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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

O paraíso dos gatos

Kruzes Kanhoto, 16.05.12

Este felino - o gatocapado da vizinha do lado - de ar aparvalhado passa a vida no meu quintal. Cápor casa é conhecido como o “Chalupo”. Escuso de explicar porquê. Os que hátrinta ou quarenta anos viam desenhos animados vão perceber e os outros, sequiserem, façam como os gajos que andam a avaliar imóveis. Vão ao Google.
Mas, escrevia, o bichano ocupaparte significativa do seu dia a dormitar no meu quintal. O que nada tem demal, esclareça-se desde já. Podia no entanto, entre uma e outra soneca, darcaça aos melros que roubam as cerejas e aos pardais que depenicam a hortaliça.Mas não. Isso seria pedir demais a sua excelência. Desconfio que terádesenvolvido uma improvável relação de amizade com os delinquentes alados queme atacam a horta. Ou então é porque já não se fazem gatos como antigamente.Quando, como dizia a minha avó, “o céu dos pardais era a barriga dos gatos”.

Vem aí a (verdadeira) tempestade perfeita

Kruzes Kanhoto, 15.05.12

Mais de um ano depois deter sido oficialmente aberta a época de crise, constato – sem grande surpresa,diga-se – que aprendemos muito pouco com os erros que cometemos. Pior do queisso. Insistimos neles. Trata-se, se calhar, não de um problema de iliteraciafinanceira ou de uma qualquer dificuldade em lidar com os números mas antes deum problema do foro psicológico. Ou então de um caso de ignorância pura e dura.Não é mesmo de descartar a hipótese de ser a conjugação dos três factores que contribuiupara o desencadear da tempestade perfeita que se está a abater sobre as nossascarteiras.
Um bom exemplo do queacabo de referir são os chamados fundos comunitários. Uma espécie de cenouraque colocaram na nossa frente e atrás da qual marchámos até à beira do precipício.Há ainda quem ache que não os “aproveitar” é perder dinheiro. Mesmo que para osobter tenha de se gastar o dinheiro que se não tem. Basta ouvir – e, também,ler – os lamentos que por aí correm sobre a quantidade astronómica de milhões queteremos perdido com o fim do projecto do TGV. E o pior é que os cidadãos a quemfoi poupado o sacrifício de suportar os custos de mais essa loucura estão igualmenteentre os queixosos. Ainda que, aparentemente sem perceberem, já estejam a pagarum ror de outros desmandos.
O desnorte colectivo dosportugueses irá, por altura das próximas eleições autárquicas, conhecer novospatamares. Dentro de poucos meses, quando começarem a ser conhecidas asprimeiras promessas eleitorais e as exigências dos eleitores, atingiremos umnível que, acredito, estará para lá de todos os padrões conhecidos da ciência. Desconfioque ninguém, de um lado e do outro, se vai preocupar com o pormenor quaseinsignificante da inexistência de dinheiro. Tenho, até, a leve desconfiança quea tragédia financeira em que vivem as autarquias será coisa de somenos. Porisso, mantenho uma secreta esperança que talvez seja desta que um dos milharesde candidatos aos trezentos e oito lugares de presidente da câmara prometa aconstrução de um centro de acolhimento a visitantes – quiçá investidores – de outrosplanetas. Isso é que era visão. Ah pois era!

Reparado?!

Kruzes Kanhoto, 14.05.12

Como se pode reparar, amensagem que a palavra escrita no pedaço de metal pretenderá transmitir nãoestá nada actualizada. Ou, pelo menos, pode considerar-se deslocada. Digamosque seria mais ou menos a mesma coisa se uma superfície toda ferrugenta ostentasseo aviso “pintado de fresco”.

