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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Pavões endividados e pavoas falidas

Kruzes Kanhoto, 04.03.12

Segundo a imprensa de hoje haverá mais de cem mil portugueses como vencimento penhorado. Provavelmente seriam bastante mais se as entidadesempregadoras, nomeadamente as do sector privado, não ignorassem as penhoras quelhes são enviadas pelos solicitadores de execução. Significa isso que, tal comonoutras coisas, até em matéria de calotice os funcionários públicos estão a serdiscriminados. Enquanto os caloteiros que trabalham para o Estado vêem os seusvencimentos reduzidos e são obrigados a ir pagando os calotes, quem trabalhapara a privada vai, tal como nos impostos, escapando ao pagamento das suas dívidas.
Todas as generalizações são perigosas e no que ao calote dizrespeito o perigo, dada a sensibilidade da questão, ainda é maior. São inúmerosos casos de incumprimento devido a situações dramáticas, que fogem ao controlodo mais precavido e que apanham de surpresa quem sempre se julgou ao abrigodestes dramas. Divórcios, doenças, desemprego, falecimento de um dos conjuguesou fraudes, constituirão um número apreciável deste conjunto de penhoras eenvolverão, com toda a certeza, muita gente honesta que sempre a intenção de cumprircom aquilo a que se comprometeu.
Do que também não tenho grandes dúvidas é que a maioria destamalta não se enquadra nas condições que acabo de descrever. É gente que pediucréditos atrás de créditos, que não tem onde cair morta mas que, ainda assim,entendeu que tinha o direito a fazer vida de rico. Que, diga-se, em muitoscasos, continua a fazer enquanto vai olhando para os outros do alto de um estatutoque obviamente não tem. Por mim, que naturalmente nada tenho a ver com isso atéporque nada me devem, acho uma certa piada a alguns narizes empinados que poraí pululam. Não pagariam o ar que respiram se este fosse pago, mas – como diriao outro - quem os vê e ouve falar não os leva presos. Nem eu gostaria quefossem de cana. Depois para quem é que olharia de lado quando me cruzo comcertos pavões emproados? Ou pavoas, que nisto da vigarice elas não se ficamatrás.

A continuar assim ainda seremos o deserto mais desenvolvido do mundo

Kruzes Kanhoto, 02.03.12

Tirando a parte da cobrança de impostos estar a comprometer asmetas da execução orçamental – só um tolinho é que não percebia a inevitabilidadeda quebra das receitas fiscais – as coisas até não estarão a correr mal aogoverno. Não fora a chatice de ainda não se ter conseguido encontrar umamaneira de cobrar IRS sobre rendimentos inexistentes, obrigar quem sai do paísa pagar cá os impostos ou fazer com que os mortos não se eximam das suasresponsabilidades fiscais e as contas até apresentariam um equilíbrio assinalável.
Mas, vá lá, nem tudo são más notícias. A emigração, uma dasgrandes apostas do governo, continua a apresentar uma acentuada tendência decrescimento. Os portugueses, principalmente os mais jovens e qualificados, estãoa procurar no estrangeiro o conforto que o seu país não lhes proporciona e, poresta forma, a contribuir para que uma série de indicadores não apresentemresultados ainda mais escandalosos. No sentido da miserabilidade, claro.
Mas a cooperação dos portugueses com o seu governo não se ficaapenas por dar de frosques para outras paragens. Muitos resolveram mesmofalecer. Nas últimas semanas têm vindo a ser batidos todos os recordes daquelesque foram desta para melhor. A continuar assim não tardarão a fazer-se sentiros efeitos benéficos desta onda de mortandade. Nomeadamente nas contas dasegurança social, que deixa de pagar reformas e comparticipações às entidadesque cuidavam dos velhotes ou nas despesas com a saúde que toda esta malta jánão faz e que o Estado deixa de suportar.  
Será, portanto, motivo para acreditar que os objectivos estarão aser cumpridos. O outro que está em França a estudar filosofia – por falarnisso, como é que um funcionário autárquico arranja dinheiro para viver emParis sem trabalhar? - prometeu cento e cinquenta mil empregos e deixouquinhentos mil desempregados. Este, que lá está agora, mesmo não tendoprometido nada, é capaz de ser gajo para arranjar meio milhão de novosemigrantes e outros tantos mortos. Ou, quem sabe, tornar-se um deles.

Obscenidades

Kruzes Kanhoto, 01.03.12

Podemos não apreciar as medidas de austeridade que tem vindo a sertomadas nos últimos anos visando, alegadamente, a consolidação orçamental. Podemos,também, estar convictos da pouca eficácia de algumas e acreditarmos que ocaminho para a regularização das contas públicas devia ser outro. Por mim, comonão me canso de repetir, acredito que a implementação de uma cultura de rigorem toda a sociedade, pública e privada, chegava e sobrava para resolver aactual crise.
Agora o que não podemos é exigir o direito a passar incólumesentre os pingos da chuva enquanto todos os restantes apanham uma valente molha.E, por mais que se esforcem por nos fazer acreditar o contrário, é exactamenteisso que se pode depreender de alguns discursos. Por exemplo dos autarcas, coma sugestão, cada vez mais repetida, da imperiosa necessidade de um plano de resgatepara os municípios à semelhança do que aconteceu com a Madeira. O pior – e queninguém explica – será o dinheiro que isso irá custar. Para cima de dez mil milhõesde euros. Que não há, diga-se, mas que convinha fosse explicado aos portuguesesde onde poderão aparecer.
Desconfio que, a acontecer, o dinheirinho vai sair do sítio docostume. Provavelmente sob a forma de imposto sobre o subsídio de natal e de umaumento absolutamente obsceno do IMI - Imposto Municipal sobre Imóveis em 2013.Neste último caso uma certeza de que poucos já se aperceberam. O que não deixade ser bem-feito. Assim todos ficaremos a saber quem paga as cantorias do TonyCarreira nas festinhas de Verão lá da terra e as inúmeras rotundas que quasenos põem tontos ao atravessar qualquer vilória.

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