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Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

Kruzes Kanhoto

Ainda que todos, eu não!

O tempo, o dinheiro e a fauna

Kruzes Kanhoto, 30.05.11
Faz-me confusão que existam pessoas que gostem de ir às compras. Por mim acho insuportável. Nomeadamente quando se trata dessa invenção a que chamam superfícies comerciais. Grandes ou pequenas. Por todos os motivos. Assim, de repente, são estes – mais podiam ser mais – os que me ocorrem: O tempo que se perde, o dinheiro que se gasta e a fauna que se encontra. Principalmente aquela fauna que não acredita em pagamentos electrónicos nem em listas de compras. 
Quanto aos primeiros motivos, não há nada a fazer. São daquelas inevitabilidades que apenas posso lamentar. Não sou auto-suficiente em nenhum produto de que necessito para viver, daí que tenha de recorrer ao mercado para suprir as minhas necessidades. Para meu desapontamento a consequência é ver o dinheiro a esfumar-se da carteira a uma velocidade muito superior ao desejável. Isto apenas porque ninguém me dá nada, nem tenho o hábito de surripiar os bens que me fazem falta. 
Por último, mas não menos importante, a fauna que frequenta esses lugares. Nomeadamente aquela – porque a outra não faz grande diferença – que tem a mania de complicar na zona da caixa. Ou porque não acha, no fundo da carteira, as moedas que perfaçam a quantia exacta que corresponde ao pagamento ou, como hoje, o esparveirado que estaciona o carrinho na fila, continua a fazer compras e quando volta, alguns minutos depois, fica desagradado ao constatar que foi ultrapassado. É o que dá não levar uma cábula com os produtos em falta, ou próximo do ponto de rotura, na despensa lá de casa. Por isso, esparveirado aborrecido por ter ficado para trás na fila do Continente, para a próxima diz à Maria que, em vez de ligar para o telemóvel para não te esqueceres das batatas, faça a lista das compras.

A maldição do pepino

Kruzes Kanhoto, 29.05.11
Diz que os pepinos, nomeadamente os espanhóis, andam envenenados. No entanto, garantem-nos os gajos que sabem destes assuntos, não há que ter receio. É que, parece, somos auto-suficientes em matéria de cucumis sativus e, como tal, não os importamos. Nem de Espanha nem de nenhum outro lado. O que, apesar de estranho, esperemos seja verdade. 
Por mim estou tranquilo. Mas só relativamente. Não gosto de pepino, mantenho as rodelas que me aparecem na salada a uma prudente distância e, se as alegadas bactérias que infestam o fruto alegadamente contaminado não se propagarem para além dele, penso que poderei considerar-me a salvo. 
Temo, no entanto, que não seja bem assim. Face a outras utilizações que por cá se dão ao citado vegetal, nomeadamente em matéria de beleza, começo a encontrar nesta problemática do pepino a explicação para a elevada percentagem de eleitores que manifestam intenção de votar no Sócas. Afinal as pessoas não estão loucas. Andam é a fazer tratamento caseiro para combater as olheiras e os efeitos provocados pelos irritantes seres microscópicos, mesmo quando não são ingeridos, revelam-se igualmente perniciosos. Bem feita. Ninguém nos manda ser vaidosos. 

PS (livra!) - Rima, mas espero que não seja verdade.

Memorando a quanto obrigas

Kruzes Kanhoto, 27.05.11
Há quem insista em vender a ideia que o poder local gere os recursos colocados à sua disposição – sempre poucos, segundo se apressam a alegar – muito melhor do que a administração central. Pode, até, ser verdade. Mas isso não quer dizer que a nível autárquico o dinheiro dos contribuintes – do concelho, portugueses em geral ou europeus – seja convenientemente administrado. Pelo contrário. Por norma, é muitíssimo mal-gerido. Só assim se explica que o volume total do endividamento liquido acumulado pelos municípios, à data de trinta de Setembro do ano passado, fosse de 3.696 milhões de euros. E desconfio que, de então para cá, a tendência não terá sido no sentido descendente. 
Muitos dos que não tem a gestão dos municípios portugueses em grande conta, concedem que o peso do endividamento autárquico não terá importância significativa no peso total no défice das contas nacionais. Hesito quanto a isso. Principalmente quando se lê atentamente o “memorando”  - o  tal que ninguém discute e todos preferem ignorar - e se faz um pequeno exercício matemático leva-nos a concluir, com facilidade, que o peso do défice autárquico não é assim tão negligenciável como alguns querem fazer crer. 
O desvario com que a generalidade das autarquias tem sido governada está, no entanto, prestes a chegar ao fim. Nos dois próximos anos os municípios portugueses vão receber menos 525ME mas, mesmo assim terão de reduzir o actual nível de endividamento. O que vai constituir um desafio interessantíssimo para autarcas habituados a gastar sem controlo, sem limite e muitas vezes sem critério. O pior, embora poucos acreditem nisso, é que vai mesmo de ter que ser assim. Senão a tia Merkel – rabugenta e chata – não manda o dinheirinho para a malta se ir governando.