Velhas oportunidades

Kruzes Kanhoto, 13.05.12

As ondas de indignaçãosucedem-se umas às outras com uma frequência alucinante. A sorte é que todas,invariavelmente, acabam na praia sem fazer estragos de maior. Excepto, mas issonão conta a não ser para o visado, aquelas que vão entrando para o anedotárionacional.
Desta vez o motivo para aindignação tem origem nos considerandos tecidos por Parvus Coelho acerca dovasto manancial de oportunidades com que se depara um desempregado. O homem, aocontrário dos que alimentam o alarido em torno destas declarações, estácarregadinho de razão. A confirmá-lo não faltam exemplos. Podia citar, sequisesse ser demagógico, o caso de José Sócrates que agarrou uma oportunidadede estudar filosofia. Mas não vou por aí. Limito-me a recordar os inúmeroscasos de ministros, secretários de estado, deputados, directores gerais e maltaligada ao ramo da assessoria, que conseguiram um emprego espectacularmente bempago após terem sido despedidos – ou terem-se despedido – do cargo queocuparam. E nem vale a pena contra argumentar que antes já tinham emprego. Aquestão é a facilidade com que encontraram ocupação no pós actividade politicae, quase sempre, muito melhor remunerada.
Outro exemplo deempreendedorismo são os presidentes de Câmara que no próximo ano vão ficardesempregados em virtude de, por força da lei, estarem impedidos de continuarno seu emprego. Antecipando o problema estão já a procurar a oportunidade deirem esturrar dinheiro para a autarquia do lado, continuando a nobre missão deendividar o país e a arruinar as finanças dos municípios por onde vão passando.
Como está bom de ver odesemprego constitui mesmo uma janela de oportunidade. Principalmente para osoportunistas. Exemplos que as outras centenas de milhar que insistem em continuardesempregados - de propósito, quase de certeza, só para chatear o governo - deviamseguir. O que me parece altamente reprovável e que motiva a irritabilidade subjacenteas estas declarações do primeiro-ministro. Talvez a oportunidade surja se, emlugar de se inscreverem no centro de emprego, corram a filiar-se num partido político.De preferência num daqueles que, de vez em quando, está no governo.

Ninguém se manifesta contra as mais recentes promoções?!

Kruzes Kanhoto, 11.05.12
Vá lá entender-se estagente. Primeiro as promoções e os avantajados descontos de preço queproporcionavam eram uma coisa má. Terrível, até. Para lá de degradante. Constituíammesmo uma humilhação para aqueles que as aproveitavam até ao último pacote dearroz e que se debatiam por uma garrafa de óleo ou embalagem de preservativos ametade do preço. Isto sem esquecer a afronta, protagonizada pelo grandecapital, de vender produtos muito abaixo do preço de custo comprometendo comisso o pequeno comércio, os pequenos produtores e, provavelmente, outrospequenos qualquer coisa que agora não me ocorre.
Mas isso foi antes. Estasemana, quase diariamente, foram anunciadas promoções e descontos em toda aespécie de bens e serviços, onde a redução de preços era de setenta ou oitentapor cento – nalguns casos até mais - e, espantosamente, ninguém se queixou. Pelocontrário. Garantiam-nos que era uma excelente oportunidade. Também não dei contade preocupações – políticas, sociais ou de outra natureza – com dumping,concorrência desleal, esmagamento de preços ou outros conceitos assazinteressantes. Nem consta que os deputados tenham dedicado parte do seu tempo adebater o assunto. Ou, tão-pouco, que a malta bem pensante que por aí opinatenha sentido necessidade de expressar o seu mal-estar.
Dir-se-á que as situaçõesnão são iguais. Ou, sequer, parecidas. Não têm, de facto, nada a ver. Naprimeira trata-se de gente, maioritariamente, com menos recursos ou que temalguma preocupação em gerir de forma criteriosa o seu dinheiro e que procurouadquirir bens essenciais. No segundo caso trata-se de promoções mais discretas- on-line ou em espaços onde até se paga para entrar – e os bens em causa sãotão necessários à sobrevivência como idas ao cinema, férias, massagens ou roupade marca. Coisas finas, portanto.
Ainda me ocorreu que estadualidade de critérios envolvesse alguma espécie de atitude preconceituosa. Masdepressa afastei essa ideia. Afinal, parece legitimo concluir, as promoções nemsempre são más. Depende do que se promove, do local onde é feita, do público aquem se destina e, principalmente, da data escolhida para a sua realização.Convém é que não coincida com nenhuma “demonstração”.