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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

E o burro sou eu?!

Kruzes Kanhoto, 30.06.11

MárioSoares terá dito em certa ocasião, à laia de justificação paraalguma incoerência no seu discurso, que apenas os burros não mudamde ideias. É uma tirada que gosto de citar, até porque não tenhoreceio absolutamente nenhum de mudar de opinião quando me demonstram– ou descubro por mim – que estou equivocado. Há, no entanto,assuntos acerca dos quais ninguém me consegue “desmontar daburra”. Por mais que ilustres entendidos nas matérias alvo daminha casmurrice se esforcem em demonstrar quanto o meu entendimento,relativamente à matéria em apreço, apresenta graves falhas. Pode,até, ser assim. Aceito que, sendo um leigo em quase tudo –ignorante, vá – não terei grandes argumentos académicos paracontraditar os detentores da sabedoria. O pior – infelizmente,porque nem sempre fico satisfeito por ter razão – é que o tempoacaba por demonstrar que, afinal, os experts não são assim tãoespertos.
Vemisto a propósito do programa de governo apresentado hoje.Nomeadamente da ideia peregrina de criar um imposto extraordináriosobre o subsidio de natal. Ando há anos a escrever neste blogue –e noutros espaços onde vou mandando uns bitaites – que não seráretirando dinheiro às famílias, seja aumentando impostos, baixandosalários ou inventado outras manigâncias, que o problema do déficedo Estado se resolve. Esta receita é velha e está mais que provadaa sua ineficácia perante os objectivos que quem a implementapretende atingir. Basta ver que tem sido aplicada continuamente nosúltimos dez anos com o sucesso que se conhece.
Aindaassim Passos Coelho e os restantes rapazolas que o rodeiam insistemem trilhar este caminho. Com o aplauso, quase envergonhado, de muitagente com idade para ter juízo. Uns e outros deviam saber que existeum ponto a partir do qual as pessoas não estão dispostas a pagarmais impostos. Ou não querem. Ou não podem. Ou, como dizia um quetambém revela uma especial queda para o bitaite, há limites para ossacrifícios. E esse ponto está prestes a ser deixado para trás.Com as consequências que não são difíceis de imaginar. E o burrosou eu?!

Parecenças e desconfianças

Kruzes Kanhoto, 27.06.11

Repete-seaté à exaustão que Portugal não é como a Grécia e que asrealidades dos dois países não são comparáveis. Há um ano, pelomenos, que ando a ouvir esta conversa. Não sei porquê, desconfio.Longe de mim pensar que o facto de andarmos uns meses atrasados emrelação ao gregos, no que diz respeito intervenção do FMI eassociados, não seja mais do que uma simples coincidência. Ou,sequer sugerir, que os pormenores que vão sendo conhecidos acerca dodelírio colectivo que afectará a sociedade grega têm a mais leveparecença com a realidade nacional.
Provavelmenteinspirada por uma reportagem publicada pelo jornal espanhol El Mundohá cerca de uma semana, a escandalizada repórter TVI em Atenasanunciava, como exemplos do que teria contribuído para o actualestado de coisas, que um hospital com três árvores no pátio teriaquarenta e sete jardineiros, um organismo que dispõe somente de umaviatura terá ao seu serviço quase meia-centena de motoristas, queas filhas solteiras de funcionários públicos falecidos auferem umapensão vitalícia de mil euros mensais e que um em cada quatrogregos não pagam impostos.
Nadadisto, obviamente, ocorre por estas paragens. As noticias do que porcá se vai passando, dão-me apenas conta da existência de hospitaiscom muitos mais administradores do que jardineiros contratados emregime de outsourcing. Ou, quase todos os dias, da renovaçãocompleta da frota automóvel – invariavelmente topo de gama – demais uma empresa pública. De vez em quando surge também uma ououtra noticia mais discreta que revela estimativas onde se consideraque a economia paralela representará perto de vinte cinco por centodo PIB. Ciclicamente vão igualmente surgindo informações sobrequanto o país gasta com os políticos - aqueles que adquiriram odireito, porque para os outros a mama já acabou - que se vãoaposentando após oito penosos anos de actividade. A maioria, ao quese sabe, vale por algumas celibatárias gregas.
Comoestá fácil de ver, não há mesmo comparação possível entre aGrécia e Portugal. Eu é que sou desconfiado.

Não será pedir demais?

Kruzes Kanhoto, 26.06.11

Talvezpor o número de cães existentes nas zonas urbanas, partilhando omesmo espaço que as pessoas, constituir já uma calamidade, sãocada vez mais aqueles a quem desagrada a javardice em que se tornaramos passeios, zonas ajardinadas e outros espaços públicos, provocadapela falta de civismo, higiene e educação de grande parte dosdonos.
Daínão surpreender que, de vez em quando, surja um ou outro conflito,ou troca de opiniões mais exaltada, entre o gajo – ou gaja - quepasseia o canito e não recolhe o presente que este deixou e alguém,mais consciente do seu direito a ter uma rua limpa, que lhes chama aatenção. Uma imensa maioria prefere, por enquanto, ir chamandonomes em surdina, reclamando contra as autoridades que nada fazem oudeixando recados. Como este, que fotografei numa rua de Estremoz.

Estacionamento tuga

Kruzes Kanhoto, 25.06.11
Estenão é um típico estacionamento tuga. Vai além disso. Envolve uma“garagem” improvisada visando proteger o pópó do tórrido solalentejano que fustiga, sem dó nem piedade, o indefeso rodinhas.Está, reconheço, bem pensado. Melhor só se a coisa fosse portátil,coubesse na bagageira e pudesse ser montada e desmontada sempre quehouvesse necessidade da viatura se deslocar. Isso é que era umagrande ideia.

Falência com muita técnica

Kruzes Kanhoto, 24.06.11
Onúmero de famílias que declararam insolvência está a ter umaumento assinalável relativamente ao ano anterior. Embora ascircunstâncias que levam um agregado familiar a optar por pedirajuda ao tribunal possam ser muito respeitáveis, acredito que, pelomenos em algumas situações, estaremos perante mais um caso dechico-espertismo tão característico na sociedade portuguesa.
Quemé declarado insolvente vê a sua vida ser gerida, durante cincoanos, por alguém nomeado pelo tribunal. Durante este período, emprincipio, os seus rendimentos ou eventuais bens que possua, serãopreferencialmente utilizados para saldar as dividas acumuladas. Oque, convenhamos, para quem nada tem de seu, ganha pouco e devemuito, constitui um verdadeiro euro milhões. Até porque, findo esteprazo, fica completamente livre de dividas e nada o impede de voltarao antigo estilo de vida.
Trata-se,portanto, de mais uma genialidade legislativa em que o infractor sainitidamente beneficiado. Nem se pense que o credor – o gajo que selixa nesta história - é sempre o malvado do banco e que é muitobem feito para não serem alarves e andarem por aí a obrigar aspessoas a contrair empréstimos. Pode ser qualquer um. Desde o fulanoda mercearia da esquina, que graças aos devedores não conseguecumprir as suas obrigações, ao senhorio que alugava a casa e vê avida andar para trás porque o investimento que fez num apartamentopara alugar acabou, afinal, por ser mais rentável para os aldrabões a quem o arrendou do que ao próprio.
Comocomecei por referir, as razões que levam alguém a percorrer estecaminho podem ser do mais atendíveis que se possa imaginar.Acredito, também, que não será uma situação fácil de viver epela qual a esmagadora maioria não gostaria de passar. Mas, comodizia o outro, para quem não tem vergonha é uma barrigada de rir. Edesses – dessas, também – não faltam por aí.

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