A acção desenvolvida pelo Banco Alimentar é por demais reconhecida, pelo que nem vale a pena prolongar-me em considerandos acerca dela. O mesmo se aplica a todos os que, desinteressadamente, colaboram nas acções de recolha de alimentos, como a que este fim-de-semana decorre por todo o país, ou nas restantes actividades decorrentes de todo o processo de armazenamento, manutenção e distribuição dos produtos recolhidos.
Contribuir com alguma espécie de alimentos constitui por isso, para mim, quase uma obrigação que cumpro sempre de bom grado. Principalmente quando sei que a esmagadora maioria dos beneficiários dos bens recolhidos são idosos a quem a reforma não chega para pagar a conta da farmácia e famílias a quem o desemprego, ou outra contingência da vida, atirou para uma situação que era de todo improvável vir a ocorrer.
Nos últimos tempos, no entanto, tem surgido notícias na comunicação social que me causaram alguma inquietação e que, também, me fizeram ficar mais atento a certos sinais que, se não exteriores de riqueza, são pelo menos muito pouco compatíveis com a condição de alegado pobre e de alguém que necessite de recorrer à assistência alimentar prestada pelas instituições de solidariedade social a que se destinam os alimentos recolhidos em campanhas como a que está a decorrer.
Consta, são os próprios responsáveis que o admitem, que recorrem à ajuda alimentar cada vez mais pessoas que não pretendem abdicar de um estilo de vida dificilmente compatível com os rendimentos auferidos. Ou seja, pedem alimentos – via correio electrónico na maior parte dos casos – enquanto gastam o ordenado, ou o dinheiro proveniente de outras fontes de rendimento, em coisas tão essenciais como “viagens ou na Tvcabo”.
Outros, esses com evidentes sinais de pobreza, diariamente apoiados por instituições que se dedicam a estas causas, podem ser vistos a tomar o pequeno-almoço ou o lanche nas diversas pastelarias e cafés da cidade ou passeando e fumando o seu cigarrito enquanto a generalidade dos cidadãos trabalha. E, pior do que isso, roubando e achincalhando os que trabalham e contribuem para sustentar a sua existência.
O número de casos deste tipo, provavelmente, não será significativo. Mesmo que o seja não coloca em causa o trabalho destas instituições. Pode, eventualmente, é tirar a alguns a vontade de contribuir. E isso sim, é preocupante.