A manif dos mal apessoados

Kruzes Kanhoto, 26.05.11
Não consigo ter grande simpatia pelos ajuntamentos, alegadamente espontâneos, que vão ocorrendo nos locais mais emblemáticos de diversas cidades europeias. A minha falta de entusiasmo relativamente a estas manifestações nada tem a ver com os propósitos das mesmas ou com as ideias defendidas pelos manifestantes. Sejam as ideias e os propósitos quais forem. Até porque, nem eles sabem ao certo que motivos devem alegar para estar ali. Estão porque sim e isso parece-lhes suficiente. 
O que verdadeiramente me desagrada – e surpreende ainda mais - é que nestes encontros a esmagadora dos participantes seja gente mal-vestida, de especto esquisito e com manifesta aversão a hábitos de higiene. Mal apessoada, em suma. A coisa piora ainda mais quando abrem a boca. Independentemente do provável mau-hálito, utilizam um discurso próprio de alguém que vive numa espécie de realidade paralela. Ou que está sob o efeito de um qualquer produto cujas propriedades não potenciam a eloquência do discurso nem a clarividência do raciocínio. 
Constitui um verdadeiro enigma, talvez seja mesmo um caso a estudar, que nestas concentrações não participe gente com as ideias em ordem, razoavelmente vestida e que entre os seus costumes inclua um banho de vez em quando. A ausência destes atributos parece ser até uma das condições exigíveis para participar naquilo. É por isso que me arrisco – e desta vez com a certeza de não errar – que palhaçadas destas não vão a lado nenhum. A não ser para casa. De onde nunca deviam ter saído.

Ignorância selectiva

Kruzes Kanhoto, 24.05.11
Pedro Passos Coelho manifestou, não sei ao certo quando mas foi um dia destes, o seu desagrado perante o que considerou ser o facilitismo das Novas Oportunidades e a maneira como rapidamente se obtém um diploma ao abrigo daquele programa. Salientou, inclusive, que se trata tão somente de certificar a ignorância. Embora, mais tarde e perante o aproveitamento politico que os adversários fizeram da questão, tenha vindo esclarecer que não era bem isso que queria dizer e que a intenção foi denunciar as acções propagandisticas patrocinadas pelo governo. 
Terá PPC alguma razão quanto a esta matéria. Muita, até. Toda, pronto. Mas podia ter alargado o seu conceito de ignorante a muita outra gente – jovem, praticamente toda – que conclui o nono ano sem saber ler ou escrever. Malta que apenas frequenta um estabelecimento de ensino porque a isso é obrigada, que só vai à escola para roubar, agredir ou para que os pais recebam o rendimento mínimo e tenham assim um meio fácil de subsistência sem se esforçar muito. Toda uma imensa cambada que, no fim, leva como prémio um certificado do nono ano de escolaridade. E nem vale a pena a intelectualidade contrapor com argumentos bonitos e muito rebuscados, porque toda a gente sabe que é assim. 
Veja-se o caso de um vídeo que corre pela Internet, em que duas alunas agridem uma terceira, e que terá sido feito e colocado on-line por um jovem de dezoito anos que, segundo rezam as crónicas, terá o sétimo ano de escolaridade e frequentará um curso profissional. Que, suponho, no final lhe garantirá o nono ou mesmo o décimo segundo ano. Para PPC, presumo, neste caso, não estaremos a certificar a ignorância. Quero acreditar que ele será, no final do curso, um excelente profissional naquilo que aprendeu – realização cinematográfica, por exemplo – mas daí a merecer o certificado do ensino secundário, vai uma grande diferença. Entre o diploma deste jovem e o de um adulto das Novas Oportunidades, por mais que me esforce, não vislumbro diferença significativa. Mas isso sou eu, que não passo de um ignorante. Já PPC simplesmente ignora esta realidade. E outras, também.

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