A cultura das boas contas. Ou a falta de ambas.
Kruzes Kanhoto, 30.07.11
Daleitura de blogues de uma localidade não muito distante concluo que a autarquialá do sítio terá uma divida colossal à banca, a fornecedores e aos chamadosagentes culturais e desportivos do concelho. Nada que, relativamente à dividafinanceira, inquiete alguém. Tão pouco o atraso na regularização dos pagamentosàs empresas que venderam bens e prestaram serviços à autarquia é merecedor degrandes preocupações. O mesmo não se pode dizer da falta de cumprimento doscompromissos assumidos pela edilidade para com os tais “agentes”. Isso aí é que“alto lá e pára o baile”, que não pode ser.
Obviamenteque as dividas, seja qual for a sua natureza, são para pagar. O que não sepercebe é que o movimento associativo lá da terra exija um tratamento deexcepção e que se arrogue no direito de receber o que lhe é devido, de formaprioritária relativamente aos restantes credores. Fizeram, com certeza, aplanificação das suas actividades na perspectiva de receberem atempadamente osvalores em causa e o incumprimento autárquico estará certamente a causar transtornos.Mas, e isto não se afigura difícil de perceber, o mesmo sucederá com asempresas que aguardam a regularização de dezassete milhões de euros há mais detrezentos e sessenta dias.
Peranteeste cenário, nem sei como classificar argumentos do tipo “o chavão da falta dedinheiro já não convence”, usado para criticar o atraso no pagamento dasquantias acordadas com as associações. Há quem tenha dificuldade em perceber,especialmente na área cultural onde por norma as pessoas são mais avessas anúmeros, que o dinheiro, tal como tudo, também pode acabar. Ou, no mínimo, quese trata de um bem escasso para ser usado com ponderação. O que, dadas asevidências, não terá acontecido no caso em apreço. E é a ausência de críticadas gentes da cultura à gestão desastrosa que os conduziu até este estado decoisas, que me deixa verdadeiramente perplexo. Pior. Se reclamam é apenasporque a tal Câmara promoverá, na opinião deles, poucas actividades culturais. Ouseja, a divida até podia atingir valores ainda mais astronómicos que, desde queeles recebessem, estaria tudo bem. Com uma cultura destas não admira que o paísesteja neste estado!