantar as couves...

Kruzes Kanhoto, 30.10.12


Da discussão do orçamentodo Estado, que hoje começou na Assembleia da República, apenas acompanhei apenasa intervenção da ministra Cristas. Aquela do ministério do mar, da agriculturae de mais outras coisas igualmente relevantes. Talvez por, no entretanto, estarempenhado em devorar o lanche – a fomeca é lixada - não me recordo de nada doque a criatura disse. O que não se afigura preocupante porque a senhora,presumo, nada deve ter dito de importante.
O que me deixoupreocupado foram as intervenções seguintes. Nomeadamente de um deputado que lamentavao facto de Portugal ir perder não sei quantos milhões de euros em financiamentoscomunitários para a agricultura. Mais um que ainda percebeu que fundoscomunitários são despesa e que obrigam a derreter o dinheiro que não há. Que umqualquer borra-botas – como eu, por exemplo – pense assim ainda vá, agora umdeputado, que em princípio será um gajo inteligente, não perceber isso é que jáme parece esquisito…
Pelo contrário, o oradorseguinte – do bloco de esquerda, pareceu-me – mereceu o meu mais veemente e entusiásticoaplauso. Criticava o senhor a falta de dotação orçamental para o combate àspragas que afectam a agricultura. Tem toda a razão. As minhas couves são oexemplo vivo das consequências desastrosas que o desinvestimento nesta área podetrazer à economia. Estão a ser comidas a um ritmo alucinante por mais uma das múltiplaspragas que fazem do meu quintal o seu habitat natural. O que, é bom de ver,prejudica claramente a economia cá de casa. Não pode ser. Cortem onde quiseremmenos na luta contra os devoradores de vegetais. Era o que mais faltava termos em2013 um “monstro” amiguinho das lagartas!

"No decide". Mas paga...

Kruzes Kanhoto, 28.10.12


Não constitui novidade – apenas o será para quem anda distraído – que ostratamentos efectuados no serviço nacional de saúde em consequência deagressões ou acidentes não são comparticipados. Por norma a vítima paga e, comalguma sorte, um dia mais tarde será ressarcida da despesa. Isto se a justiçafizer o seu trabalho e as seguradoras não conseguirem esquivar-se.
O irónico da coisa, para além da dupla penalização do agredido, é que enquantopara estes casos o SNS não assume a despesa com os serviços prestados, já emrelação ao aborto a prática é completamente diferente. Tudo à borla com atendimentoprioritário. Ou seja: o gajo que levou umas naifadas de um desconhecido aovirar da esquina o melhor que tem a fazer é dizer que caiu em cima de uma facaquando estava a preparar o almoço. Isto se não quiser gastar uma pequena fortunano hospital. Já a gaja que se esqueceu das pílulas – oferecidas pelo Estado,diga-se – não precisa de arranjar desculpas para que lhe façam o “desmancho”gratuitamente. Parece-me justo! E parvo, também.

Tão a morder o esquema?

Kruzes Kanhoto, 27.10.12


Em nome da contenção orçamental o governo decidiu suspender o programa “chequedentista”. Mas só para crianças. Os velhotes, entre outros, vão continuar abeneficiar do apoio estatal para tratar dos dentes. Faz todo o sentido. Osmiúdos, um destes dias vão-se embora, logo não faz grande sentido gastardinheiro prevenir cáries futuras. Quando as tiverem já cá não estão. Quanto aosvelhos, a maioria nem dentes tem. E, que se saiba, o “cheque dentista” nãoserve para consertar próteses…

Cem mil?! Duzentos mil! Ou mais..

Kruzes Kanhoto, 25.10.12


Há quem defenda a necessidade imperiosa de despedir cem mil funcionáriospúblicos como única maneira de equilibrar as contas do país. Outros cortes,teorizam, pouco ou nada adiantam. Talvez tenham razão. Mas, à cautela, por mimdespedia duzentos mil. Só para ter a certeza que a medida resultava mesmo.
Não faço a mínima ideia quantos sejam, mas assessores, especialistas eoutros serviçais que pululam por todos os níveis da administração públicaseriam – só para dar o exemplo – os primeiros a receber guia de marcha. Dada airrelevância da poupança seguir-se-iam os consultores, os gajos dos projectos,dos outsourcing´s e “empresas” cujo único cliente é o Estado. Coisa paraenvolver, assim por alto, mais umas dezenas de milhar de “funcionários”. Como,muito provavelmente, os ganhos ainda não seriam os pretendidos podia continuar comas construtoras que sobrevivem à conta das obras inúteis. Lá teriam de regressaraos seus países de origem mais uns quantos “funcionários”. É a vida.
Ainda assim não teria obtido os milhões necessários nem atingido oobjectivo de pôr no desemprego duzentas mil almas. Haveria, portanto, de cortarmais. As próximas vítimas seriam os artistas “funcionários” que vão percorrendoo país a fazer espectáculos pagos com dinheiro público. Com toda a estruturaque mantém esta festa nacional a funcionar deve ser possível poupar mais umasdezenas de milhar de empregos suportados pelo Estado. Temos pena.
Por fim a educação. A vaca sagrada onde todos têm medo de tocar.Terminavam de imediato as chamadas “actividades extra-curriculares”. Por seremisso mesmo. Extra. Trata-se de uma invenção com meia-dúzia de anos, que custapara cima de um dinheirão aos portugueses e pouco mais servem do que para ospapás terem os meninos entretidos. Importante é manter a parte curricular. Deresto se não há dinheiro não há luxos.
Se ainda assim não chegasse – e não chegava, de certeza – podiam sempremandar para casa aqueles funcionários que os políticos contratam para ajudar osdois trabalhadores, já existentes na entidade, que fazem o serviço que podiaser feito por um.

Nacional hipocrisia

Kruzes Kanhoto, 23.10.12


Segundo um estudo de opinião divulgado um dia destes, mais de oitenta porcento dos portugueses preferem que o orçamento do próximo ano promova cortes nadespesa do Estado em alternativa a um novo aumento de impostos. Passou-medespercebido o local e o público-alvo do inquérito. Deve ser do tamanhodiminuto – cada vez mais pequeno para a minha vista – da ficha técnica quenormalmente acompanha estas coisas. Mas o seu resultado, assim de repente,parece-me em absoluta contradição com a realidade. A menos que a sondagem tenhasido efectuada numa reunião daqueles economistas que vão aos canais televisivosarrotar postas de pescada. E cagar estacas, também.
Os portugueses podem até estar de acordo com toda a espécie de cortesorçamentais. Basta ser cumprida uma condição. E se duas melhor ainda. Que nãoos afecte e, de preferência, que atinja em cheio o vizinho do lado. Daí queestes resultados não surpreendam por aí além. Revelam na perfeição a nacionalhipocrisia e comportamento colectivo que nos conduziu a esta triste situação. Eque, não serão necessário grandes dotes adivinhatórios para o prever, noslevará ainda a muito pior.
Um bom exemplo do que acabo de escrever pode ser constatado no facebook.Podemos acompanhar, quase em directo, as actividades estapafúrdias - onde seesturram os euros que não há - que muitos políticos fazem questão decompartilhar connosco e, salvo raríssimas excepções, os likes são mais quemuitos. Poucos ousam questionar quanto custa, porque se faz, ou diga que nãogosta das inventivas maneiras que aquela malta arranja para delapidar o nossodinheiro. Podiam, digo eu, começar por ali a expressar o desejo de redução dadespesa. Um pouco de honestidade intelectual não lhes ficava nada mal.

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