Os conselhos quanto à necessidade de poupar e as sugestões acerca da melhor maneira de o fazer têm-se sucedido nas últimas semanas. A comunicação social, falada e escrita, não tem poupado esforços para nos mostrar onde podemos deixar de gastar uns trocos que, todos somados, representam no final do mês uma maquia considerável. Sem, com isso, afectarmos de forma significativa a nossa qualidade de vida. Como fazem questão de assinalar.
Apesar de louvável e de revelar um interessante sentido de serviço público, não me parece que obtenha resultados significativos. Pelo menos por enquanto. Os portugueses (já) não sabem conjugar o verbo poupar na primeira pessoa do singular e, após vinte cinco anos de consumismo desenfreado, não acreditam na necessidade de o fazer. Por alguma espécie de alucinação colectiva continuamos a acreditar que o dinheiro nasce das pedras e que basta pontapear meia-dúzia para, de imediato, os euros desatarem a saltar para as nossas carteiras.
Face a este comportamento, temo que casos como o da vizinha Filomena - a ser verdade que a senhora faz o que os jornais escrevem - se multipliquem por mais que muitos. De resto o prevaricador deve ser a única espécie que não estando em extinção – pelo contrário, existem cada vez mais – é generosamente protegida por lei. Se este estado de coisas não fôr radicalmente alterado podemos estar perante um perigoso congregar de sinergias entre a fome e vontade de comer. O que pode resultar numa grande merda.