Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Tá bem tá

Kruzes Kanhoto, 31.03.12

Um dos meus passatempos diários – em casa, não no trabalho comofaz muito boa gente – é ler a edição on-line da maioria dos jornais nacionais.Podia, reconheço, dar-me para pior. Andar a esparvoar pelo facebook, porexemplo.
Ler aquilo que se publica na imprensa é, acho eu, a melhor maneirade entender como se chegou a este estado e, também, de perceber que não hágrande coisa a fazer por isto. Veja-se, assim ao acaso, a manchete do Jornal deNoticias de hoje: “Quem não quiser trabalhar perde rendimento mínimo”, escreviaaquele periódico em letras garrafais. Fica-se, à primeira olhadela, a suspeitarque vem aí uma alteração às leis que regulamentam a atribuição do RSI e aquelamalta que vive permanentemente à custa deste esquema, financiado com osimpostos de quem trabalha, vai ter de pensar noutra forma de vida. Pois que, secalhar, não será bem assim. Em letras muitíssimo mais pequeninas pode ler-se deseguida que “Autarquias e IPSS proporão tarefas a desempenhar pelosbeneficiários”. E pronto. Ficamos logo esclarecidos, lendo apenas a capa, quetudo vai continuar na mesma, que o dinheiro continuará a seguir o mesmo fluxoque até aqui - dos nossos bolsos para o Estado e daí para os deles – e quequanto a trabalho “tá bem, tá”.
O contínuo desbaratar de recursos do país tinha de dar no que deu.O RSI foi apenas mais uma loucura entre tantas outras. A que se devem somarinúmeros actos de gestão danosa, corrupção e aproveitamento ilícito, sob todasas formas, dos bens públicos. Tudo alegadamente, como é óbvio. O pior é quetudo, como se percebe por esta e outras notícias que diariamente se publicam,continuará igual. Dá jeito que assim seja. Aos que “lá” estão hoje, aos queestiveram ontem e aos que estarão amanhã. Um pouco à semelhança do que acontececom a generalidade dos tugas, para quem a grande máxima continua a ser “deixalá aproveitar enquanto a coisa ainda dá”.

Á espera que chova

Kruzes Kanhoto, 30.03.12

 

Diz que já chove. Diz, porque aqui nem vê-la. À chuva. Nem um pingo para animar um agricultor de trazer por casa – pelo quintal, vá – que escolheu mal o ano para retomar a tradição de cultivar o espaço em redor da casa. O vasilhame – bazaréus, como gosto de lhes chamar – continuam vazios, a capacidade de armazenamento há muito que se esgotou e o recurso à água da rede está a revelar-se uma tragédia. Devido aos produtos químicos que a compõem queima todas as folhas das plantas por onde vai caindo. Às tantas ainda sou gajo para pedir uma indemnização. Seja pela destruição das culturas ou pela burla de que estarei a ser vítima. Pago água e vendem-me um composto químico qualquer!

Uma visão iluminada

Kruzes Kanhoto, 28.03.12

Que o poder transforma as pessoas é um facto mais do queconhecido. E amplamente reconhecido também. Entre outras coisas - a maioria delasnão será para aqui chamada - transforma-os em optimistas inveterados.Visionários, até. Parvus Coelho estará prestes a adquirir estas capacidades. Depoisde meses a dar-nos más notícias, o homem veio hoje transmitir a sua convicçãode que a economia nacional crescerá no último trimestre do ano. Sustentará asua opinião, acredito, em estudos devidamente fundamentados e em indicadoresdotados da maior fiabilidade. Não serei eu, portanto, a questionar, nem sequera desconfiar, de tão boa noticia. Primeiro porque não percebo nada de economia.Segundo, porque as previsões dos economistas constituem para mim uma espécie demisteriosa ciência, e às vezes, também, um género de cartomancia.  Por fim, porque não estou a ver que tipo demilagre possa estar para acontecer. Antes pelo contrário. Perspectivo algumasocorrências que apenas por intervenção de algum santo milagreiro não nosconduzirão a uma situação ainda pior.
O aumento de preço dos mais variados bens eserviços, por exemplo. Entre eles, quase de certeza, o da energia eléctrica. A próximaliberalização deste sector conduzirá, tal como aconteceu com os combustíveis, auma acentuada escalada do preço da electricidade. Com todas as consequênciasdaí decorrentes para as empresas, administrações públicas e portugueses emgeral. A menos que estejam reunidas duas condições: Pertençam a uma minoria étnicae morem num local onde tenham água e luz à borla. Assim tipo um qualquer resort situado à entrada de uma qualquer cidade. Nesse caso podem continuar a encher a piscina,ligar o ar condicionado, o plasma e toda a panóplia de equipamentos que seligam à corrente. Depois alguém – está-se mesmo a ver quem – há-de pagar osmuitos milhares de euros da continha.

