E o burro sou eu?!
Kruzes Kanhoto, 30.06.11
MárioSoares terá dito em certa ocasião, à laia de justificação paraalguma incoerência no seu discurso, que apenas os burros não mudamde ideias. É uma tirada que gosto de citar, até porque não tenhoreceio absolutamente nenhum de mudar de opinião quando me demonstram– ou descubro por mim – que estou equivocado. Há, no entanto,assuntos acerca dos quais ninguém me consegue “desmontar daburra”. Por mais que ilustres entendidos nas matérias alvo daminha casmurrice se esforcem em demonstrar quanto o meu entendimento,relativamente à matéria em apreço, apresenta graves falhas. Pode,até, ser assim. Aceito que, sendo um leigo em quase tudo –ignorante, vá – não terei grandes argumentos académicos paracontraditar os detentores da sabedoria. O pior – infelizmente,porque nem sempre fico satisfeito por ter razão – é que o tempoacaba por demonstrar que, afinal, os experts não são assim tãoespertos.
Vemisto a propósito do programa de governo apresentado hoje.Nomeadamente da ideia peregrina de criar um imposto extraordináriosobre o subsidio de natal. Ando há anos a escrever neste blogue –e noutros espaços onde vou mandando uns bitaites – que não seráretirando dinheiro às famílias, seja aumentando impostos, baixandosalários ou inventado outras manigâncias, que o problema do déficedo Estado se resolve. Esta receita é velha e está mais que provadaa sua ineficácia perante os objectivos que quem a implementapretende atingir. Basta ver que tem sido aplicada continuamente nosúltimos dez anos com o sucesso que se conhece.
Aindaassim Passos Coelho e os restantes rapazolas que o rodeiam insistemem trilhar este caminho. Com o aplauso, quase envergonhado, de muitagente com idade para ter juízo. Uns e outros deviam saber que existeum ponto a partir do qual as pessoas não estão dispostas a pagarmais impostos. Ou não querem. Ou não podem. Ou, como dizia um quetambém revela uma especial queda para o bitaite, há limites para ossacrifícios. E esse ponto está prestes a ser deixado para trás.Com as consequências que não são difíceis de imaginar. E o burrosou eu?!