Ao contrário do que pensa o jovem comunista que revela dúvida quanto à democraticidade do regime que vigora na Coreia do Norte, acho uma boa ideia a intenção socialista de atribuir lá para 2011 um subsídio em forma de conta bancária a cada recém-nascido. Até porque, para quem já subsidia o aborto, esta medida mais não será do que repor um pouco de equidade na coisa. Pena, evidentemente, ser uma quantia irrisória. Mas como o dinheiro não chega para tudo há que ser rigoroso nas contas. Como é, aliás, apanágio deste governo.
Claro que esta medida não irá potenciar uma escalada de nascimentos, assim a modos que um baby-boom à portuguesa, porque a questão financeira não é o motivo principal que leva as pessoas a optarem por ter poucos filhos ou mesmo a não terem nenhum. Verifica-se aliás o inverso. A taxa de natalidade foi baixando na medida em que as condições de vida foram melhorando e, como é notório, é entre a população mais pobre que essa taxa é mais elevada. As pessoas não tem filhos porque são comodistas, egoístas talvez seja o termo mais apropriado, não querem ter chatices e cada vez mais encaram a paternidade como uma maçada. Começa inclusivamente a assistir-se ao surgimento de um fenómeno preocupante e altamente perturbador, em que presença de crianças em determinados espaços abertos ao público é encarada como prejudicial por algumas bestas que já se esqueceram que, em tempos, também foram crianças.
Seguramente que em matéria de incentivo à natalidade dever-se-á ir muito mais longe. Ainda que isso represente um significativo aumento da despesa pública, a subida do défice ou, até mesmo, um aumento de impostos. A começar, por exemplo, pela criação de um imposto sobre a posse de animais domésticos, sobre as viagens ao estrangeiro ou, como muito bem lembrou a dona Manela, sobre os iates. Claro que também podia sugerir o agravamento da carga fiscal sobre os casais que não tenham filhos, mas seria certamente acusado de promover a discriminação dos homossexuais ou, realmente grave, dos casais constituídos por pessoas normais que não conseguem assegurar descendência.