Badalhocos!

Kruzes Kanhoto, 26.03.12

A suposta reivindicação que o cartaz da JSD pretende transmitirnão me surpreende. Afinal, aqueles que se espantam, indignam e vociferam contraa mensagem nela contida, estavam à espera de quê? Este discurso é mobilizadorpara quem não tem emprego ou, mesmo que empregado, esteja em condições deprecariedade. Pretende culpar os que ainda tem alguns direitos – poucos e cadavez menos – da situação daqueles que não têm direitos nenhuns. É, notoriamente,um discurso que está na moda e cativa seguidores. Daí que estes aspirantes a políticoso promovam. Para se promoveram àquilo a que aspiram. Um cargozinho. Com todosos direitos - adquiridos, pois então - inerentes a qualquer cargo onde estamalta pretende chegar. A começar pelo mais importante. O direito à impunidade. Quandoum dia, depois de uma meteórica carreira na “jota”, forem nomeados para umlugar de relevo, poderão continuar a roubar os portugueses, tal como o fizeramos seus antecessores e a construir grandes vidas, para si e seus correlegionários,que ninguém lhes “vai ao cú”. Em sentido figurado, claro, que eu não pretendoimplicar com a paneleiragem. Nem, ainda menos,  pôr em causa os seus direitos adquiridos.

Ovo de Colombo

Kruzes Kanhoto, 25.03.12

O governo descobriu a maneira fácil, rápida e barata de arranjarmais lugares em lares de idosos e jardins-de-infância. Com uma simplesalteração da legislação que regulamenta esta a matéria passou a ser possível que,na mesma  instituição, coabitem maisvelhotes e no caso dos mais pequenos que estes se tenham de contentar em fazeras suas brincadeiras num espaço mais reduzido. Genial. Sem construir um único edifícioestes génios da manigância conseguiram, quase do dia para a noite ou contrário,criar lugar para arquivar mais umas largas centenas – ou milhares, sei lá - develhos que ninguém quer ter por perto e outros tantos para criancinhas a quemos pais não sabem onde deixar quando vão trabalhar. Ou fazer outras coisas queagora não vêm ao caso.
Não é que ache mal a solução encontrada. Sabe-se que as leisrelativamente a estes assuntos estão cheias de esquisitices e requisitos domais estapafúrdio que se possa imaginar. Não me parece, portanto, muito criticávelque se adeqúem certas normas à nossa realidade de país pobre, sem recursos eonde cada cêntimo tem de ser bem aplicado. Tratou-se, neste caso, do verdadeiroovo de Colombo.
E como isto anda tudo ligado, mesmo que às vezes não pareça, foi omesmo governo que se apressou a adoptar uma directiva comunitária manhosaacerca da qualidade de vida das galinhas e do espaço que estas necessitam paraviver confortavelmente. Nada de viver apertadas como até agora. Ao contrário develhinhos e catraios, que tem vivido escandalosamente à larga, os galináceos europeushabituados a viver compactados uns contra os outros, viram a agora as condiçõesde vida substancialmente melhoradas e podem, finalmente, pôr ovos sem incomodara galinha sua vizinha.
Posto isto – lá está, isto mesmo tudo ligado – não sei se os ovosestão ou não mais saborosos. Nem, tão-pouco, se as aves de capoeira andam maisfelizes. O que sei é que os ovos estão mais caros. Bastante mais caros. Pareceque a produção, apesar da provável felicidade das galinhas, diminuiusignificativamente. Isto porque, como é óbvio, os industriais do sector nãoaumentaram o espaço. Face à obrigação de cumprir a lei optaram por fazer baixara população de galináceos. Assim, graças aos amiguinhos dos animais e às bestasde cá e da Europa, estamos a pagar mais caro pelas omeletas.

Pág. 1/5