Acho alguma piada àsideias, papagueadas pela comunicação social nacional, de um estrangeiroqualquer que resolveu mandar uns bitaites – cagar umas estacas, como diria aminha avó se fosse viva - acerca dos vencimentos que se praticam na funçãopública. Segundo a cavalgadura em questão, a tabela salarial deverá ser revistade maneira a aproximar o ordenado de quem trabalha para o Estado, daquilo quese pratica no sector privado.
Se, assim à primeiravista, a intenção até pode nem parecer de todo descabida, quando se olha maisde perto, para os pormenores, então percebe-se toda a patetice e, mais do queisso, o desconhecimento do que é hoje a realidade do país. A ideia seriaaumentar o ordenado aos técnicos especializados, que no Estado ganharão,segundo o idiota, menos que no privado, para que estes não tenham a tentação deabandonar a função pública. Aos outros seria reduzido o vencimento porque, nacabeça da besta, auferem mais do que na iniciativa privada e, assim, seriamestimulados a procurar outra vida que não trabalhar para o Estado.
No primeiro grupoestarão, com toda a certeza arquitectos, engenheiros, médicos, economistas,enfermeiros e outros licenciados, mestrados ou doutorados. No segundo, entre outros, canalizadores,electricistas, carpinteiros, pedreiros e auxiliares de serviços gerais. Parademonstrar o ridículo da proposta não me vou socorrer do exemplo recentedaquela empresa – privada, por sinal – que pretendia recrutar um arquitecto porquinhentos euros ao mês. Nem lembrar que jovens licenciados a ganhar o salário mínimoé coisa que não escasseia. Prefiro antes sugerir que, o fulano da ideia e osmuitos seguidores que abundam por cá, tentem encontrar quem lhes conserte umatorneira, mude uma lâmpada, repare um armário, dê uns retoques na parede ou,até mesmo, lhes esfregue a casa de banho, por quatro euros à hora.